P – Até onde são capazes de ir os professores para reivindicar os seus direitos? R – Enquanto dirigentes sindicais levaremos a voz e a vontade dos professores às negociações para encontrarmos as soluções que neste momento são urgentes e justas. São tantos os problemas que sufocam os docentes que sobram razões para lutar. O sentimento de desrespeito pelos seus direitos e pelas suas condições de trabalho, a desvalorização permanente do seu papel perante a sociedade e a ausência de negociação na anterior legislatura, levou os professores a transformarem a sua indignação e revolta em diferentes formas de exigir respeito. Ao lutar estão a exigir soluções para os seus problemas e para o estado em que se encontra o sistema educativo em Portugal, que se reflete, de forma preocupante, na falta de professores. Este é o momento da expressão legítima de toda uma classe profissional, que chegou ao seu limite e cujo descontentamento tem motivado manifestações, vigílias e greves com níveis de adesão históricos, envolvendo todos num protesto único. Só um posicionamento diferente e uma negociação efetiva, por parte do Ministério da Educação e do Governo, perante problemas como as questões da carreira, do tempo de serviço não contabilizado, da precariedade e vínculos, dos horários e condições de trabalho, da mobilidade por doença e aposentação, poderá resolver e apaziguar à mesa das negociações. Do lado do Governo estão, portanto, as soluções. A FENPROF tem total disponibilidade para negociar, mas serão sempre os professores a decidir os contornos e os limites dessa negociação, bem como as formas de protesto a desenvolver. A melhor luta é a que não tem que se fazer porque se atingiram os objetivos, mas, pelo andamento das negociações, a luta está para continuar, para já, até 8 de fevereiro com as greves por distrito e uma grande manifestação nacional a 11 de fevereiro.
P – E quanto à união das várias forças sindicais? Como vê esta aproximação? R – A união de nove sindicatos de professores constituiu-se para termos mais força juntos, para falarmos a uma só voz, porque os objetivos são comuns. Já no passado foi necessário conjugarmos esforços nos protestos e nas negociações e, por isso, não é inédito. A FENPROF requereu que a próxima negociação se realize numa mesa única em que todos os sindicatos participem, para que a força negocial seja maior.
P – Qual é o caso/situação de professores mais preocupante de que tem conhecimento? R – São duas. A primeira é a perpétua precariedade, real flagelo que leva um professor a cumprir em média 16 anos de serviço até vincular. São quase duas décadas de contínuos contratos a prazo, com salários baixos a completar horários em várias escolas e longe da família até entrar para os quadros. No atual contexto de negociações sobre o regime de concursos ainda não foram apresentadas propostas para resolver os problemas da instabilidade profissional. A segunda situação prende-se com o regime de mobilidade por doença que foi alterado para uma modalidade de concurso tão desumana e injusta que gradua doenças por nível de incapacidade e abre vagas por grupo, tendo deixado de fora quase 3.000 professores. Reverter esta injustiça é garantir o cumprimento do que está previsto na Constituição no que diz respeito ao direito à proteção na doença.
P – E quais são as suas expectativas para a manifestação do dia 11? R – São altas pelas inscrições que nesta data já temos. Estabelecemos o objetivo de levarmos, no mínimo, um autocarro por escola e devemos ultrapassar esse número. Contamos com uma enorme participação, expressão de uma grande revolta e indignação, sentimentos que também os professores da Guarda vão transportar para esta grande manifestação nacional em defessa da profissão docente em Lisboa. __________________________________________________________________ Sofia Monteiro
Idade: 56 anos Naturalidade: Lisboa Profissão: Professora Currículo: Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Coimbra; professora do Agrupamento Afonso de Albuquerque; coordenadora da direção distrital da Guarda do Sindicato dos Professores da Região Centro e membro do Conselho Nacional da FENPROF Livro preferido: “A cabana do pai Tomás”, Harriet Beecher Stowe Filme preferido: “Cinema Paraíso”, de Giuseppe Tornatore Hobbies: Ler, desporto