P – De onde surgiu a oportunidade para este estudo?
R – Há alguns anos observámos que as bactérias conseguem melhorar a produção agrícola em vários aspetos e particularmente, há cerca de cinco anos, começámos a observar que algumas delas conseguem aumentar consideravelmente o teor de compostos antioxidantes. Por isso, aproveitando o meu pós-doutoramento, decidi vir para Portugal, mais especificamente para a Universidade da Beira Interior, uma vez que a mesma possui uma vasta experiência nos ensaios relativos às áreas da medicina e farmacologia. Tal foi possível graças à bolsa Marie Curie que ganhei e que me proporcionou colaborar com o professor Gilberto Alves e o dr. Luís Silva.
P – Qual é a importância deste estudo para a produção de mirtilos?
R – Se os resultados forem os que esperamos, e os primeiros parecem indicar que estamos no caminho certo, iremos desenvolver novos biofertilizantes bacterianos capazes de alcançar uma produção mais integrada, com melhor aproveitamento dos recursos e capaz de melhorar o valor nutricional dos mirtilos. Esta, por sua vez, será uma oportunidade para valorizar e distinguir a produção deste fruto vermelho tão apreciado e procurado.
P – Qual é a finalidade do estudo?
R – O nosso grande objetivo é melhorar o aproveitamento dos nutrientes pelo mirtilo através da incorporação de bactérias benéficas do solo e outras semelhantes às presentes no queijo e iogurte, benéficas para a nossa saúde por meio do consumo de frutas. Paralelamente, procuramos também determinar qual a ação que as bactérias exercem nalgumas culturas, visando garantir que a cultura com as mesmas consegue melhorar o teor de compostos antioxidantes promotores na saúde humana. Para além disso, permite-nos também projetar, futuramente, biofertilizantes bacterianos com maior eficiência.
P – Porque escolheram o mirtilo e não outra fruta?
R – No nosso caso, já tínhamos trabalhado com alguns vegetais, como a alface e a chicória, e com outros frutos vermelhos, como os morangos, e ao constatar o efeito positivo e considerável exercido pelas bactérias, nomeadamente no aumento da concentração de compostos fenólicos cujas propriedades antioxidantes estão já amplamente descritas, decidimos aplicá-lo na fruta com mais poder antioxidante, ou seja, o mirtilo. Além disso, a nossa escolha também foi motivada pela importância económica e estratégica atual da cultura do mirtilo em Portugal, não só devido às características edafoclimáticas de Portugal, que são excelentes para o seu cultivo, mas também dado o seu elevado preço e importância na exportação, uma vez que grande parte da produção se destina ao mercado internacional, o que funciona como um elemento dinâmico da economia das grandes regiões portuguesas.
P – Existe muita gente a apostar na área dos mirtilos?
R – Já tínhamos esta cultura no “radar” desde que fizemos outros ensaios no sul de Espanha, na província de Huelva, onde se cultiva principalmente morangos. Para além do mencionado, os mirtilos começaram a ganhar também grande destaque e relevância no norte da Europa, onde é considerado um produto gourmet. Em Portugal, nalgumas áreas, como Sever do Vouga, existe o cultivo de mirtilos há largos anos. Contudo, nos últimos anos, o número de hectares cultivados e a consequente produção dos mesmos têm vindo a aumentar noutras regiões do país, uma vez que, hoje em dia, é considerado um produto com elevada rentabilidade. Esta cultura apresenta muitas vantagens, uma vez que pode ser realizada tanto no solo, como também em vaso, o que permite aumentar a sua área de cultivo. Por estes motivos, constatámos que nos últimos anos a área cultivada vem aumentando consideravelmente e acreditamos que uma tendência semelhante continuará nos próximos anos.
P – Com este projeto, como tencionam criar emprego?
R – Embora seja difícil criar diretamente empregos num projeto como este com uma duração limitada, procuramos trabalhar em conjunto com empresas, agricultores e associações locais visando dar-lhes oportunidade de aumentar a sua visibilidade. Portanto, ao disponibilizar tecnologias inovadoras como esta não queremos apenas que os agricultores e empresas se tornem mais competitivos e consigam rentabilizar as suas culturas, mas também promover o interior do país e ajudar no desenvolvimento do meio rural, através da criação de oportunidades tecnológicas e consequente emprego.
JOSÉ DAVID FLORES FÉLIX
Idade: 34 anos
Nacionalidade: Espanhola
Profissão: Investigador
Currículo (resumido): Formou-se em Ciências Ambientais pela Universidade de Salamanca, onde obteve o doutoramento em Microbiologia e Genética Molecular em 2018; Autor de mais de 40 artigos em revistas científicas e participou em mais de 15 projetos na área agroalimentar
Filme preferido: “Jurassic Park”, de Steven Spielberg
Livro preferido: “O Senhor dos Anéis” (a trilogia completa), de J.R.R. Tolkien
Hobbies: Pesca, fotografia de natureza, caminhadas pela montanha