Cara a Cara

«Desmistificar a saúde mental é muito importante, ajuda a integrar»

Escrito por Jornal O Interior

Rui Miguel Guedes Pinto

P – Como caracteriza a Casa de Saúde Bento Menni nos seus 25 anos de atividade na Guarda?
R – A Casa de Saúde Bento Menni é um estabelecimento que presta cuidados humanizados em saúde mental, nas áreas da psiquiatria, psicogeriatria e deficiência intelectual. Dispomos de uma lotação para 168 camas distribuídas por sete unidades de internamento, oferecendo serviços médicos, de enfermagem, psicologia e psicopedagogia, fisioterapia, educação física adaptada, reabilitação ocupacional, serviço social e de pastoral da saúde.
Disponibiliza aos seus utentes diversos espaços sócio terapêuticos, nomeadamente uma cafetaria, um bazar, biblioteca, auditório, cabeleireiro.
Este centro conta atualmente com a colaboração de cerca de 100 profissionais nas áreas assistencial e não assistencial e é o mais recente de 12 estabelecimentos que o Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus dispõe em Portugal Continental e ilhas. Preconizamos uma abordagem holística centrada na pessoa como um todo, promovendo a saúde integral. A qualidade profissional, a humanidade, a ética e o acolhimento são também valores da nossa instituição, bem como a sensibilidade em relação aos excluídos e o serviço aos doentes e necessitados. Ao longo destes 25 anos, esta Casa foi-se construindo, dando hoje uma resposta completa nas suas áreas de intervenção.

P – A instituição tem lista de espera para acolher utentes? De quantas pessoas? A que se deve essa situação?
R – A instituição gere os pedidos de internamento em função da capacidade assistencial de que dispõe para cada tipologia de intervenção, devendo todos os casos responder aos critérios de admissão. Temos períodos com maior ou menor lista de espera, que variam conforme várias condicionantes e que neste momento não confere um problema para quem (respondendo aos critérios de internamento) procure os nossos serviços dado que temos duas camas disponíveis.

P – Quais são os principais constrangimentos ao seu funcionamento e como pensam contrariá-los?
R – O grande desafio é sempre a gestão de recursos escassos, uma vez que procuramos providenciar um serviço de excelência e desenvolver novas respostas associadas à prevenção e combate ao estigma. Outro constrangimento que temos é a perceção de que há pessoas que necessitam deste tipo de resposta, mas que não estão a chegar até nós. A abertura da instituição ao exterior é fundamental por forma a que as pessoas conheçam os nossos serviços, nos identifiquem pela prestação de cuidados humanizados em saúde mental e para que possamos ir desmistificando o estigma que existe em redor da doença mental.

P – Que novos projetos tencionam implementar nos próximos tempos?
R – Tencionamos desenvolver um Gabinete de Intervenção Comunitário que terá como missão a prevenção, o diagnóstico precoce e a melhoria da literacia em saúde mental e combate ao estigma, bem como o acompanhamento no pós-alta na transição do internamento para a vida ativa promovendo a autonomia e o reforço de competências. Em paralelo, temos outro projeto na área das demências já previsto há algum tempo, mas que ainda não avançou. Designa-se PIPAM, sigla de “Programa de intervenção precoce nas alterações da memória”, e pretende intervir de uma forma precoce nas patologias associadas ao processo demencial, por forma a atrasar o mesmo. Estes dois projetos não visam o internamento.

P – A Casa de Saúde Bento Menni tem condições para crescer na Guarda ou atingiu o seu limite?
R – A Casa de Saúde Bento Menni tem como missão prestar cuidados humanizados em saúde mental, pelo que, enquanto houver pessoas que deles necessitem, estaremos presentes. Segundo os dados que são públicos, o número de consultas externas em Psiquiatria nesta cidade tem aumentado significativamente nos últimos anos, facto que nos deve deixar alerta. Ao nível do internamento temos uma capacidade limitada para 168 camas e não perspetivamos aumentar esta lotação. Contudo, como referido atrás, temos como objetivo manter esta resposta e proporcionar novos serviços no campo da prevenção, literacia e combate ao estigma. Desmistificar é muito importante, ajuda a integrar. Essa também é a nossa missão.

Perfil de Rui Miguel Guedes Pinto:

Diretor Gerente da Casa de Saúde Bento Menni da Guarda

Idade: 34 anos

Naturalidade: Sernancelhe

Profissão: Economista

Currículo: Auditor financeiro (2007-2012); “controller” de gestão e diretor administrativo e financeiro (2012-2018); diretor gerente na Casa de Saúde Bento Menni desde 2018

Livro preferido: “A liderança, segundo Francisco”, de Chris Lowney

Filmes preferidos: “Amigos improváveis”, de Olivier Nakache e Éric Toledano

Hobbies: Viajar, praticar desporto, cozinhar.

Sobre o autor

Jornal O Interior

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