Cara a Cara

«Mais importante do que nós, é a comunidade que nos faz chegar os dados com veracidade»

Escrito por Jornal O Interior

P – Criou a plataforma “Covid-19 – O que está aberto?”, que indica quais os estabelecimentos que se mantêm a funcionar na região. Como surgiu esta ideia?
R – A ideia surgiu exatamente no dia 24 de março. Eu e o meu colega Paulo [Silva] estávamos em isolamento voluntário e fomos contactados por um membro do FabLab do Fundão, no sentido de construir uma solução tal como esta que existe agora para o concelho do Fundão. Na altura mostrámo-nos recetivos, começámos logo a recolher informação sobre os primeiros estabelecimentos e a inserir dados, e acabámos por construir a plataforma em cerca de 30 minutos. E foi basicamente isso. Depois, ao fim de algumas horas acabámos por abranger a Cova da Beira. Ao fim de 48 horas o projeto passou a incluir toda a Beira Interior, isto é, com o distrito da Guarda, mas, ao mesmo tempo, mantivemos uma solução própria para o Fundão, que apenas coloca os estabelecimentos do concelho (sendo apenas uma listagem e não um mapa interativo). Na verdade, a solução acabou por ser uma espécie de brincadeira, um desafio pessoal que nos lançaram e que nós, em meia hora, acabámos por acatar a ideia e avançar.

P – São os estabelecimentos que vos contactam para os registos na plataforma? Ou são vocês que tentam recolher essa informação?
R – Inicialmente, cada vez que havia uma comunicação de um estabelecimento numa localidade de um concelho “novo”, nós esforçávamo-nos para contactar os estabelecimentos mais conhecidos, as grandes superfícies. No entanto, a plataforma só funciona através do “report” dos dados através da comunidade, ou seja, é mantida e validada por nós, no entanto os dados, têm de ser maioritariamente comunicados pelas pessoas. Qualquer pessoa que tenha conhecimento de estabelecimentos que estejam abertos, ou mesmo que nós tenhamos um erro num horário, pode contactar-nos [em www.covid19.starje.pt]. O que acontece depois é que as pessoas acabam por preencher um formulário automático que no fim nos é submetido. Nós aprovamos e automaticamente atualiza no mapa. Respondendo diretamente à questão: na prática os dados são enviados pelas pessoas e depois nós validamos. Nós podemos estar “pro bono” a contactar os estabelecimentos ativos, mas, como é óbvio, não podemos contactar todos os que existem na Beira Interior, pois seriam milhares e neste momento não temos equipa para isso.

P – Face a essa dificuldade consideram aumentar o número de elementos que intervêm na plataforma?
R – Como lhe disse, neste momento somos só nós os dois. Contudo estamos a preparar a candidatura a um apoio que a Fundação Calouste Gulbenkian lançou. Com esse fundo o objetivo será a contratação de novo “staff” para nos ajudar neste processo todo. Até porque pretendemos passar a plataforma para uma escala nacional nos próximos dias. Ou seja, para fazer isso não pode depender apenas de nós, porque o fluxo de informação vai ser muito maior e vai ser incomportável estarmos a investir naquilo só nós os dois. Por isso, sim, um dos nossos próximos objetivos é começar a contratar estudantes e pessoas que se queiram envolver no projeto, a um valor muito simbólico, um valor apenas de compensação pelo trabalho que vão ter, para nos ajudar nesta validação de dados.

P – Estando a alargar o espectro de zonas abrangidas, como serão validados os dados? Como irão avaliar a veracidade da informação em zonas mais distantes?
R – A nossa validação acaba por ser feita através de uma consulta dos motores de busca, nos quais pesquisamos a própria entidade que nos é reportada. No entanto, a questão dos horários de funcionamento é mesmo a confiar na veracidade dos dados que nos chegam. Ou seja, nós com as nossas ferramentas domésticas só conseguimos consultar e validar a parte do endereço, do nome do estabelecimento e o próprio contacto. Tirando isso, esperamos que os dados que nos chegam sejam verídicos e que sejam para a comunidade e não para enganar ninguém.

P – Então a comunidade é uma parte importante desta plataforma, correto?
R – Sim, claro. Mais importante do que nós neste momento é a comunidade que nos faz chegar os dados com veracidade, em que podemos confiar.

P – Já obtiveram “feedback” de comerciantes locais quanto ao impacto da plataforma no seu negócio?
R – “Feedback” direto em relação ao impacto na economia não chegámos a ter ainda. Os “feedbacks” que nos chegam – e que já são muitos – são que a plataforma está bem construída e é bastante útil para a comunidade. Os estabelecimentos também agradecem a plataforma e o trabalho que temos estado a fazer. No entanto ainda não temos nenhuma informação relativa ao impacto direto nos negócios, mas esperemos nós que seja positivo e esteja a servir de almofada financeira para este momento menos bom.

Perfil de Igor Matias:

Cocriador (em conjunto com Paulo Silva) da plataforma “Covid-19 – O que está aberto”

Idade: 23 anos

Naturalidade: Covilhã

Profissão: Estudante de Mestrado em Engenharia Informática na UBI

Currículo: CTO @ STAR Junior Enterprise; Organizador fundador @ Google Developers Group Covilhã

Livro preferido: Não tem

Filme preferido: “Hachiko – Amigo Para Sempre”, de Lasse Hallström

Hobbies: Associativismo

Sobre o autor

Jornal O Interior

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