Cara a Cara

«Este estudo aborda o doente com osteoporose como um todo»

Cara A Cara
Escrito por Efigénia Marques

P – Como surgiu a ideia para este projeto?
R – No âmbito da realização da minha tese de mestrado para obtenção do grau de mestre em Medicina e após discussão com a minha orientadora, a Drª Joana Fonseca Ferreira, reumatologista na ULS da Guarda e docente da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior, e muito graças à sua visão clínica e ideias criativas e inovadoras, surgiu a vontade de abordar o doente com osteoporose como um todo, reconhecer e identificar as vertentes da sua saúde, como doenças associadas e tratamentos e como estes interferem na causa de osteoporose e na causa de quedas que conduzem a fraturas.

P –Em que consiste a sua investigação, que fez com que conquistasse este prémio?
R – A existência do Centro de Ligação de Fraturas da ULS Guarda desde 2017 facilitou a realização desta investigação. É uma consulta organizada de forma a oferecer um serviço clínico fundamental para a saúde – o tratamento da osteoporose –, mas foi também construído de forma a poder realizar investigação clínica nesta área. Desta forma, os doentes são estudados de uma forma muito completa e minuciosa, colhendo múltiplos dados que incluem doenças prévias e medicação. Por isso resolvemos coligir e analisar estes dados, sendo que na altura do desenvolvimento do trabalho optei ainda por verificar se estas doenças e tratamentos se relacionavam com o número de fraturas dos doentes e perda de massa óssea. De certa forma, um dos aspetos importantes que levou a que este trabalho fosse distinguido foi a análise especificamente das doenças e medicação crónica que mais influenciam o número de fraturas prévias que os doentes apresentavam e, portanto, extrapolar para o seu risco de queda, uma área pouco abordada que, com as medidas preventivas corretas, pode trazer bastantes benefícios na prevenção de quedas e consequentemente de novas fraturas aos doentes do Centro de Ligação de Fraturas da ULS Guarda.

P – Esse estudo já está a ser aplicado na ULS da Guarda? Quais foram as conclusões?
R – Este estudo, apesar de ter sido realizado no presente ano, é uma continuidade do excelente trabalho realizado no Centro de Ligação de Fraturas da ULS Guarda e apenas direciona, através dos seus próprios dados, as estratégias preventivas mais pertinentes a abordar nestes doentes, potenciando o trabalho até agora empreendido. A principal conclusão verificada, após análise de todas as doenças e medicação crónica que afetam a mineralização óssea ou que potenciam o risco de queda neste grupo de doentes com historial de pelo menos uma fratura, foi a de que os doentes com um maior número de comorbilidades que reconhecidamente aumentam o risco de queda apresentam maior número de fraturas prévias. Apesar da relação encontrada e do trabalho realizado, estou certo que os doentes vão continuar a ser minuciosamente estudados, mais agora depois das nossas conclusões, e penso que o futuro será avaliar qual a forma possível de intervir para melhorar o prognóstico deste tipo de doentes.

P – Esta investigação pode ser aplicada noutros serviços de reumatologia do país?
R – Todos os trabalhos científicos são feitos utilizando o método científico e, como tal, são fáceis de replicar.

P – Este prémio já contribuiu para a receção de convites para aplicar este trabalho noutras unidades hospitalares?
R – De momento, e do que fui informado, ainda não endereçaram ao serviço de Reumatologia qualquer convite para aplicar o trabalho noutras unidades. No entanto, a Reumatologia portuguesa é uma área muito coesa e trabalha muito em parceria nacionais e o respetivo serviço da ULS da Guarda está a ponderar desenvolver este trabalho a nível nacional convidando outros serviços a realizar uma colheita de dados semelhante.

P – Neste momento, o que é que faz? Já está a exercer aqui na Guarda?
R – Terminei o curso de Medicina e realizarei a prova nacional de acesso à especialidade no próximo dia 17 de novembro. Iniciarei o meu percurso profissional, como interno de formação geral, em janeiro de 2022.

P – Acha que a Guarda lhe oferece condições para continuar por cá? 
R – Pela experiência e contacto que tive o gosto de privar nestes seis anos de percurso académico e três anos de estágio clínico na ULS e na cidade da Guarda, penso que terá as condições necessárias para realizar um percurso pessoal e profissional marcante. No entanto, e devido às condicionantes do percurso profissional médico, aguardo pela listagem de vagas referentes às diferentes especialidades médicas disponíveis para escolher, de forma estruturada, a melhor opção para o meu futuro sendo a Guarda um local a ponderar.

Sobre o autor

Efigénia Marques

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