P – Como está atualmente o setor empresarial nos concelhos da Covilhã, Belmonte e Penamacor?
R- O tecido empresarial nestes concelhos enfrenta vários constrangimentos, sobejamente conhecidos, muito dos quais relacionados com a interioridade e próprios dos territórios de baixa densidade empresarial e populacional, que urge combater. Mas tem também grandes potencialidades, assim como empresas e empresários valorosos. Grande parte do tecido empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor, tal como na Beira Interior, corresponde a empresas resilientes que souberam vencer a difícil conjuntura económico-financeira que afetou o país, com grande impacto no interior. Mantiveram-se, em contraciclo, num território onde consegui-lo e recuperar é bem mais difícil devido aos custos de contexto ou ao problema galopante da desertificação e do envelhecimento. A esse grupo de empresários resilientes têm-se vindo a juntar outros, sobretudo nas áreas ligadas ao turismo, setor que no nosso território tem uma margem enorme de crescimento. O desenvolvimento do setor agroalimentar, com valorização dos produtos endógenos, é outro dos aspetos importantes. Um dos grandes ativos que temos é, por exemplo, o “savoir-faire” nos têxteis, no agro ou no vestuário e que é preciso potenciar. A Associação Empresarial está cá para auxiliar os empresários e ajudá-los a construir um território mais competitivo e empreendedor, com maior inovação e modernização. Mas também é preciso que, de uma vez por todas, o poder central tenha a coragem política de implementar uma estratégia concertada capaz de travar a desertificação. Sem pessoas não há empresas, sem empresas não há pessoas.
P- Quais são as maiores dificuldades das empresas?
R- São esses constrangimentos relacionados com a interioridade. Os diagnósticos estão mais que feitos. Os empresários e a Associação Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor estão determinados em fazer o seu trabalho e, cada vez mais, focados em fatores como a inovação, a internacionalização, a qualificação, a formação dos seus recursos humanos ou o marketing. Mas isso não chega: é preciso da parte do poder central mais investimentos e incentivos, assim como a criação de um pacote fiscal capaz de, em primeiro lugar, reter quem já cá está e atrair mais empresas, pessoas e investimentos. O que temos assistido é ao anúncio de medidas avulsas, que são melhor que nada, mas não são suficientes para uma mudança estruturante. No caso das portagens, o novo regime de redução que abrange os pesados de mercadorias não basta, só a abolição total pode ajudar a desencravar a nossa região. O número de empresas que vai beneficiar da redução é diminuto, pelo que a medida não terá grande impacto e nem será capaz, por si só, de atrair mais pessoas, turistas ou empresas. É uma medida que deixa de fora a maioria das empresas do nosso território, que também precisam de se deslocar na A23 e A25 nos seus negócios. Por outro lado, naturalmente que estamos expectantes em relação à Secretaria de Estado da Valorização do Interior, ao reinvestimento na Linha da Beira Baixa, ao IC31 e ao recém-anunciado Centro de Inovação do Turismo na Covilhã.
P- O que pode fazer para resolver ou minimizar esses problemas?
R- A direção a que presido tomou posse há apenas pouco mais de um mês, mas já estamos a implementar um Gabinete de Apoio à Inovação, numa aposta forte no estímulo à competitividade e ao desenvolvimento de produtos e serviços que capacitem as PME associadas na progressão da cadeia de valor. O agora anunciado Centro de Inovação em Turismo vem em boa hora e a AECBP está disponível para colaborar com este novo organismo. Entretanto, reabrimos o Gabinete Jurídico e assinámos já perto de duas dezenas de protocolos, os primeiros a integrar o novo Programa de Benefícios às Empresas Associadas, que se materializa num cartão de descontos em áreas como negócio, banca, saúde, publicidade e muito mais. Também lançámos um novo website e uma nova imagem corporativa, que reflete as origens da Associação, numa homenagem ao seu quase século de história. A AECBP está ainda a auscultar os associados para melhorarmos os nossos serviços, ajudarmos a resolver os seus problemas e auxiliá-los nos novos desafios.
P- Quantos associados tem a AECBP?
R- Atualmente são 350 empresas associadas, da indústria, do comércio, dos serviços e do turismo. Mas estamos a trabalhar para aumentar este número.
R- E como está financeiramente?
R- Temos uma situação económico-financeira difícil. Estamos presentemente a renegociar a dívida, que é de 230 mil euros, e a delinear uma estratégia com vista à recuperação financeira da AECBP.
P- Iniciou recentemente o mandato na presidência da direção, o que o levou a aceitar o desafio?
R- Como empresário e covilhanense que acredita neste território e no seu tecido empresarial, aceitei porque considero que chegou a hora de dar o meu contributo à AECBP e à região, sobretudo no momento particular que ela atravessa. Outro fator determinante foi a equipa que me acompanha: é jovem e simultaneamente experiente, dinâmica e eclética, com as competências certas e uma enorme disponibilidade para a causa. Estou convicto de que juntos, equipa e empresas associadas, recolocaremos a AECBP no lugar de excelência que ela merece no panorama local, regional e até nacional, contribuindo mais e melhor para o enriquecimento e desenvolvimento da nossa economia.
P- Quais são as suas prioridades?
R- Uma delas é a recuperação financeira. A criação e consolidação de novos serviços, instrumentos e ferramentas será outra prioridade. Neste momento merecem especial atenção o novo Gabinete de Apoio à Inovação e o Programa de Benefícios às Empresas Associadas. Outra das apostas está na relação com o exterior, através da comunicação e marketing, com a criação de uma newsletter mensal e de uma revista trimestral. Para 2019 temos previsto três grandes certames, um em cada concelho. Privilegiaremos ainda a aproximação aos associados para uma maior participação na construção do nosso futuro coletivo e, como já referi, o diálogo permanente com os agentes económicos regionais, com voz ativa junto do poder local e central, na luta pelos interesses dos empresários e da região.
Perfil de Henrique Gigante:
Presidente da Associação Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor
Idade: 36 anos
Profissão: Designer gráfico/ empresário
Currículo: Detém duas agências de comunicação na Beira Interior: a Gigarte (instalada no Parkurbis da Covilhã e criada em 2011) e outra em Figueira de Castelo Rodrigo desde 2018. Foi gerente de lojas de vestuário, trabalhou no setor imobiliário e ainda na área comercial. Foi presidente da direção do CCD Estrela do Zêzere, da Boidobra.
Livro preferido: “Pai Rico, Pai Pobre”, de Robert Kiyosaki e Sharon Lechter
Filme preferido: “Cinema Paraíso”, de Giuseppe Tornatore
Hobbies: Estar com amigos e família