Cara a Cara

«Com ou sem surtos, continuamos de forma ativa e diária a cuidar dos nossos utentes»

Escrito por Jornal O INTERIOR

Entrevista a Rui Reis, Presidente reeleito da União Distrital das Instituições Particulares de Solidariedade Social (UDIPSS) da Guarda

P – Por que decidiu continuar à frente da União Distrital das Instituições Particulares de Solidariedade Social (UDIPSS) da Guarda?
R – Decidi candidatar-me para mais um mandato porque considero que, pelas circunstâncias que vivemos neste momento e sobretudo pela atualidade e a intervenção que tem de ser feita nas ações sociais que dão resposta a esta pandemia, era importante haver uma estrutura que continue a dar o apoio necessário, e reconheço que melhor apoio dará quem já está há alguns anos na União Distrital. Equacionei não me recandidatar, mas o conjunto das associadas que compõem a UDIPSS Guarda considerou que era importante eu continuar a dar o meu trabalho e pediu-me para prosseguir.

P – Na sua opinião, qual a importância das IPSS?
R – A importância que temos de atribuir às IPSS é que têm sido um suporte muito importante para o Governo, porque está consagrado na Constituição que quer da área da infância, quer da área das pessoas mais idosas e das pessoas mais vulneráveis, o Estado tem um compromisso a nível social para satisfazer algumas das suas necessidades. Portugal é um bom exemplo onde o Estado delega nas Instituições Particulares de Solidariedade Social este tipo de trabalho: o apoio às populações. No fundo, o papel das IPSS é cumprir aquilo que está determinado pela Constituição e valorizar o trabalho local que cada uma delas tem.

P – Ao longo destes sete anos de mandato qual foi a maior dificuldade que as IPSS da Guarda enfrentaram?
R – Com ou sem pandemia, neste momento a maior dificuldade prende-se com a falta de recursos, sobretudo ao nível de recursos humanos. Temos grandes dificuldades de recrutamento de pessoas para trabalharem nas nossas respostas sociais. Se calhar tem a ver com os horários, porque quem trabalha com pessoas institucionalizadas tem alguma dificuldade em fazê-lo por turnos, logo aí acarreta um certo número de dificuldades. Não conseguimos cativar para o setor social muitas pessoas e sobretudo por um pormenor, porque também temos salários muito baixos, o que faz com que não seja atrativo trabalhar no nosso setor. Depois, há uma outra particularidade que se torna uma dificuldade: é o número de acordos de cooperação que é baixo face ao apoio que as instituições prestam. Ou seja, o apoio que a Segurança Social dá através de protocolos de cooperação é um valor reduzido, é pouco mais de metade relativamente ao custo médio por cada utente.

P – De que forma essa escassez de recursos humanos podia ser combatida? Que incentivos poderiam ser adotados?
R – O único incentivo que poderia trazer para o nosso setor mais algumas pessoas era as instituições terem capacidade de pagar salários mais justos, mais altos. Isso talvez permitisse melhorar o número de pessoas disponíveis para trabalhar nas nossas organizações. O distrito da Guarda, tal como a maioria dos distritos do interior, vê que estas respostas sociais criam emprego e admitem pessoas, mas que, se calhar, não é tão atrativo justamente pela razão que já referi: não termos salários altos.

P – Quais são as suas ambições para este novo mandato na UDIPSS Guarda?
R – Em primeiro lugar, que fizéssemos o melhor trabalho e a melhor gestão daquilo que tem sido a pandemia e do que poderá ainda ser durante algum tempo. Esta questão da vacinação é por si só um desafio no mandato, como também a forma de estar e o bem-estar dos utentes e das instituições do distrito da Guarda, o que obviamente já é um grande desafio para 2021. No que diz respeito ao resto do mandato, esta direção tem como pilares importantes o continuar a apoiar as instituições ao nível da formação e daquilo que podem ser cumprimentos legais, bem como em termos da melhoria da intervenção social, e isso só se consegue se estivermos próximos das organizações. É, no fundo, conseguir que continuemos a apoiar as instituições de uma forma proativa, junto delas de maneira interventiva e capacitá-las para poderem dar respostas adequadas para resolver os problemas dos grupos mais vulneráveis.

P – Em relação à pandemia, como é que as IPSS da Guarda têm conseguido lidar com a situação?
R – As IPSS estão cansadas porque a intervenção que temos tido no terreno tem sido quase de guerra, de grande combate no dia-a-dia. O quotidiano de uma instituição de solidariedade é sempre um grande desafio. Temos consciência que, se calhar, às vezes só podemos contar connosco próprios, mas tem existido por parte dos municípios uma intervenção que considero muito positiva, que nos têm ajudado e acudido naquilo que são as pretensões das autoridades de saúde, na questão da testagem, nos apoios que têm sido dados a cada uma das instituições onde surgem surtos. À parte da saúde, temos dado uma imagem de que não abandonamos os nossos utentes sempre que há surtos, ficamos ao seu lado, continuamos a cuidar deles e das nossas instituições, que hoje em dia são essenciais na prestação destes cuidados à população sénior. Os colaboradores das organizações merecem um agradecimento muito especial porque sem eles não era possível muitas das pessoas poderem, diariamente, ser alimentadas e terem o apoio que damos. Estejamos com ou sem surtos, continuamos aqui de forma ativa e de forma diária a enfrentar aquilo que é o nosso dia-a-dia.


RUI REIS
Presidente reeleito da União Distrital das Instituições Particulares de Solidariedade Social (UDIPSS) da Guarda

Idade: 57 anos

Naturalidade: Gouveia

Currículo: Pós-graduado em mestrado em Gestão de Instituições Sociais; Presidente do Conselho de Administração da Fundação D. Laura dos Santos, em Moimenta da Serra (Gouveia)

Livro preferido: “Pai Nosso de Cada Dia”, de José David Quintal, Padre Vieira

Filme preferido: “O Nome da Rosa”, de Jean-Jacques Annaud

Hobbies: Fazer longas caminhadas; andar de bicicleta

Sobre o autor

Jornal O INTERIOR

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