Cara a Cara

«Enquanto houver gente a precisar de apoio o Rotary cá estará»

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Escrito por Efigénia Marques
P – Em que circunstâncias veio à Guarda na passada sexta-feira? R – Vim à Guarda. como tenho ido a várias capitais de distrito e cidades do país, para visitar os clubes Rotary que funcionam nas respetivas comunidades. O Rotary Club da Guarda é um clube muito importante, uma referência, e temos basicamente um ano de trabalho, isto porque os governadores dos Distritos Rotary mudam todos os anos – quando falo em distritos falo num conceito mais amplo do que o administrativo a que estamos habituados, no caso do Distrito 1970 estamos a falar do Centro e Norte de Portugal, onde temos 89 clubes neste momento. Todos os anos há um governador diferente, tal como nos Rotary Clubes e no Rotary Internacional, isto é uma verdadeira escola de liderança porque, quando se entra, tem-se logo a perspetiva que, um dia, poderemos exercer essas responsabilidades. A visita aos clubes serve para ouvir e conhecer as coisas em cada comunidade e oferecer a nossa ajuda, ver como é que o Distrito e o Rotary Internacional podem contribuir. Ao todo, o Rotary Internacional tem 530 Distritos, 1,4 milhões de membros em todo o mundo, é a maior organização de clubes de serviços do mundo. Temos mais de 36 mil clubes espalhados por mais de 200 países e temos esta organização por Distritos precisamente para agregar estes organismos. P – Qual é a missão do Rotary Club, o que faz e o que norteia as atividades dos rotários? R – O Rotary, essencialmente, é uma organização de serviço à comunidade. Existe há 118 anos, que vai completar no dia 23 de fevereiro, começou em Chicago com um grupo de empresários que decidiu organizar um grupo para fazer o bem à comunidade. O que nós fazemos hoje é basicamente o mesmo, são empresários, líderes comunitários, profissionais de várias áreas que se juntam para fazer o bem onde é necessário. Trabalhamos desde o desenvolvimento económico e comunitário local, trabalhamos na melhoria do acesso a água potável e a saneamento, na educação, na saúde, nomeadamente na saúde materno-infantil, na promoção da paz, na proteção do ambiente, onde temos várias áreas de atuação. Trabalhamos localmente, mas pensamos a nível internacional e temos milhares de projetos a acontecer em simultâneo em países do continente africano e asiático, mas também na América latina, onde é mais necessário o nosso apoio. Localmente, apoiamos muito as instituições locais, temos também projetos próprios na angariação e concessão de bolsas de estudo para jovens no secundário e na universidade, quer a nível de mestrado e de doutoramento. O próprio Rotary Internacional tem uma fundação, que é uma das maiores nesta área, e cujo orçamento nos últimos anos foi de mais de 4 mil milhões de dólares. Através dela apoiamos a prossecução do nosso objetivo, nomeadamente os tais projetos humanitários e a concessão de bolsas de estudo. A área de atuação é muito grande. Veja só: nos anos 80, o Rotary Internacional decidiu acabar com a poliomielite…. P – Essa é a grande bandeira do movimento Rotary. R – É uma das nossas grandes bandeiras. Nos anos 60/ 70 do século passado havia muito medo de uma criança contrair a poliomielite porque ou morria ou deixava-a com paralisia, aliás chamava-se, em Portugal, paralisia infantil. Foi uma grande decisão que o Rotary tomou nos anos 80, com parceiros como as Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde, a UNICEF e muitos governos, e conseguimos criar uma campanha de vacinação que permitiu vacinar milhares de milhões de crianças desde então. É com alegria que vemos que, hoje, esta doença só está circunscrita em dois países, o Afeganistão e Paquistão, talvez por causa das características desses país, mas estamos com esperança que dentro de poucos anos essa doença vai acabar. A erradicação da poliomielite vai ser, sem dúvida, uma das nossas grandes vitórias. P – Na Guarda, além de participar na comemoração dos 25 anos do Rotary Club local, plantou uma árvore no Parque da Saúde. Qual é a simbologia desse ato? R – São várias. Uma é que os rotários, desde sempre, gostaram muito de plantar árvores, há muitos anos que o Rotary o faz para assinalar uma conferência distrital ou outro acontecimento. Às vezes até lhe chamamos “Árvore da Amizade”, agora, desde há três ou quatro anos, temos também um propósito, uma área de enfoque, como lhe chamamos, que é a proteção do meio ambiente. A plantação de árvores é fundamental para isso, para ajudar a mudar esta tendência de alterações climáticas, termos melhor qualidade de vida e nós percebemos a importância das árvores. O Rotary Club da Guarda tem feito um trabalho extraordinário no Parque da Saúde onde já foram plantadas centenas de árvores. Eu tive o privilégio de plantar a primeira da campanha deste ano. P – Qual foi a mensagem que deixou aos rotários da Guarda? R – Que continuem motivados a fazer o bem na comunidade. O nosso trabalho é muito intenso, muitas vezes trabalhamos até acima das nossas próprias possibilidades físicas e mentais porque sabemos que há muita gente a precisar. Vimos de uma situação de pandemia, já estamos numa situação de inflação elevada por causa da guerra e precisamos todos de motivação, de nos sentirmos encorajados a continuar a fazer o que tem que ser feito porque ainda há muita gente a precisar de apoio, de ajuda. Há muitos estudantes a precisar de apoio para prosseguirem os estudos, há pessoas que não têm acesso à mesma oportunidade que todos têm e cá estamos nós, profissionais, líderes comunitários, para ajudar naquilo que é preciso. A mensagem que trazemos é imaginarmos um mundo melhor, aliás, o lema deste ano do Rotary é “Imagine o Rotary”, no sentido de imaginarmos um mundo onde possamos não ter essas necessidades. Mas enquanto elas existirem o Rotary cá estará, pode ser que um dia o mundo deixe de ter essas necessidades e o Rotary já não faça falta. Por isso, a nossa mensagem é de motivação – temos uma declaração de visão lindíssima – é provavelmente das mais bonitas que conheço no seio das associações humanitárias – que diz “Juntos vemos o mundo onde as pessoas se unem e entram em ação para causarem mudanças duradouras em si mesmas nas suas comunidades e em todo o mundo”. __________________________________________________________________ José Alberto Oliveira Governador Rotary Distrito 1970 (Centro e Norte de Portugal) Naturalidade: Braga Profissão: Jornalista e empresário CurrículoJornalista e fundador de várias empresas ligadas à comunicação social e às tecnologias de informação; Certificado em “coaching”, membro do Rotary Clube de Braga-Norte desde 2012; Eleito governador do Distrito 1970 do Rotary International durante o ano rotário 2022-2023. Livro preferido: não indicou Filme preferido: “Feitiço do Tempo”, de Harold Ramis Hobbies: Ler, viajar, investigar – especialmente na área da história – e trabalhar voluntariamente pela defesa dos mais desprotegidos, incluindo pessoas, ambiente e animais.

Sobre o autor

Efigénia Marques

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