P – Após trabalhar quatro anos como diretor artístico do Teatro Virgínia, vai agora desempenhar o mesmo cargo no futuro Centro de Inovação Cultural da Covilhã. Como é este “regresso a casa”?
R – É evidente que a Covilhã é um território que eu conheço muito bem e, portanto, o que penso é que poderei dar um bom contributo para o desenvolvimento do que vai ser a atividade do Teatro Municipal da Covilhã e do Centro de Inovação Cultural, através das residências. E depois dar todo o apoio às estruturas profissionais, como é evidente, dentro do que for possível dar resposta porque há equipas em constituição. Ainda vai demorar algum tempo para saber exatamente qual vai ser a dimensão de cada uma das situações.
P – Essa equipa será composta por quantas pessoas?
R – Estou a fazer o levantamento neste momento. Assinei o contrato na segunda-feira, portanto as reuniões preliminares que tive foram relativas a outro tipo de informação, nomeadamente que a Câmara [da Covilhã] trate de anunciar quando é que o teatro estará pronto. Estamos a analisar orçamentos, como é evidente, e só a partir daí é que saberei exatamente. Há de certeza uma parte nuclear da equipa, que depois será complementada com outras pessoas que eventualmente já fazem parte dos quadros da Câmara.
P – Portanto essa parte nuclear – que presumo que esteja mais ligada diretamente a si – serão pessoas da região?
R – O que eu planeio é encontrar uma equipa coesa, como é evidente, [que seja] competente. Portanto dentro do que for possível ter pessoas da região, serão pessoas da região, mas não vivo fechado sobre essa parte. Acho que é importante todos nós trocarmos conhecimentos e quem vier de fora será bem-vindo, sejam da região ou sejam de outras localidades. O que interessa é, essencialmente, que seja uma equipa que dê resposta às necessidades do teatro e de todos os criadores que irão passar pelo teatro, como é evidente.
P – O que é que pode mudar na Covilhã com este novo Centro de Inovação Cultural?
R – O que penso é que vai haver uma programação muito mais regular. Apesar de muitas vezes parecer que não há programação na Covilhã, isso não corresponde à verdade – talvez as divulgações sejam muito dispersas – mas a realidade é que essa concentração num espaço também irá fazer com certeza com que a Covilhã tenha uma visibilidade maior e atrair as pessoas da Covilhã e da região – porque gostava de estender também à região, como os outros teatros que já existem, que o fazem muito bem. Portanto, penso que é uma mais-valia para a Covilhã e para a região termos mais um equipamento cultural a funcionar e com certeza que espero que dê o melhor para que seja uma contribuição [positiva] e, inclusive, que se façam novos desafios, além dos que já existem, um dos quais é a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura, que é evidente que faz parte.
P-Falando da candidatura da Guarda… de que forma irá cooperar?
R-O conhecimento que tenho e a relação que mantenho com a candidatura é muito mais pessoal do que a este nível (do teatro). É evidente que a partir do momento em que a cidade da Covilhã faz parte também das cidades que apoiam a candidatura, faz todo o sentido que as estruturas culturais também o façam. Portanto o que diria é que irei fazer o meu melhor dentro do que for a candidatura em si, em relação aos outros concelhos que fazem parte e que a apoiam…o que me for pedido com certeza estarei disponível. E eu penso que [a candidatura] contribuirá também para uma maior circulação de espetáculos, que nos interessa a todos, como é evidente, mas também a criação que com certeza irá ser feita na região nos beneficiará a todos, independentemente da localidade onde estamos a fazer o nosso trabalho.
P- Nessa questão da criação local e regional… esta sua nova responsabilidade pode ir no sentido de fazer pontes com os seus outros projetos (Quarta Parede, Teatro das Beiras)?
R- Eu penso que é evidente que vai haver um diálogo com todas as estruturas profissionais, dos que trabalham todos os dias em cultura e que podem dar resposta. Não vou privilegiar nenhuma estrutura, como é evidente, muito menos a minha (o que faria todo o sentido). O que vou tentar é arranjar pontos de equidade e colaboração com todos eles de maneira a que o próprio equipamento beneficie de quem trabalha na Covilhã. Porque na realidade o que faz sentido é que o equipamento seja, essencialmente, um veículo que faça também com que todos nós trabalhemos mais e melhor e com maior dimensão, penso eu. Portanto, dentro dessas hipóteses é evidente que espero a melhor colaboração de todos como terão a maior colaboração minha, dentro, como disse, da parte da equidade, que me parece extremamente importante nestas situações.
P-Qual será, na sua opinião, o maior desafio ou dificuldade?
R-Acho que vou ter dificuldades….é evidente que implementar o trabalho num equipamento com a dimensão que vai ter o Teatro Municipal da Covilhã e o Centro de Inovação Cultural será um desafio difícil mas também será muito gratificante, e portanto irei resolver os problemas conforme eles forem surgindo. Não quero inventar problemas antes de existirem, não é a minha maneira de estar na vida. Sei que vão acontecer e sei que os vou tentar resolver da melhor maneira. É isso que todos desejamos: que a cultura funcione bem e funcione também em rede, com as estruturas já existentes no terreno, sejam, como disse, da Covilhã ou de outras cidades. Interessa-me e muito a região. Sempre a defendi e continuarei a defende-la e portanto dentro dessa medida farei o melhor para que seja uma contribuição positiva para todos avançarmos, que é o que penso que todos desejamos.
Sofia Craveiro
Perfil de Rui Sena:
Diretor artístico Centro Inovação Cultural Covilhã
Idade: 67 anos
Naturalidade: Covilhã
Currículo: Licenciado em Estudos Teatrais pela Universidade de Évora. Em 1974, foi um dos membros fundadores Teatro das Beiras, onde permaneceu até ao ano 2000. Entre 2014 e 2018 foi diretor artístico do Teatro Virgínia, em Torres Novas. É fundador e diretor artístico da Quarta Parede – Associação de Artes Performativas.
Hobbies: Particar ski, ler, cinema, viajar
Livro preferido: Não consigo escolher um, mas destaco “A Montanha Mágica” de Thomas Mann, “Memorial do Convento” de José Saramago, “A Lã e a Neve” de Ferreira de Castro
Filme preferido: Igualmente é impossível escolher, mas destaco “Casa Blanca”, de Michael Curtiz; “Era Uma Vez na América” de Sérgio Leone, entre outros