Cara a Cara

«As mulheres não têm muita facilidade em conciliar a vida associativa, familiar e profissional»

Escrito por Jornal O INTERIOR

Entrevista a Deolinda Pina, Presidente da direção do Clube de Montanhismo da Guarda

P – É a primeira mulher a assumir a presidência do Clube de Montanhismo da Guarda. Como surgiu essa oportunidade?
R – Sou efetivamente a primeira mulher a assumir a presidência em termos de direção, mas sou também a única mulher sócia-fundadora e estou no Clube de Montanhismo desde a sua fundação. Infelizmente, as mulheres não têm muita facilidade em conciliar a vida associativa, a vida familiar e a vida profissional. Talvez por essa razão o clube e as restantes coletividades são mais entregues aos homens. Nas últimas eleições, o presidente cessante lançou-me esse desafio e, portanto, foi uma lista que foi surgindo e sugerida pelo presidente anterior e eu aceitei. Fomos a votação e fomos eleitos numa Assembleia-Geral.

P – Sendo mulher, como é presidir um clube em que a maioria dos sócios e dirigentes são homens?
R – É fácil, tendo em conta que é trabalhar em equipa. O que condiciona é sermos todos voluntários, de resto os meus colegas são bastante cooperativos, temos uma ótima relação e nesse aspeto é fácil. As coisas funcionam, há um espírito de colaboração e de interajuda bastante grande e não há nada a dificultar. De resto, neste momento a vida associativa não está fácil para ninguém, mas fazemos o melhor.

P – Os desportos de montanhismo têm tido maior procura nos últimos tempos, o clube tem aumentado sócios?
R – O Clube de Montanhismo da Guarda tem muitos sócios. Neste momento há uma oferta tão grande a todos os níveis que a prática desportiva aumentou de um modo geral. As pessoas têm uma maior variedade e acabam por pedir por fazer prática desportiva de uma forma até mais individual. No nosso caso não tivemos assim uma quebra tão grande. Tivemos uma redução este ano, mas penso que 2020 não poderá ser um dado de referência por ser um ano muito atípico e que nos veio condicionar muito. Tentámos manter o máximo de atividade que tínhamos previsto, mas não conseguimos realizar tudo o que estava planeado, principalmente entre março e julho devido às regras estabelecidas pela Direção-Geral da Saúde.

P – Quais as maiores dificuldades sentidas no Clube de Montanhismo?
R – As grandes dificuldades de qualquer coletividade passam por questões financeiras, porque não temos receitas para além das quotas dos sócios, dos apoios dos patrocinadores e dos subsídios das autarquias e Juntas de Freguesia. Nesta fase as coisas ressentiram-se e houve alguns patrocínios que não tivemos. Depois tem a ver com facto de a atividade ser desenvolvida por nós de forma voluntária e exigir, ao nível da disponibilidade de cada um, às vezes bastante flexibilização e articulação para pormos as coisas a funcionar.

P – De que forma a pandemia tem afetado o Clube e as atividades planeadas?
R – A maior dificuldade foi nas atividades de escalada, em que necessitávamos de utilizar o pavilhão de S. Miguel e não estava aberto, pelo que tivemos mesmo de as suspender. Tudo que fosse “indoor” teve de ser suspenso. Mas os sócios tiveram a sua atividade na montanha, iam fazendo e foram-nos dando conhecimento. Essas foram mesmo as maiores lacunas. Outra contrariedade também muito grande foi que tivemos que adaptar a Invernal de BTT, que é uma prova ex-libris do Clube, que realizámos com uma dinâmica diferente. E aí sentimos bastante porque aquele convívio, aquele movimento que nos habituámos e que é muito gratificante, não foi possível. De resto fomos tentando planear outras atividades e ir de encontro às expectativas de alguns sócios e das pessoas que geralmente participam nas nossas iniciativas. Sendo um Clube de Montanhismo e de bem-estar, não podíamos de forma nenhuma deixar de cumprir à risca as orientações que vinham da DGS e do próprio Governo.

P – Quais são os planos para o futuro do Clube de Montanhismo?
R – Estamos a elaborar o relatório de atividades do ano que decorreu e quero deixar referência a uma atividade que surgiu para pormos os sócios a funcionar, que realizámos em julho integrada no Dia Mundial do Ambiente e que queremos manter. É um projeto que surge a nível global, que é a “Montanha limpa”, em que durante três dias desafiámos os sócios a realizar qualquer atividade em contexto de montanha e depois partilhavam connosco a sua experiência, quer em termos do que tinham encontrado de bom, o que nos aconselhavam a visitar, quer aquilo em que era necessário fazer uma intervenção por parte das entidades competentes. Vamos tentar manter as habituais atividades de montanha, vamos ver se, desta vez, conseguimos ultrapassar as grandes questões decorrentes da participação em atividades na Serra da Estrela. Há regras muito rígidas do Parque Natural da Serra da Estrela que nos condicionam bastante. Depois vamos manter uma caminhada por mês, algumas feitas na Guarda para divulgação do nosso património. Manteremos também a canoagem com três grandes descidas – do Rio Zêzere, Rio Côa e Rio Mondego. Outra das nossas pretensões é realizar o “trail” da Guarda, que já tínhamos previsto este ano mas não foi possível realizar. Também queremos manter as atividades de escalada, de BTT e dar algum dinamismo a um espaço que temos junto aos Passadiços do Mondego. É um centro de apoio ao montanhismo para que possamos também voltar a dinamizar a escola de escalada do Caldeirão. Esses são os grandes objetivos para o próximo ano.

Perfil de Deolinda Pina

Presidente da direção do Clube de Montanhismo da Guarda

Idade: 58 anos

Naturalidade: Espedrada (concelho de Pinhel)

Profissão: Professora de Educação Física na Escola Secundária Afonso de Albuquerque

Currículo: Mestrado em Educação Física e docente de Educação Física

Livro preferido: “O Rapaz do Pijama às Riscas”, de John Boyne

Filme preferido: “A vida num sopro”, de José Rodrigues dos Santos

Hobbies: Fazer desporto, ouvir música, dançar e conviver com os amigos

Sobre o autor

Jornal O INTERIOR

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