Cara a Cara

«Muito mais do que uma escola grande, a EPT quer continuar a ser uma escola de excelência»

Escrito por Jornal O Interior

P – Como está a Escola Profissional de Trancoso aos 30 anos? Quantos alunos tem e que cursos leciona?
R – A Escola Profissional de Trancoso continua a ser uma das grandes referências nacionais no ensino profissional. Tendo sido pioneira no nosso país – foi criada em 1989 –, soube adaptar-se às mudanças sociais e hoje apresenta um modelo pedagógico de primeira linha que tem resultado em indicadores muito acima dos indicadores educativos médios do país. Neste momento temos 280 alunos em 13 turmas. Crescemos 100 alunos e quatro turmas nos últimos quatro anos letivos. Lecionamos os cursos de Técnico de Manutenção Industrial/ Mecatrónica Automóvel; Instalador de Sistemas Solares Fotovoltaicos; Gestão de Equipamentos informáticos, Comunicação, Marketing, Relações Públicas e Publicidade, Técnico Comercial e Animador Sociocultural.

P – Qual era a prenda que a EPT gostaria de receber neste aniversário?
R – Gostaríamos de ter a possibilidade de efetuar candidaturas, e ver aprovado financiamento, para a modernização das nossas instalações. É imperioso realizar obras de manutenção e remodelação de espaços, bem como renovar o mobiliário e equipamento, informático, de laboratório e das oficinas. Gostaríamos ainda de ver aumentado o valor elegível atribuído para o transporte dos alunos, feito através da frota automóvel da escola, e que hoje é cerca de metade do custo efetivo.

P – Que projetos/ iniciativas esperam implementar no próximo ano?
R – Um dos nossos objetivos principais, no curto prazo, é aprofundar a relação da nossa prática pedagógica com o contexto real do mundo empresarial. Para além dos períodos de formação em contexto de trabalho (estágios), pretendemos planear e executar a nossa formação cada vez mais em colaboração estreita com as empresas e as instituições. Queremos acabar com a distinção clássica entre estudos e trabalho. Os estudos podem decorrer em ambiente de trabalho e o trabalho pode contribuir para criar novas dinâmicas de estudo.

P – Quais são as principais dificuldades da EPT?
R – Do ponto de vista logístico, a escassez de transportes públicos e a dispersão geográfica dos alunos exige um esforço financeiro grande por parte da escola. A capacidade de alojamento na residência de estudantes do centro histórico de Trancoso também já não é suficiente para os alunos deslocados, pelo que parte dos estudantes já estão alojados em casas particulares arrendadas. A EPT tem alunos de 30 concelhos diferentes, pertencentes às CIM das Beiras e Serra da Estrela, Viseu Dão-Lafões, Douro, Terras de Trás-os-Montes e Região de Coimbra e ainda da Área Metropolitana de Lisboa – são casos pontuais e curiosos de alunos com raízes familiares em Trancoso ou concelhos limítrofes, mas que nunca aqui tinham vivido e que vieram expressamente para a EPT. Do ponto de vista pedagógico, destacamos a necessidade de investimento em novos equipamentos tecnológicos porque os cursos profissionais, pela sua natureza mais prática, exigem tecnologias que estão constantemente a evoluir.

P – A escola já atingiu o seu limite em termos de alunos ou é possível continuar a crescer? Como pensam fazê-lo?
R – A escola cresceu muito nos últimos anos e em contraciclo, quando quase todas as escolas estão a perder alunos devido à quebra demográfica. Neste momento todas as salas de aula estão ocupadas, mas adotando um sistema de rotatividade de espaços há margem para algum crescimento. Quanto à estratégia, para além dos pequenos concelhos de onde tradicionalmente vinham os nossos alunos, nos últimos anos conseguimos atrair alunos de concelhos mais populosos, como Mangualde, Oliveira do Hospital, Sátão, Guarda, Covilhã, Lamego ou Peso da Régua. Reforçar a influência da EPT e do seu modelo pedagógico diferenciador nesses concelhos poderá fazer com que a escola continue a crescer. Todavia, muito mais do que uma escola grande, queremos continuar a ser uma escola de excelência. Uma escola que mantém o abandono escolar em níveis residuais, que apresenta taxas de conclusão de curso muito acima da média nacional, que consegue níveis de empregabilidade global acima dos 75% e que coloca uma boa parte dos seus alunos no ensino superior.

P – O que acha da decisão do Governo que facilita a entrada dos alunos do profissional no ensino superior sem exames?
R – O Governo não facilita. O Governo repõe justiça, pois o ensino profissional não é o parente pobre da educação portuguesa. Um aluno que é capaz de reparar um computador, um motor de última geração, de arquitetar e executar um sistema de produção e consumo de energia solar ou outras tarefas realizadas e avaliadas na Prova de Aptidão Profissional não vai mais mal preparado para determinados cursos superiores que um aluno que passou três anos e estudar equações matemáticas abstratas. Os nossos alunos também estudam Matemática, Português, Física e Química ou Inglês, mas terem de ingressar no ensino superior exclusivamente por via de provas adaptadas às metodologias de ensino dos cursos científico-humanísticos não nos parece justo, nem bom para as empresas e para o país, que precisa de mais mão-de-obra qualificada em determinadas áreas.

Perfil de Eduardo Pinto:

Presidente da direção da Escola Profissional de Trancoso (EPT)

Profissão: Empregado de escritório

Idade: (não indicado)

Naturalidade: Trancoso

Currículo: Vice-presidente da Câmara Municipal de Trancoso, presidente da direção da Escola Profissional de Trancoso, e presidente da Junta de Freguesia de Trancoso
A direção da EPT é ainda constituída por Daniel Joana (vogal executivo a tempo inteiro) e Ana Paulos (vogal).

Sobre o autor

Jornal O Interior

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