Cara a Cara

«Depois de seis anos de estagnação queremos fazer da concentração dos “Lobos da Neve” um marco para o futuro»

Escrito por Jornal O Interior

Entrevista a Rui Santos, Presidente do Moto Clube da Covilhã – Lobos da Neve, no âmbito da XXVIª Concentração Invernal, que se inicia hoje no Parque Campismo da Ponte Pedrinha, no Tortosendo Covilhã)

P – O Motoclube da Covilhã foi fundado em março de 1998, mas a concentração dos “Lobos da Neve” já se realizava antes disso. Onde nasceu esta tradição?

R – Isto começou com um grupo de amigos, que decidiram de forma informal realizar um encontro motard na Serra da Estrela em 1988. Na altura os fundadores – naturais de Lisboa, Porto e outros pontos do país – organizaram essa concentração no Covão D’Ametade – o que hoje seria impensável. Eu não estive presente nessa concentração, mas pelo que sei estiveram cerca de 50 pessoas no evento cuja organização ficou apelidada de “Lobos da Neve”. O sucesso desta primeira edição levou a que todos os anos se repetisse o encontro. As duas edições seguintes decorreram nas Penhas da Saúde, no Clube Nacional de Montanhismo e depois no antigo Sanatório. Nós tomámos as rédeas e fundámos o Moto Clube em 1998, mas só avançámos com a realização de atividades de forma autónoma em 2000, altura em que, após conversarmos com os fundadores dos “Lobos da Neve”, associámos este nome à designação do Moto Clube da Covilhã. Nessa altura o clube começou quase como uma brincadeira. Só cerca de um ano mais tarde abrimos o grupo a sócios e as pessoas começaram lentamente a aderir. Com o aumento das atividades começou a haver cada vez mais gente interessada em juntar-se ao Moto Clube. Hoje temos 254 sócios.

P – O clube esteve inativo entre 2013 e 2018. Quais os factores que levaram a essa estagnação?

R – A última concentração antes desse período de inactividade foi em 2014, e o evento não correu bem. Nessa altura eu não fazia parte da direção, mas pelo que tenho conhecimento os problemas ficaram a dever-se um pouco à mudança de presidência na Câmara da Covilhã. Na altura “penduraram-se” muito no apoio da autarquia, mas essas ajudas diminuíram consideravelmente com a mudança política, o que criou problemas. Depois disso foi um acumular de insucessos. Talvez o pior deles tenha sido a realização da concentração no pavilhão da ANIL, que “matou” completamente o espírito do evento. Isto não se pode organizar em espaços fechados, o importante é criar antes condições para que as pessoas estejam bem ao ar livre. Assim a concentração foi-se tornando uma coisa muito residual, que já não trazia nada à cidade, e o interesse foi-se perdendo. O clube tinha dívidas, o património que tínhamos desapareceu… Acabámos por estar seis anos sem qualquer actividade.

P – Qual foi o mote para retomarem a actividade? O que despertou esse interesse?

R – Em 2018 havia alguma nostalgia no ar. Após conversarmos bem sobre o assunto decidimos arrancar novamente com o clube e retomar a atividade. Convocámos uma reunião pública através das redes sociais na data dos 20 anos do Moto Clube. Nesse encontro apelámos aos antigos sócios e a toda a população e obtivemos uma grande receptividade por parte da comunidade. Foi-nos concedida uma sede, em Peraboa, sem custos, o que foi uma grande ajuda por parte da Junta de Freguesia/ Câmara. Os sócios começaram a regularizar as suas cotas e a ficar mais do nosso lado. Apesar de haver vontade de muita gente, não foi possível realizar a concentração logo no ano seguinte. Preferimos antes consolidar a nossa situação para que depois fosse possível organizar algo em grande, mais tarde – que é o que estamos a fazer agora.

P – Quais as expectativas para a concentração deste ano?

R – Depois de seis anos de estagnação queremos fazer desta concentração um marco para o futuro. Quisemos organizar uma coisa a sério, que nos permitisse recuperar o espírito das concentrações do passado. Foi muito por essa razão que preferimos não a fazer em 2019, porque quisemos primeiro estabilizar a situação do clube. Este ano a festa tem um orçamento de 30 mil euros. É sempre um risco muito grande, pois só no fim é que teremos o dinheiro necessário para pagar todas as despesas. Um valor destes é sempre muito elevado para um clube com a nossa dimensão. À parte disso, este ano estamos com mil inscrições limitadas – isto é, inscrições que contemplam o campismo, as refeições e as atividades – e esperamos depois ter muitos visitantes, já que é um evento aberto ao público. Temos um programa bastante dinâmico, onde incluímos concertos, espetáculos de “freestyle”, um “bike show” e os tradicionais shows eróticos. Além disso vamos ter a megafogueira, que estará acesa durante os três dias. O evento termina no domingo, quando realizamos uma bênção em memória do padre José Fernando, o padre motard, que nos era muito querido. Já o espaço onde estamos – no Parque de Campismo do Tortosendo, Ponte Pedrinha – é brutal. Antes estava completamente devoluto e agora foi todo revitalizado, o que será uma mais valia para toda a população daqui para a frente.

Perfil de Rui Santos:

Presidente da direção e membro fundador do Moto Clube da Covilhã – “Lobos da Neve”

Idade: 42 anos

Naturalidade: Covilhã

Profissão: Técnico de vendas

Livro preferido: “Os Filhos da Droga”, de Christiane F.

Filme preferido: “Easy Rider”, de Dennis Hopper

Hobbies: BTT e motociclismo

Sobre o autor

Jornal O Interior

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