P-Face à atual situação de estado de emergência, quais as medidas tomadas pelo corpo de bombeiros da Guarda?
R- O corpo de bombeiros da Guarda ativou um plano de contingência interno no dia 2 de março, que tem vindo a ser atualizado e alterado de acordo com a evolução desta situação de pandemia. Mantemos os nossos piquetes voluntários, o pessoal de serviço de emergência, com um conjunto de cuidados associados a esta situação da Covid-19. Temos também equipamentos de proteção individual em todos os veículos de intervenção em ambiente pré-hospitalar. Na nossa instituição os funcionários profissionais da área administrativa, que temos de segunda a sexta, ficaram em regime de teletrabalho, com exceção dos funcionários de intervenção pré-hospitalar, de incêndios e demais situações de emergência. Neste contexto de prevenção do novo coronavírus ativamos também um condicionamento de acesso ao quartel – que fica reservado a bombeiros e diretores – para que os nossos elementos afetos ao socorro possam ficar o mais “isentos” possível de visitas de outras pessoas que possam eventualmente trazer a contaminação até nós para que depois possamos responder às situações de emergência. A nossa preocupação é que um de nós possa ficar contaminado e coloque em causa a capacidade de resposta do corpo de bombeiros. Também limitámos o transporte de doentes não urgentes, isto é, a ida a consultas ou exames complementares de diagnóstico, para os quais transportamos habitualmente pessoas entre Guarda e Coimbra ou entre a Guarda e Viseu que, não sendo sinalizadas pelas entidades de saúde, não fazemos neste momento.
P- Já houve algum caso de Covid-19 entre os transportes que realizaram recentemente?
R – Já tivemos transportes de casos suspeitos de Covid-19 – que não se confirmaram –em que o pessoal teve de recorrer aos instrumentos de proteção individual para que não houvesse qualquer problema.
P – Em relação a isso, possuem neste momento todos os materiais de proteção necessários? Ou existe algum tipo de carência?
R – Nesta fase é difícil alguém ter o suficiente, pois, como vemos, até os hospitais, infelizmente, se queixam. Na nossa associação e corpo de bombeiros temos sempre em permanência alguns kits deste género porque servem também para outras situações – como intoxicações graves ou doenças infeciosas que possamos apanhar em ambiente pré-hospitalar. Como já tínhamos esse equipamento, o que fizemos foi reforçar bastante o stock logo de início e por isso temos neste momento algum equipamento para fazer face a alguma situação que possa surgir. Estamos sempre atentos ao mercado e temos um conjunto de fornecedores que estão pré-avisados que queremos mais, pois precisamos de adquirir mais.
P – Já houve alguma baixa na equipa? Alguém forçado a ficar em isolamento?
R – Não propriamente. Tivemos dois casos de bombeiros que ficaram em isolamento durante 14 dias por terem estado em Espanha, prazo que aliás, terminou no domingo. Foi uma viagem pessoal, mas optámos por mantê-los em casa para garantir que não haveria contaminação no corpo de bombeiros. Felizmente não apresentaram qualquer sinal de Covid-19 durante este tempo de quarentena e vão regressar ao trabalho. Naquela situação do transporte de casos suspeitos que referi fizemos alguma contenção em termos de contacto social com os elementos envolvidos, mas felizmente não houve nada a registar.
R – Como é encarada esta situação de pandemia pelos bombeiros, a nível psicológico? Têm medo de exercer a profissão?
P – Isto é muito simples: os bombeiros são seres humanos e por isso têm o mesmo tipo de sentimentos que todas as outras pessoas. Existe receio, existe medo, porque isto é realmente uma situação grave, e os bombeiros também o têm. No entanto acabam por estar presentes e continuar a fazer os seus piquetes da mesma forma. Têm-se entregado com coragem e abnegação, como é característico dos bombeiros. E não nos podemos esquecer que os bombeiros fazem 80 e muitos por cento do que é a emergência hospitalar em Portugal, portanto facilmente podemos depara-nos com uma situação que não é identificada para Covid-19 e de facto ser. E, portanto, esse é o grande receio. Porque se as situações forem identificadas previamente e os bombeiros forem chamados, iremos com outra preparação para elas. Nas situações em que formos chamados e não forem identificadas como suspeita [de coronavírus], aí é que nós corremos o maior risco de contágio. Portanto o receio existe, o medo existe mas também existe, por outro lado, todo este espírito de missão e abnegação habitual dos bombeiros, que estarão presentes com toda a certeza, como tem acontecido nos últimos dias
P – Houve um aumento de solicitações ultimamente?
R – Não, pelo contrário. Felizmente até há uma diminuição. Porquê? Porque as pessoas não querem ir ao hospital. As pessoas passaram a aguentar-se um pouco mais em casa, em vez de ir ao hospital como iriam noutras alturas. Agora estão a recatar-se mais por uma questão de segurança.
Perfil de Paulo Sequeira:
Comandante dos Bombeiros Voluntários Guarda
Idade: 48 anos
Naturalidade: Vila Franca de Xira
Currículo: Membro do Corpo de Bombeiros desde 2003; comandante dos Bombeiros Voluntários da Guarda desde 2012