P – O que tem planeado Manteigas para o pós-Covid de forma a relançar a atividade económica do concelho?
R – A pandemia obrigou-nos a tomar várias medidas de apoio às famílias e às empresas. A 4 de abril testamos bombeiros, funcionários dos lares e o corpo técnico e auxiliares do centro de saúde para perceber como estávamos em termos de Covid-19. Houve alguns casos positivos e isolamos imediatamente essas pessoas, os seus conviventes e familiares e paramos rapidamente uma cadeia de transmissão. Se assim não fosse poderíamos ter aqui um caso que nos daria “água pela barba”, pois seria extremamente grave para um município de pequena dimensão como o nosso. Com isto afirmamos que erámos um município seguro e desde então não temos tido casos. Há três meses começámos a apoiar famílias e quem ficou desempregado, bem como as empresas afetadas pela redução da atividade. Aumentámos para 36 mil euros o valor do Fundo de Emergência Social, destinado a ajudar as famílias carenciadas em determinados momentos no pagamento de despesas básicas e que vai até ao máximo de mil euros por família. Já apoiamos alguns agregados desde o início da pandemia.
P – E em relação às empresas, à economia local?
R – Poderíamos ter feito como muitas autarquias, que andaram a distribuir cheques pelas empresas e famílias, mas isso não resolve problema nenhum. Não fomos populistas e entendemos entrar ativamente na atividade económica, desde logo lançando obras municipais que, numa primeira fase, estimámos em 600 mil euros e que neste momento já vão em 800 mil euros. Com isto mobilizamos a atividade da construção civil, uma área que é subsidiária de outras atividades como o comércio, a indústria e os serviços… Outra medida importante foi realocar verbas do Orçamento da Câmara que não foram usadas devido à Covid, porque houve atividades que não se realizaram, e o reforço das transferências do Estado. A aposta foi no marketing territorial, na notoriedade do concelho, e que tem feito com que Manteigas tenha crescido desde 2010 até hoje em termos turísticos. Foi essa estratégia que permitiu ao concelho dar a volta à crise dos têxteis e lanifícios.
P – Manteigas quer ser alternativa às praias. Como o vai fazer?
R – Fui, na região, o primeiro autarca a dizer que queremos ser alternativa ao turismo de massas no litoral. Manteigas tem espaços abertos, naturais, magníficos, onde se respira ar puro, e os recantos mais belos da Serra da Estrela. Reforçámos para mais de 105 mil euros as verbas para a promoção turística e é visível e notória a forma como Manteigas está na comunicação social, nas redes sociais, na televisão. Também estamos a promover-nos fora do país para que, logo sejam retomadas as viagens aéreas, possamos voltar a ter turistas estrangeiros.
P – E já se notam resultados dessa campanha neste primeiro mês de Verão?
R – Já, mas não é só por isso, embora reconheça que chegamos a muitos mais turistas e cidadãos com esta divulgação. As unidades hoteleiras estão com uma ótima lotação, há mesmo hotéis que estão cheios e ao fim de semana não têm disponibilidade. O mesmo se passa com os restaurantes. Não estamos ainda a atingir patamares de 2019, mas estamos a recuperar muito melhor do que as zonas do litoral. Somos um concelho com potencial de atração turística completamente diferente dos outros nesta região interior e mesmo da Serra da Estrela.
P – Completamente diferente porquê?
R – Antecipámo-nos ao dizer que queríamos ser alternativa ao turismo do litoral, mas também porque Manteigas não é um território qualquer. A Serra da Estrela é uma marca turística importantíssima e relevante, mas o território de Manteigas tem características únicas em termos de recursos naturais, é incomparável. A nível do Geopark, por exemplo, a maior parte dos geossítios e de grande relevância científica nacional e internacional estão no nosso concelho.
P – O turismo de natureza é o grande atrativo ou Manteigas tem outros?
R – Temos dos melhores trilhos da região, diria até do país. São 16 percursos pedonais, cerca de 200 quilómetros, perfeitamente sinalizados e agora até acessíveis através de uma app para smartphones. O concelho é também muito procurado para a prática de BTT, ciclismo de estrada, trail e parapente, onde somos o melhor local da Península Ibérica para parapente competitivo. Portanto só temos que aproveitar o que temos e que não se fez durante muito tempo porque havia outro modelo de desenvolvimento. Com o desaparecimento dos têxteis fomos forçados a pegar e a tratar bem os nossos “ovos de ouro” e queremos ser dentro de pouco tempo um concelho de excelência turística. O hotel Vila Galé abriu há dois meses, recrutou 65 por cento dos seus trabalhadores em Manteigas – estamos quase numa situação de pleno emprego porque temos menos de 3 por cento de desemprego –. Os restantes tiveram que vir de fora. Neste momento há jovens casais a fixarem-se por cá para não terem que deixar o ordenado na estrada. Estamos a fixar população e isso nota-se no ensino pré-primário, onde temos mais crianças este ano letivo.
P – Esse crescimento já não acontecia há quanto tempo?
R – Não acontecia, pelo menos, desde 2005 quando fui candidato à Câmara pela primeira vez. Está a acontecer agora e de forma significativa por haver oportunidades de trabalho. Neste momento há um conjunto de atividades que estão mais disponíveis para prestar serviços e têm que ter trabalhadores, que são gente de cá, mas também pessoas de outros municípios que, mais cedo ou mais tarde, vão fixar-se no concelho.
P – O que pede aos emigrantes que regressem a Manteigas para passar férias?
R – Que cumpram as regras, mas eles já sabem o que fazer porque vêm de países onde têm que cumprir medidas muito apertadas. Nós vamos estar vigilantes, ainda na semana passada pedi à GNR para acompanhar de perto um grupo de pessoas que veio de outra zona do país para obrigar ao cumprimento das medidas recomendadas pela DGS. Não me parece que seja absolutamente necessário haver um período de quarentena, o que é preciso é que todos cumpram as determinações das autoridades de saúde.
P – Se não vierem, receia o impacto económico que isso terá na economia local?
R – Os nossos emigrantes são importantes, mas neste momento aquilo que contribui efetivamente para a manutenção do crescimento económico do concelho são mais os turistas. São eles que verdadeiramente já sustentam a nossa economia de forma permanente e não sazonal. Os últimos dados, relativos a 2018, apontavam para um crescimento de 2,8 milhões de euros fruto da atividade turística. Ainda não temos os números de 2019, mas não tenho dúvida nenhuma que continuaram a crescer. Entretanto, abriram dois hotéis e a Câmara tem atualmente para aprovação o projeto de arquitetura de uma unidade de turismo rural, cuja construção já está adjudicada, e para apreciação mais dois pedidos de viabilidade e mais outro projeto em fase de apresentação de peças processuais. O primeiro investimento é de um grupo francês e vai surgir na zona urbanizável de Manteigas, mesmo a seguir à escola de hotelaria. Além do turismo, temos uma empresa que já investiu mais de meio milhão de euros na adaptação de instalações na antiga Sotave para produzir refrigerantes e bebidas não alcoólicas.