Cara a Cara

«A plataforma OpusPausa quer mostrar que temos muitos e bons músicos em todo o distrito»

Escrito por Jornal O INTERIOR

Entrevista a Matilde Andrade, Co-fundadora da plataforma “OpusPausa”

P – Como surgiu a “OpusPausa” e quais são os seus objetivos?

R – A plataforma “OpusPausa”, cuja equipa é constituída por mim, pelo Leonel Andrade, pela Mariana Rodrigues, pela Matilde Freiria e pela Rita Miragaia, todos ex-alunos do Conservatório de Música de S. José da Guarda, surgiu da necessidade de vermos reconhecido o nosso trabalho na cidade que nos formou e de poder incluir o distrito na rota dos nossos percursos profissionais. A produção artística e a fixação de músicos e profissionais das várias artes performativas no distrito é ainda escassa, a oferta e programação cultural tem estado aquém das nossas expectativas e notamos que a atenção dada aos músicos profissionais naturais da região e que aqui finalizaram a sua formação de base, contribuindo para as dinâmicas culturais, criação de públicos e desenvolvimento do território, é reduzida. Impele-nos a vontade de transformar este cenário na esperança de projetar a Guarda num futuro artisticamente mais rico. Iniciámos o nosso trabalho com o foco na capital de distrito por a ela estarmos afetos, mas rapidamente percebemos a urgência de estender as reflexões a todo o distrito, onde encontrámos inúmeros colegas que partilham connosco a vontade de crescer, criar e inquietar. É nosso objetivo mostrar que temos muitos e bons músicos em todo o distrito e o espanto com que os descobrimos é o mesmo espanto que esperamos ver crescer em quem se cruze com a “OpusPausa” e seja impelido a conhecer o nosso trabalho e a juntar-se a nós na construção de um distrito mais completo. Vale este espanto, que em nós é desassossego, para o público – que conheça e valorize o nosso trabalho, que o acompanhe e que pugne por ele, porque a ele tem direito; para os colegas – que se juntem a nós; e para os programadores e instituições culturais – de quem queremos aproximar estes músicos. Não é nosso intuito programar, mas sim facilitar e fomentar a programação artística da região, mediando a comunicação entre artistas e programadores e apresentando uma plataforma que agrega um conjunto de profissionais disponíveis para trabalhar em todo o distrito, que entendemos necessária e pertinente no apoio à programação cultural.

P – O que se pode encontrar nesta plataforma?

R – A plataforma está online em www.opuspausa.wixsite.com/website e nela podem encontrar um conjunto de jovens músicos profissionais e/ ou estudantes do ensino superior, naturais do distrito da Guarda ou nele estabelecidos durante a infância e adolescência. A “OpusPausa” prima pela diversidade de formações e áreas de trabalho dos músicos, que estão divididos em categorias para uma maior facilidade de navegação na plataforma. São elas “Composição”, “Etnomusicologia”, “Formação Musical”, “Musicologia”, “Produção Musical” e os diferentes instrumentos, “Acordeão”, “Clarinete”, “Eufónio”, “Fagote”, “Guitarra”, “Oboé”, “Percussão”, “Piano”, “Saxofone”, “Viola d’Arco”, “Violino” e “Voz”. Estas categorias não são estanques e vários dos nossos artistas trabalham em diferentes áreas da música, estando presentes em mais do que uma categoria. Há uma página dedicada a cada artista, onde são apresentadas uma fotografia e uma biografia, ambas da responsabilidade dos músicos, para que se possa conhecer o seu trabalho, formação, interesses e projetos, estando disponíveis gravações em alguns casos.

P – Num tempo como o que vivemos é ainda mais importante divulgar os
jovens músicos?

R – Sabemos que a classe artística e todos os trabalhadores do espetáculo atravessam dificuldades extremas pelas limitações a que a pandemia nos obriga, às quais acresce a falta de valorização, investimento e proteção social crónicas a que estão sujeitos em Portugal. Para quem está a iniciar o seu percurso profissional esta situação ganha uma dimensão naturalmente maior e mais pesada e, nessa perspetiva, cresce a importância de divulgar os jovens músicos e de criar condições para que possam desenvolver o seu trabalho.

P – Há falta de trabalho nesta área? É um risco ser músico profissional
atualmente?

R – Ser músico ou artista profissional, seja nas artes performativas, plásticas, literárias ou outras, tem o risco inerente aos trabalhadores independentes, aos recibos verdes, por vezes aos falsos recibos verdes, ao trabalho precário e ainda ao trabalho intermitente – para o qual não existe estatuto em Portugal. O fraco reconhecimento da cultura como um pilar fundamental na construção de uma sociedade, necessária à condição humana e essencial à expressão da liberdade, à democracia ou à educação e o não entender da sua fruição como um direito fundamental refletem-se na falta de investimento, na escassez de apoios à criação/ interpretação e na dificuldade em conseguir trabalhar.

P – A “OpusPausa” está aberta à participação de todos os interessados, ou tem regras de adesão?

R – Estamos disponíveis para todos os que nos queiram contactar e muito felizes por muitos já o terem feito! Os critérios para estar na plataforma são simples: ser jovem músico profissional/ estudante do ensino superior e natural do distrito da Guarda ou ter feito cá a formação base (até ao 8º grau).

P – O projeto pode vir a resultar na formação de um grupo/ orquestra, ou por uma apresentação ao público?

R – Este projeto não resultará na formação de nenhuma orquestra. A formação de grupos de música de câmara por iniciativa dos próprios músicos é possível e bem-vinda, servindo também esta plataforma para que todos se conheçam entre si e possam trabalhar em conjunto, mas a criação destes grupos não é objetivo da equipa.

P – Que outros projetos perspetivam concretizar no futuro?

R –A plataforma, que está em constante atualização, tem tido uma boa aceitação e temos recebido algumas propostas para projetos futuros que contarão com a participação dos nossos músicos. Não podemos ainda revelá-los, mas esperamos partilhar as novidades em breve!

 

Perfil de Matilde Andrade

Cofundadora da plataforma “OpusPausa”

Idade: 22 anos

Naturalidade: Guarda

Profissão: Musicóloga

Currículo (resumido): Licenciada em Ciências Musicais pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

Obra musical preferida: “Paixão Segundo S. João”, J. S. Bach (BWV245)

Filme preferido: “A Outra Margem”, Luís Filipe Rocha

Hobbies: não referidos

Sobre o autor

Jornal O INTERIOR

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