P – A Guarda acolhe esta quinta e sexta-feira mais um Congresso de Feridas. De que vai tratar esta edição?
R – É um congresso que acontece de dois em dois anos e nesta edição demos-lhe como subtema “A Natureza das Feridas”. Organizado pela Comissão de Prevenção e Tratamento de Feridas da Unidade Local de Saúde da Guarda e a Escola Superior de Saúde, trata-se de um congresso científico que irá abordar diversos temas, como o ecossistema da ferida, o biofilme, a dor, a Inteligência Artificial, as opções terapêuticas, a pressão negativa, entre outros. No entanto, mantendo a nossa dinâmica diferenciadora, na sexta-feira vamos abrir as portas do congresso, que decorre no grande auditório do TMG, a toda a população e convidámos como outro público-alvo os alunos do 12º ano das três escolas secundárias da cidade, das quais já tivemos um “feedback” bastante positivo.
P – É uma atividade para profissionais, mas também para o público em geral, mas qual é o objetivo?
R – Claro que o público-alvo são os profissionais de saúde, dos enfermeiros aos médicos, passando pelos assistentes sociais, farmacêuticos, etc., mas falamos de um congresso que teve na última edição cerca de 700 participantes, portanto é um grande evento científico que acontece na nossa cidade. Contudo, vamos muito além do que é este público-alvo hospitalar, dos cuidados de saúde públicos, porque enviámos convites para todas as organizações de saúde do distrito e do setor social, como os lares de terceira idade, as ERPI’s e as Misericórdias. Há aqui uma missão de agregar porque todos contam e o grande objetivo é e melhorar o que é a prevenção e o tratamento da pessoa portadora de ferida.
P – O último congresso teve 700 inscritos, qual é a meta? Há um limite de participantes?
R – A nossa meta é o que o TMG conseguir acolher, mas julgo que consegue abarcar cerca de mil participantes. Vamos crescendo ao longo dos anos e talvez este ano tenhamos como meta crescer mais 100 pessoas. Já temos uma escala nacional e recebemos inscrições de todo o país, vamos ter pela primeira vez momentos no grande auditório, no pequeno e na sala de ensaios ao mesmo tempo. Ou seja, vai haver quatro horas em que as pessoas podem optar por três opções diferentes em termos de apresentações. Esta é a forma de ganhar escala num edifício tão bonito como é o TMG, além de mantermos algum “glamour” porque propomos um ambiente muito solidário e saudável de partilha de conhecimento fora do evento científico, o que também é muito importante para nós. E como o tema é a Natureza, vamos pô-la dentro do palco do congresso.
P – O que destaca das atividades e dos oradores convidados? Qual acha que vai ser o momento que vai fazer a diferença neste Congresso de Feridas?
R – Todos são importantes, por isso os convidámos, mas temos oradores nacionais e de renome, como também temos palestrantes da vizinha Espanha. Logo na abertura vamos ter uma conferência com dra. Conceição Calhau, diretora do curso de Nutrição da Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa, a quem pedimos que falasse sobre um tema inovador na investigação, que é procurar encontrar ligações – que existem – entre o que é o ecossistema do intestino e a nutrição, que tem a importância que tem não só na prevenção como no tratamento de feridas porque ambos os ecossistemas estão ligados, e em equilíbrio tudo será mais fácil. Depois teremos um representante da Organização Mundial de Feridas, o presidente da maior Associação de Feridas do país e diversos oradores de qualidade, porque é o que procuramos: trazer novidade, ciência e qualidade para que este congresso contribua para melhor saber cuidar das feridas e da pessoa portadora de feridas.
P – O congresso vai terminar de uma forma inédita e com temas diferentes. Quer adiantar o que vai acontecer no último dia?
R – Julgamos muito interessante a mesa final que abrimos ao público na sexta-feira. É como que um evento dentro de outro porque vai ter temas fora da caixa, como “Feridas fora da Alma” com cinema, ou como a natureza nos ajuda a tratar e trazer um técnico do Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE), em Seia, para nos falar o quanto as plantas contribuem para os materiais de pensos. Teremos uma tese de mestrado que foi feita na zona de Leiria, onde os autores andaram pelas aldeias a perguntar às pessoas mais idosas como curavam e faziam as suas mezinhas. É uma tese qualitativa que se designa “Se eu sei, eu curo”. A pegada ecológica da ferida que será abordada por um dos colaboradores da associação Zero, que já foi coordenador da Quercus, a propósito dos lixos que produzimos no tratamento das feridas. Vamos também analisar como as condições sociodemográficas influenciam os cuidados, com o contributo de alguém que teve responsabilidades acrescidas na política de saúde em Portugal. Queremos que explore algo que achamos uma injustiça, que é, quando vamos para uma instituição de terceira idade, muitas vezes os apoios nos materiais de penso e tratamento de feridas ficam muito aquém do que deveria ser a obrigação estatal. A mesa vai ser moderada pelo dr. Rui Correia para tentar procurar a realidade da nossa região em todas estes assuntos que achamos pertinentes.
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JOAQUIM NÉRCIO
Coordenador da organização do Congresso de Feridas Guarda 2024
Idade: 57 anos
Naturalidade: São Romão (Seia)
Profissão: Enfermeiro
Currículo (resumido): Licenciatura em Enfermagem; Especialidade em Enfermagem Médico Cirúrgica; Mestrado em Gestão de Unidades de Saúde; Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque; Dirigente Sindical do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses; Coordenador da Comissão de Prevenção e Tratamento de Feridas; A exercer funções no Serviço de Medicina Intensiva da ULS da Guarda.
Livro preferido: “Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago”
Livro preferido: “Gandhi”
Hobbies: Associativismo, caminhadas e passear com os meus animais de
companhia.