Jorge Vaz Gomes estreia este sábado (21 horas) o documentário “Soldado Nobre” no auditório municipal do Sabugal. Filmado entre 2014 e 2019, entre Portugal e França, por ocasião do centenário da Primeira Guerra Mundial e da participação portuguesa no conflito, o filme conta a história da procura por um bisavô através de uma frágil fotografia guardada numa gaveta durante 100 anos.
A imagem é de um grupo de soldados do Regimento de Infantaria 12, sediado na Guarda, antes de seguirem para as trincheiras da Flandres francesa. Entre eles estão vários jovens naturais de Alfaiates, aldeia do concelho do Sabugal, um dos quais é Francisco Nobre, o bisavô do realizador guardense. Como nenhum familiar conseguiu identificá-lo, Jorge Vaz Gomes foi literalmente à sua procura nos registos da participação portuguesa na Grande Guerra (1914-18), criando um documentário sobre «estes homens, como se vivia na altura e porque é que foram para a guerra». Em 1917, Francisco Nobre foi enviado para França para integrar o Corpo Expedicionário Português (CEP), anos depois de ter ficado órfão e de, aos 19 anos, se ter alistado no exército por não ter outro meio de subsistência.
Na guerra, o soldado Nobre sobreviveu à Batalha de La Lys, considerada uma das piores derrotas militares de Portugal, mas, meses depois, foi vítima de um ataque com gases e declarado inapto, tendo regressado a Lisboa 14 dias antes do armistício e do fim do conflito. Morreu em 1923, devido «a problemas nos pulmões», após uma vida «completamente desgraçada, cheia de sofrimento, nos anos após a guerra ficou alcoólico, violento e tinha pesadelos constantes», lembrou o realizador a O INTERIOR em 2018.
«No filme há a busca que faço para ver qual deles é que tem a cicatriz no maxilar. Há também algumas entrevistas com pessoas de Alfaiates que tentam identificar o meu bisavô na imagem e não conseguem», adiantou o realizador a O INTERIOR em 2018, referindo que também recolheu «algumas histórias antigas» na localidade. Jorge Vaz Gomes considera que o bisavô não fez «nada de heroico», pelo que o documentário “Soldado Nobre” também pretende homenagear os soldados que lutaram nas trincheiras e acabaram esquecidos. «Nem sequer são notas de rodapé. É triste que fiquem só os nomes dos generais ou dos heróis. Mas todos estes homens, que foram carne para canhão, desaparecem completamente da história e da memória», lamentou o realizador. Depois do Sabugal, a primeira longa metragem de Jorge Vaz Gomes, produzida pela Kintop, será exibida no dia 13 no cinema City Alvalade, em Lisboa, e na Casa do Cinema de Coimbra.
Documentário “Soldado Nobre” estreia sábado no Sabugal
Realizador guardense Jorge Vaz Gomes homenageia bisavô e soldados portugueses que combateram na Primeira Guerra Mundial