Cara a Cara

«Hoje podemos e devemos escolher qual o futuro que queremos para o nosso planeta»

Escrito por Jornal O Interior

Daniel Pais

P – Decorre esta sexta-feira a Greve Climática Estudantil, em que consiste a iniciativa?
R – Esta iniciativa, inspirada pela jovem sueca Greta Thunberg, está associada ao movimento estudantil internacional #SchoolStrike4Climate e #FridaysForFuture, que conta já com inúmeras greves em vários países. Para além da Covilhã, em Portugal há 24 manifestações confirmadas de norte a sul do continente e ilhas. É uma greve por parte da comunidade estudantil, com início pelas 10h30 à entrada do polo principal da Universidade da Beira Interior e a intenção de marcha pela via pública até ao largo da Câmara Municipal.

P – Quais são os objetivos?
R – A Greve Climática Estudantil quer consciencializar a comunidade em relação ao impacto ambiental que cada gesto, por mais pequeno que pareça, tem no planeta. Em termos concretos, trata-se de protestar contra a inação do Governo face às alterações climáticas e exigir-lhe que faça da resolução da crise climática atual uma das prioridades a considerar na definição de políticas públicas. Além disso, tem como objetivo apelar à comunidade por uma maior consciencialização sobre os problemas associados às mudanças climáticas. No fundo, é lutar por uma melhor justiça ambiental.

P – Esperam mobilizar não apenas a comunidade estudantil, mas chegar também à restante população covilhanense?
R – A ideia principal é mobilizar o maior número de estudantes da UBI. No entanto seria de todo o interesse envolver também a comunidade covilhanense. As condições climáticas e os problemas que lhe estão associados não dizem respeito apenas aos jovens, mas sim a toda a população, apesar dos jovens serem quem mais vai sentir as suas consequências no futuro próximo. Achamos que é responsabilidade de toda a comunidade agir para garantir um futuro sustentável e próspero para a geração atual e seguintes. Considerando o relatório de Brundtland (1987), o conceito de desenvolvimento sustentável estará apenas assegurado se «as necessidades do presente forem satisfeitas sem comprometer a habilidade de gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades». Hoje podemos e devemos escolher qual o futuro que queremos para o nosso planeta.

P – Até aqui os jovens têm estado de fora destas questões do clima, o que os levou a criar o Movimento Académico de Proteção Ambiental (MAPA)?
R – Não diria que tenham estado de fora, a consciência e preocupação sobre estas questões existe, no entanto, não têm sido ouvidas como gostaríamos que fossem. Muitos já foram os alertas feitos por instituições e alguns cientistas, mas pelos vistos foi sempre deixado de fora da agenda. Na UBI vimos a oportunidade de construir as bases para um sistema melhor e mais sustentável. Em comparação com outras universidades internacionais, pretendemos lutar por uma instituição mais sustentável, por um “green campus” onde as preocupações ambientais estão em cima da mesa sempre que algo é decidido. Queremos que a UBI seja um exemplo no que diz respeito à sua consciência ambiental e também que seja reconhecida pelas suas iniciativas, que assumem sempre o objetivo de maximizar a sua sustentabilidade e do meio que a rodeia.

P – Pedem ao Governo soluções para a crise climática, quais consideram que deveriam ser as primeiras medidas?
R – Acima de tudo gostaríamos que o Governo interiorizasse que as mudanças climáticas e, consequentemente, os problemas que daí advêm são uma realidade, mais agora do que alguma vez fora. O Estado deve intervir no sentido de regularizar os sectores que apresentem pegadas ecológicas elevadas e pouco eficientes, como a agricultura e os transportes, por exemplo. O Estado tem a possibilidade de promover práticas mais amigas do ambiente e diminuir as que apresentam graus de insustentabilidade elevados. No sector agrícola, a criação de impostos e subsídios que promovam um consumo alimentar mais sustentável poderá ser uma dessas regulações. Ou até a implementação de um sistema de etiquetagem, do género do que já existe para os eletrodomésticos, onde os alimentos são rotulados de acordo com a pegada ecológica para alertar o consumidor sobre os seus custos ambientais. Tal como os refrigerantes açucarados são taxados consoante a quantidade de açúcar, os alimentos poderiam ser taxados e subsidiados de acordo com a sua pegada ecológica. Esta e outras medidas foram redigidas para serem levadas ao ministro do Ambiente pelos organizadores da Greve Climática Estudantil. Mas todos nós, como consumidores, temos a responsabilidade de procurar e assumir opções mais sustentáveis e promover uma maior sustentabilidade do planeta, para hoje e para amanhã. Desenvolver hábitos sustentáveis deve ser um objetivo permanente da sociedade. Mas claro que se o Estado criar condições para facilitar a escolha dos consumidores, melhor e mais eficiente será esta mudança. Está nas mãos do indivíduo mudar o futuro com recurso às suas ações, aparentemente pequenas, mas em conjunto com elevado impacto. Citando o filme “Cloud Altas”: «O indivíduo é apenas uma gota na infinidade do oceano. No entanto, o que é o oceano senão uma multitude de gotas».

P – Já têm pensadas mais iniciativas?
R – Apesar de se encontrar numa fase embrionária, o MAPA faz seis meses este mês e conta com várias propostas e iniciativas que já foram enviadas à reitoria para futuro debate e posterior implementação. Pretendemos atuar em várias áreas, nomeadamente na agricultura, com a criação de hortas comunitárias e a plantação de árvores de fruto pela área ubiana. Os produtos que daqui surgirão terão como destino as cantinas da UBI e o consumo por parte da comunidade estudantil. Na área da reciclagem propomos a elaboração de ecopontos e infraestruturas interativas para uma maior consciência e eficácia na luta contra o lixo que não é devidamente alocado e recolhido. No que diz respeito ao consumo de água, uma das iniciativas é a implementação, por toda a área ubiana, de bebedouros próprios para beber e encher garrafas reutilizáveis. O objetivo é reduzir o consumo de água engarrafada e consequentemente o de plástico porque uma universidade livre de plástico é também um dos nossos objetivos de longo-prazo. Estas são algumas das iniciativas que contamos iniciar neste semestre e haverá muitas mais no futuro.

Perfil de Daniel Pais:

Porta-voz do MAPA – Movimento Académico de Proteção Ambiental

Idade: 25 anos

Naturalidade: Covilhã

Profissão: Estudante de Doutoramento em Economia na Universidade da Beira Interior

Currículo: Licenciatura e mestrado em Economia na UBI

Livro preferido: “Make Room! Make Room!” (1966)

Filme preferido: “The Age of Stupid” (2009)

Hobbies: Teatro

Sobre o autor

Jornal O Interior

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