Cara a Cara

«Manter o Festival Y festival tem sido uma ação de resiliência da nossa parte»

Escrito por Jornal O Interior

P- No que consiste o Festival Y?
R- O Festival Y é um festival de artes performativas organizado pela Quarta Parede que, desde o seu início (2003), privilegia os cruzamentos disciplinares nas suas formas mais contemporâneas. Programamos espetáculos a que poucos espetadores da nossa área geográfica de intervenção teriam acesso, valorizando a transversalidade artística (teatro, dança, música, novos média, cruzamentos disciplinares) e projetos que criam interseções com áreas cientificas e humanísticas. Ao mesmo tempo, temo-nos preocupado em interligar a memória ao presente. Procuramos acima de tudo construir programas artísticos atentos aos diferentes públicos e que primam pela qualidade e distinção dos criadores portugueses e internacionais acolhidos, sem descurar as estruturas e artistas da região. Ao longo das suas já 14 edições, o Festival Y tem vindo a ocupar um lugar próprio pela diversidade e multidisciplinariedade das suas ações (seja espetáculos, atividades de formação, debates, instalações ou exposições) e que acreditamos contribuir significativamente para a presença da arte contemporânea na Beira Interior e para a promoção da região.

P- Esta é já a 14ª edição, o que há de diferente?
R- O Festival Y#14 tem por base uma forte determinação, partilhada pelos nossos parceiros Município da Covilhã e Cine-Teatro Avenida de Castelo Branco, em que este festival persista como plataforma de passagem de obras de grande mérito artístico.
Desta edição, destaco a abrangência dos públicos-alvo (das crianças aos seniores) e também a programação de artistas referenciais em Portugal a par com jovens criadores portugueses de mérito. Evidencio ainda o acolhimento do projeto “Viagens na minha Terra-Covilhã” dos fotógrafos Augusto Brázio e Nelson D’Aires que irá cruzar o Y#14 e o Y#15, incluindo várias iniciativas como residências artísticas no concelho da Covilhã e uma masterclass de Fotografia (em curso).
Propomos ainda o Y Públicos 2018, conectado com a programação do Festival Y e orientado para o envolvimento da população local. Aqui incluímos ações para público em geral e para segmentos específicos como grupos escolares e seniores, entre as quais o Laboratório de Artes Performativas para Seniores e a Comunidade de Espetadores que provoca o diálogo entre artistas e espetadores a partir de alguns dos espetáculos programados.

P- Por que razão este ano tem uma programação espaçada?
R- O Festival Y#14 teve o seu início em junho e irá até princípios de dezembro. Esta calendarização prende-se com determinadas condicionantes ligadas primeiramente à data de saída dos resultados finais das candidaturas à DGArtes e, também, à ocupação das salas onde são apresentados os espetáculos (Auditório do Teatro das Beiras e Cine-Teatro Avenida).

P- Como o festival tem sobrevivido ao longo dos anos? Notam que há mais dificuldades atualmente do que nos primeiros anos?
R- Tal como todas as atividades profissionais ligadas ao setor artístico e cultural em Portugal, sobretudo no interior do país, o Festival Y tem sobrevivido com grandes dificuldades, alicerçado na resistência, persistência e disponibilidade da equipa que o organiza. De facto, atualmente manter o festival tem sido uma ação de resiliência da nossa parte. Se por um lado nos primeiros anos enfrentávamos como principal dificuldade a necessária formação de públicos, neste momento enfrentamos mais obstáculos no que concerne à obtenção de apoios financeiros.

P- Para quando o alargamento do festival ao Teatro Municipal da Guarda?
O Festival Y já passou pelo TMG em várias edições e continua aberto a essa extensão desde que haja disponibilidade da programação do próprio TMG.

P- Como vê a agenda cultural da Covilhã?
R- Não existindo uma Agenda Cultural publicada continuamente que reúna as diversas atividades culturais desenvolvidas no concelho, penso que a criação da mesma seria uma mais-valia para todos, agentes culturais, públicos e também para o próprio concelho.

P- Que apoios a associação Quarta Parede tem?
Desde a sua criação que o grande apoio financeiro à atividade da Quarta Parede é o apoio da DGartes obtido através de procedimento concursal. Contamos também com o apoio financeiro do Município da Covilhã e do Teatro Avenida de Castelo Branco. Igualmente importantes são os apoios à divulgação da Antena 1, Jornal do Fundão, Rádio Covilhã e Aqui Há Beira. Destacamos ainda as parcerias fundamentais com o Teatro das Beiras, Citemor e UBI/Curso de Ciências da Cultura.

 

Perfil:

Idade: 36 anos

Profissão: Atriz, criadora e formadora na área das artes performativas, dedica-se também à produção e programação artística.

Currículo: Licenciada em Estudos Teatrais (Universidade de Évora), Mestre em Teatro (Escola Superior de Teatro e Cinema – IPL)

Naturalidade: Chaves

Livro preferido: muitos, entre os quais da Adília Lopes, Agustina Bessa-Luís, Henrique Vila-Matas, Margarite Duras

Filme preferido: muitos, entre os quais todos os da belíssima Agnés Varda e do grande Fellini

Hobbies: Caminhar, Cinema, Ler, Viajar

Sobre o autor

Jornal O Interior

Leave a Reply