Cara a Cara

«Em Portugal, as mulheres já têm mais direitos consagrados na Lei, mas falta aplicá-los na vida»

Escrito por Jornal O Interior

Entrevista a Maria Inês Teixeira Tomé, guardense dirigente do Movimento Democrático das Mulheres

P – O Movimento Democrático das Mulheres vai organizar no dia 8 de março uma manifestação no âmbito do Dia Internacional da Mulher. Qual é a sua expetativa em termos de adesão?

R – O Movimento Democrático de Mulheres (MDM) está a organizar a manifestação a nível nacional. Dia 8 de março rumamos todas a Lisboa dos vários pontos do país, para a concentração agendada para as 14h30 na Praça dos Restauradores. Depois o desfile seguirá para a Ribeira das Naus onde haverá um pequeno momento cultural. Estamos a trabalhar para a mobilização das mulheres do distrito da Guarda, contando com a participação de mulheres de vários concelhos, nomeadamente da Guarda, Sabugal, Pinhel, Gouveia e Seia, sendo expectável conseguirmos levar um autocarro como uma amostra distrital!

P – O que é e o que faz o Movimento Democrático das Mulheres?

R – O MDM é um movimento apartidário com mais de meio século de existência e que desde sempre manteve uma atividade marcada pela defesa dos direitos, da dignidade e da igualdade entre mulheres e homens, assim como pela emancipação das mulheres no nosso país. Assume-se como movimento de opinião e de intervenção que valoriza o legado histórico dos movimentos de mulheres que lutaram contra a opressão e as desigualdades entre mulheres e homens, defenderam e defendem os direitos das mulheres nas suas vertentes políticas, sociais, económicas e culturais e de direitos humanos. É um espaço onde a mulher comum e invisível tem voz e expressão! Saliento o facto do MDM ser membro do Comité de Dirigentes da Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM), do Conselho Consultivo da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) e da Rede de Apoio e Proteção às Vítimas de Tráfego.

P – Já vivemos numa sociedade com mais igualdade e direitos para as mulheres? O que falta mudar?

R – Na sociedade atual, em Portugal, podemos afirmar que as mulheres já têm mais direitos consagrados na Lei. Falta aplicar esses mesmos direitos na vida! Eis o porquê de uma das nossas máximas ser “Igualdade na Vida é o Combate do nosso tempo”. Assim como faltam políticas que deem resposta ao combate das violências… Refiro-me à violência doméstica, mais que badalada…, À prostituição, um flagelo a erradicar porque jamais poderá ser considerado uma profissão, como tem vindo a ser defendido… À precarização da mão de obra feminina, porque são as mulheres que mais têm vínculos precários e as que maioritariamente são contempladas pelos baixo salários, assim como cargas horárias excessivas e desreguladas privando-as do direito à vida familiar… Creio serem estas as principais para a resposta não ficar muito extensa…

P – Quais são os principais problemas que enfrentam as mulheres na região?

R – Posso avançar que são transversais aos mesmos problemas a nível nacional, mas com especificidades tendo em conta a interioridade que caracteriza a nossa região. Muitas delas são domésticas a tempo inteiro, pelo que dependem dos companheiros ou sobrevivem com pequenas reformas… São mulheres que se dedicam à casa e agricultura de subsistência… Mulheres de trabalho que não sabem o que é um horário de trabalho, o que são férias e que têm medo de dizer o que pensam nos espaços públicos…

P – Além desta manifestação, que outras iniciativas contam realizar em 2020?

R – A nível nacional, em 2020, o MDM, além do seu trabalho regular, irá organizar um seminário internacional sobre o tema “As mulheres e o mundo do trabalho em Portugal e na Europa”, no final de abril em Loures. Com início em 2020, mas com a duração de dois anos, existe o projeto “Para Além do Amor”, que se debruçará sobre violências contra as mulheres e terá uma implantação nacional. Uma das regiões em que iremos trabalhar será a Guarda, onde já temos contactos estabelecidos com o NIAVE, da GNR. No que à cidade da Guarda em concreto diz respeito estamos a pensar levar junto das escolas ações de sensibilização sobre a violência no namoro e o respeito pela integridade física e moral de cada um dos indivíduos independente do género… São ações que atempadamente divulgaremos para que haja boa adesão.

Perfil de Maria Inês Teixeira Tomé:

Dirigente do Movimento Democrático das Mulheres

Idade: 50 anos

Naturalidade: Guarda

Profissão: Assistente operacional do sector jardins e espaços públicos da Câmara da Guarda

Livro preferido: “O Príncipe”, de Maquiável,

Filme preferido: “ E tudo o vento levou”, de Victor Fleming, é um dos muitos

Hobbies: Passear os meus cães

Sobre o autor

Jornal O Interior

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