Cara a Cara

«O pouco apoio que há aos antigos combatentes deve-se muito à Liga»

Tenente Coronel João Ferreira
Escrito por Efigénia Marques
P – Como nasceu o núcleo da Guarda da Liga dos Combatentes? R – É uma antiga agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, fundada em 1921. A Liga surgiu, a nível nacional, para apoiar os combatentes da Iª Guerra Mundial e as famílias dos soldados feridos. Na altura foram formadas diversas agências e uma das primeiras, ou talvez a primeira, teria sido a de Pinhel. A da Guarda foi fundada em 1924, pelo que vai fazer cem anos. Depois da Guerra do Ultramar passámos a apoiar também os portugueses que combateram nas antigas colónias e famílias. Ainda hoje, 70 ou 80 por cento dos nossos sócios são da Guerra do Ultramar. P – Como funciona o núcleo e quantos sócios tem atualmente? R – Temos 291. Os sócios efetivos da Liga dos Combatentes podem ser militares que andaram em missões de paz, ex-militares e militares ainda no efetivo. Também temos sócios apoiantes, pessoas que não foram militares, mas apoiam a nossa missão – há bastantes a nível nacional. Aqui, temos sócios da Guarda, de Celorico da Beira, de Almeida, de Vilar Formoso, Trancoso, etc… P – De que forma é que os sócios contribuem para o núcleo? R – Todos contribuem sempre que queiram apoiar nas atividades que fazemos durante o ano. Existem também os chamados sócios-eméritos, que apoiam a Liga dos Combatentes, com aquilo que querem, nomeadamente dinheiro. Dão donativos que vão para a Liga para apoio de todos os combatentes. P – Que atividades desenvolve e tem programadas o núcleo da Guarda? R – Uma das nossas principais missões é apoiar os combatentes, mas a segunda é não esquecer aqueles que tombaram ao serviço da pátria. Não esquecer os combatentes da Guarda, principalmente os que tombaram ao serviço na Guerra do Ultramar, na primeira Guerra Mundial e nas missões de apoio à paz. Nesse sentido, nunca deixamos passar em claro as datas simbólicas sem homenagear esses combatentes, nomeadamente no armistício da Iª Grande Guerra, a 11 de novembro. Também celebramos sempre o Dia Nacional do Combatente, a 9 de abril, e o aniversário da batalha de La Lys, na Iª Guerra Mundial, onde homenageamos os portugueses que tombaram em combate. Temos também atividades de apoio médico-social e psicológico através do Centro criado na Beira Interior pela Liga, cujos psicólogos e a assistente social prestam todo o apoio necessário aos sócios dos núcleos da Guarda, Manteigas, Belmonte, Gouveia, Covilhã, etc… P – Que problemas é que afetam os combatentes? Há falta de apoio? R – Um dos grandes problemas que têm é, em primeiro lugar, a maioria ter reformas baixas, à semelhança da maior parte dos portugueses. Muitos dos antigos combatentes não sabem como aceder a todos os apoios dados pelo Instituto do Combatente, que foram aprovados em 2020. Através do Núcleo, preenchemos os requerimentos que sejam necessários, contactamos as entidades, nomeadamente as Forças Armadas e o Ministério da Defesa, sempre que necessário, porque a maior parte deles sozinhos não conseguem. Nem por telefone nem por email. Muitos deles nem email têm, portanto não conseguem aceder nem clarificar a sua situação. Ainda acontece muito com a contagem do tempo militar. Alguns deles ainda não tiveram essa contagem feita através do Ministério da Defesa, o que dá acesso a um subsídio que garante ao antigo combatente um apoio de 75, 100 ou 150 euros, consoante o tempo que esteve, por exemplo, no Ultramar. Há muitos que não tiveram acesso a isso porque não sabem como tratar disso e nós apoiamos nesse trabalho. P – Falou do Dia do Combatente. Não acha que este dia acabou por passar despercebido? O que se pode fazer para evidenciar esta data? R – Julgo que o Dia do Combatente passa despercebido para a maior parte dos cidadãos da região. A nível nacional não passará muito porque existe uma cerimónia que, normalmente, é presidida pelo Presidente da República. Na Guarda, fazemos sempre que nos é possível. No entanto, a nível local, aquilo que era necessário fazer não só pelo núcleo, mas sim pelas autoridades locais, era darem mais ênfase a estas datas. Ainda para mais agora, que temos a guerra todos os dias na televisão… Deviam dar mais ênfase a estas datas de forma a reforçar um pouco a pertença e o apoio aos combatentes nacionais. Até a nível nacional não se dá muito ênfase, acabando muitas vezes pelas datas caírem em esquecimento. São apenas lembradas pela Liga e pelos núcleos. O que poderia haver, à semelhança de outras evocações, era que a Câmara e a Junta de Freguesia da Guarda organizassem uma cerimónia maior para enfatizar um pouco mais este dia. P – Qual é a importância da Liga dos Combatentes? R – A Liga é cada vez mais importante. A nível nacional, o apoio que tem havido por parte dos diferentes governos tem sido muito a reboque e sob a pressão da Liga. O estatuto do antigo combatente é disso exemplo, foi resultado de uma luta de anos e anos – a Guerra do Ultramar terminou há quase 50 anos e também já começa a haver muitos combatentes destas novas missões de apoio à paz. Contudo, o estatuto não contemplou integralmente aquilo que a Liga propôs, nomeadamente que não houvesse nenhum antigo combatente que recebesse menos que o salário mínimo. Muitas outras propostas também não foram aceites, mas é a Liga que tem feito essa pressão sobre as autoridades nacionais para que haja algum apoio. O pouco que há, julgo eu, deve-se muito à Liga dos Combatentes. _________________________________________________________________________

TENENTE-CORONEL JOÃO FERREIRA

Presidente da direção do Núcleo da Guarda da Liga dos Combatentes Idade: 51 anos Naturalidade: Alemanha (veio para a Guarda com um ano de idade) Profissão: Militar Currículo (resumido):Entrou para a Academia Militar em 1989 e acabou o curso em 1994;Pertenceu aos quadros oficiais do Exército e integrou as tropas paraquedistas, onde fez parte do seu percurso; Participou em missões de apoio à paz, nomeadamente na Bósnia (1996), Timor (2000 e 2002),Afeganistão (2007) e Kosovo (2013);Preside à direção do Núcleo da Guarda da Liga dos Combatentes desde 2016. Filme preferido: “Gladiador”, de Ridley Scott Livro preferido: “Guerra em paz”, de Nuno Rogeiro Hobbies: Desporto – futebol

Sobre o autor

Efigénia Marques

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