Cultura

Centro Cultural quer continuar a ser «o maior embaixador» da Guarda

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Escrito por Efigénia Marques

José Neves, ator consagrado do Teatro Nacional D. Maria IIª, regressou à Guarda para participar na sessão comemorativa dos 60 anos da coletividade onde deu os primeiros passos, mas como músico

Foi uma flauta transversal que abriu as portas do Centro Cultural da Guarda a José Neves. O ator consagrado do Teatro Nacional D. Maria IIª regressou à cidade mais alta no sábado para participar na sessão comemorativa dos 60 anos da coletividade onde deu os primeiros passos, mas como músico.
«Sem o Centro Cultural eu não estaria aqui», começou por dizer, confidenciado que tinha 15 anos quando entrou pela primeira vez na coletividade por causa de uma flauta transversal. «Encontrei um senhor chamado Zé Maria [Pinto David], um senhor gigante, com um grande sobretudo preto e uns óculos de massa, que me perguntou o que queria. Disse-lhe que sabia que havia uma flauta transversal e que eu tocava flauta de bisel, a partir desse dia não deixei de estar no Centro Cultural nem uma hora», recordou José Neves. «Ninguém me perguntou como me chamava mas passei a integrar aquela “família”. Fazia um pouco de tudo e a confiança foi tal que, certo dia, me deram a chave para fechar a porta ao final da noite e eu ficava a ensaiar e a tocar… Foi uma chave de confiança», agradeceu muitos anos depois.
No Centro Cultural José Neves conheceu os guitarristas Rogério Pires e Zé Tavares, mas também Leonel Valbom e Élia Fernandes. Com estes últimos acabou por formar um trio de música clássica, que seguia o orfeão para todo o lado. Depois deu de caras com um pequeno cartaz a anunciar a primeira peça do Aquilo Teatro, que estava a começar, intitulada “Mário, ou eu próprio e o outro”, de José Régio. Foi ali que se cruzou também com Américo Rodrigues, que ensaiava no salão nobre do Centro Cultural e o convidou a tocar na peça. «Assim fiz a primeira peça do Aquilo, que muito deve também ao Centro Cultural. O Américo dizia muitas vezes que “sem isto o frio mata-nos”, este apoio que o Centro Cultural nos deu foi muito importante. Naquela altura era um espaço com gente muito diferente numa cidade em que às nove da noite não havia ninguém nas ruas», lembrou José Neves, que depois foi estudar Física para Coimbra mas acabou por dedicar-se ao teatro.
Fundado a 17 de novembro de 1962, o Centro Cultural da Guarda é hoje a maior associação cultural da região Centro do país. Um estatuto que, para o presidente Albino Bárbara, deve ser inspirador e motivador. «O trabalho cultural no interior começa comigo, consigo, e tem que ser feito e executado por todos os poderes. No Centro Cultural tudo faremos para manter viva a chama do associativismo defendendo o processo cultural neste interior profundo», disse o dirigente, sublinhando que a coletividade «é o maior embaixador da cidade e da região». Por sua vez, José Valbom, presidente da Assembleia Geral, lembrou que viabilizar projetos culturais é um trabalho difícil, mas que não é de agora. «Não foi fácil, não é fácil, nunca vai ser fácil, iniciar e garantir sustentabilidade a projetos culturais, será sempre uma tarefa difícil e de enorme esforço, mas muito gratificante», afirmou, enquanto Sérgio Costa, presidente da Câmara da Guarda, não se poupou a elogios à atividade e a quem tem feito o Centro Cultural da Guarda nestes 60 anos. «Tem cumprido com distinção, honra e relevo a sua nobre missão em prol da cultura da Guarda. Poucas instituições souberam prosseguir os objetivos de ensinar, preservar as nossas tradições e levar a cultura a todo o concelho, à região e ao país, como vós. Estes 400 guardenses que colaboram com o Centro Cultural merecem o nosso reconhecimento pela sua abnegação e total empenho, diria mesmo que sois os nossos “anjos da Guarda” em termos culturais», considerou o autarca.
A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social encerrou a sessão para sublinhar que a Cultura tem contribuído para afirmar a Guarda, mas foi também mobilizadora de grandes investimentos, como o TMG. O Centro Cultural é «um exemplo de resistência, de dedicação, de serviço público e de descoberta dos talentos individuais de quem por aqui passou, mas também da construção do património cultural coletivo que marca a Guarda», disse Ana Mendes Godinho, para quem a cultura é «fator decisivo de coesão social, mas também de afirmação da Guarda» através de «grandes investimentos estruturantes», como o TMG, a Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (BMEL) ou o Centro de Estudos Ibéricos (CEI). Segundo a governante, estes projetos foram o resultado da «articulação entre uma visão local e o poder central» e fizeram «a diferença do ponto de vista da transformação do território».
A sessão comemorativa dos 60 anos do Centro Cultural da Guarda ficou ainda marcada pela estreia do filme que resume numa hora a atividade da instituição, que envolve atualmente 400 pessoas entre professores, colaboradores, trabalhadores, associados e participantes nas atividades letivas e nos grupos de música tradicional, coral, popular e rock.

 

Luís Martins

Sobre o autor

Efigénia Marques

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