Cara a Cara

«Os serviços de saúde continuam a agravar-se de modo vertiginoso no distrito por falta de recursos financeiros e humanos»

Escrito por Jornal O Interior

Entrevista a José Manuel Rodrigues, reeleito Presidente do Conselho da Sub-Região da Guarda da Ordem dos Médicos

P – Foi reeleito presidente do Conselho da Sub-Região da Guarda da Ordem dos Médicos. Quais são as suas prioridades?

R – Foi definido, não só por mim, mas por este Conselho Sub-Regional recém-eleito, que as nossas prioridades seriam promover, facilitar e agilizar uma eficaz transmissão das dificuldades, problemas, dúvidas e sugestões dos médicos do distrito junto dos órgãos centrais da Ordem dos Médicos. Pretendemos também informar, sensibilizar e aglutinar a classe médica do distrito em torno desta nova direção, que quer ser dinamizadora, inovadora e aglutinadora de toda a classe médica. Manter esforços para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde da população da região, envolvendo a Ordem em todas as discussões que visem esse fim, é outra das prioridades. O contributo de todos os médicos da região é indispensável, não só como um pilar fundamental na prestação desses cuidados, mas também como pensadores de soluções na defesa dos doentes e dos seus cuidados. Não há boas soluções que não passem por uma discussão séria e construtiva com a nossa classe.

P – Como caracteriza a classe médica do distrito da Guarda?

R – A classe médica do distrito é constituída por profissionais de extrema competência e dedicação. Cada vez mais temos colegas com formação moderna e capazes de contribuir para cuidados de saúde de ponta. Infelizmente, continuamos a ser poucos e cada vez mais envelhecidos, por isso poderemos ainda ser mais deficitários nos próximos tempos. Terá de haver um grande esforço da tutela para inverter esta situação. Nos últimos anos, temos assistido a um aumento do número de internos que escolhem o nosso distrito para realização da sua formação especializada, facto que poderá contribuir, caso a tutela permita a sua permanência após a conclusão da especialidade, para melhorar os cuidados de saúde prestados à população.

P – E quais são os seus principais problemas?

R – Há défice de profissionais, dispersão e idade envelhecida da população, bem como falta de centros de referência. Faltam também infraestruturas modernizadas, por vezes há infraestruturas completamente degradadas, sem os mínimos exigidos para o exercício de uma medicina de qualidade. Outro problema é a inexistência de incentivos para atrair profissionais para a nossa região.

P – A falta de especialistas tem-se agravado no Hospital da Guarda. Acha possível reverter, algum dia, a situação? Como?

R – A situação só poderá ser revertida com políticas de diferenciação positiva para o interior e para a classe, nomeadamente incentivos fiscais, remuneratórios e de progressão de carreira. Devem também ser criados os centros de referência e implementadas políticas locais e nacionais adequadas às nossas dificuldades.

P – Os serviços de Saúde continuam, ou não, a agravar-se na região devido à falta de meios e de recursos financeiros?

R – Continuam a agravar-se de um modo vertiginoso. É fundamental um incremento de meios e de recursos financeiros para atrair novos médicos para a nossa região, caso contrário haverá serviços que entrarão em colapso definitivo.

P – Também acha que há uma estratégia para desgraduar o Hospital Sousa Martins no contexto da Beira Interior?

R – Não quero acreditar que exista, mas tudo nos leva a pensar que possa existir, facto que, juntamente com uma eventual falta de força política local ou da própria administração, faz com que o nosso hospital seja desfavorecido em relação aos limítrofes. Vejamos, por exemplo, a classificação do Centro Hospitalar Cova da Beira como Hospital Universitário, enquanto a Unidade Local de Saúde da Guarda, que participa igualmente de forma ativa na formação pré-graduada de alunos de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Beira Interior, recebendo um número semelhante ou eventualmente superior de alunos desta licenciatura, não foi classificado do mesmo modo.

Perfil de José Manuel Rodrigues:

Presidente do Conselho da Sub-Região da Guarda da Ordem dos Médicos

Idade: 51 anos

Naturalidade: Vilar Formoso

Profissão: Médico cirurgião

Currículo: Assistente hospitalar em Cirurgia Geral; assistente em Medicina Geral e Familiar; presidente da Secção Sub-Regional da Guarda da Ordem dos Médicos; Foi adjunto da direção clínica da ULS Guarda; coordenador do Bloco Operatório, da VMER da Guarda, do Grupo de Patologia Colo-Rectal do Serviço de Cirurgia do Hospital Sousa Martins; Membro do Conselho Fiscal da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos; Presidente da mesa da Assembleia da Sub-Região da Guarda da Ordem dos Médicos; Membro da direção do Núcleo da Guarda da Associação dos Médicos Católicos Portugueses

Livro preferido: “O Código Da Vinci”, de Dan Brown

Filme preferido: “Platoon”, de Oliver Stone

Hobbies: Atletismo, ski, condução em todo-o-terreno, viajar, cinema

Sobre o autor

Jornal O Interior

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