Cara a Cara

«A elite da arbitragem portuguesa é, sem dúvida, o sonho de qualquer árbitro jovem, sonhar não custa»

Cara A Cara
Escrito por Efigénia Marques
P – O que leva um jovem de 16 anos a optar pela arbitragem? R – Ao contrário do que muitos pensam, no caso do futebol nem sempre é por falta de qualidade como jogador que se opta por seguir a carreira de árbitro. Sou árbitro desde os 14 anos – tirei o curso em setembro de 2019 – e tomei a decisão de me inscrever sem que houvesse alguma influência familiar, apenas por ter visto um anúncio do Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol da Guarda nas redes sociais e por ter a imagem do árbitro como alguém que respeita, é respeitado e tem valores, valores esses que se identificam bastante com aqueles que a minha família e quem me rodeia me transmitem. Decidi ter esta nova experiência, que até agora tem sido fantástica. A arbitragem fez-me crescer, ensinou-me muito e deu-me muitos e grandes amigos. Aproveito esta oportunidade para agradecer a todos aqueles que me ajudaram e ajudam a alcançar os meus objetivos, em especial à minha família, que tudo faz para que treine semanalmente, evoluindo cada vez mais, a todos os meus amigos, que sempre me apoiam, à APAF pelas oportunidades que nos têm proporcionado, à Associação de Futebol da Guarda e ao respetivo Conselho de Arbitragem. É um orgulho para mim levar o nome de Vila Nova de Foz Côa e da Associação de Futebol da Guarda além-fronteiras. P – Como encara esta nova etapa após vencer o prémio de melhor árbitro na 20ª edição do Encontro Nacional do Árbitro Jovem? Quer chegar à elite da arbitragem em Portugal? R – A classificação que obtive no ENAJ é algo que me satisfaz, e muito, vi nela o alcance de um dos meus objetivos, vi todo um trabalho a ser recompensado e é algo que levarei comigo, para sempre, durante a minha carreira e a minha vida. Apesar de estar orgulhoso do meu trabalho, esta conquista não é suficiente, as avaliações continuam, o trabalho tem que continuar e o principal é mesmo manter o foco e a determinação a que me comprometi desde o início da minha carreira para com a classe da arbitragem. Tenho apenas que encarar esta conquista como a vitória de uma “batalha” e não da “guerra”, porque a “guerra” irá terminar apenas quando tiver que pendurar o apito e até lá espero que as batalhas vencidas sejam muitas. A elite da arbitragem portuguesa é, sem dúvida, o sonho de qualquer árbitro jovem, sonhar não custa e é com toda a certeza que irei trabalhar para alcançar esse patamar. P – Sendo do distrito da Guarda, quais considera serem as condições necessárias para chegar a esse patamar? R – Podia dizer que a Guarda é um distrito menos desenvolvido que outros e utilizá-lo como argumento para me desculpar de objetivos não alcançados. Mas não, não encaro isso como obstáculo e considero que as condições necessárias são exatamente as mesmas que nos outros distritos, uma vez mais trabalho, foco e dedicação. A prova disso é que a arbitragem da Guarda tem qualidade e são os representantes que neste momento temos nos quadros da Federação Portuguesa de Futebol, que têm tido um desempenho excelente nos últimos tempos. P – Como avalia a arbitragem distrital? R – Encaro o futebol distrital como sendo de preparação, aprendizagem, crescimento e evolução para as grandes competições nacionais. A arbitragem distrital é responsável e competente, com qualidade, e, como em todo o lado, tem alguns erros pontuais, mas não acho que seja o suficiente para não considerar a arbitragem distrital como boa. Os nossos árbitros têm vindo a evoluir e são cada vez mais aqueles que, nas competições distritais, se preparam para integrar os quadros da FPF. P – É difícil ser árbitro no distrito da Guarda ou os comportamentos já se alteraram? R – É uma pergunta à qual não tenho bem uma resposta. Há situações que, de facto, transmitem a imagem de que ser árbitro na Guarda é algo péssimo e impensável, mas, no geral, e como se tem visto, no recomeço dos campeonatos distritais a qualidade é cada vez mais, desde jogadores, treinadores, elementos oficiais, árbitros, delegados e dirigentes, em todos os aspetos, algo que não se verificava há uns tempos atrás. P – Como provavelmente alguns dos seus amigos jogam futebol, como faz para conciliar a amizade com a arbitragem? R – Sim, tenho amigos a jogar nas competições da AF Guarda e quando nos encontramos dentro de campo não noto qualquer diferença, pois temos sabido separar as coisas. O princípio básico da arbitragem é a imparcialidade, um valor enorme que me foi transmitido no que diz respeito a tomadas de decisões. Um dos motivos que me faz encarar este fator de forma bastante fácil é precisamente a amizade que eu quero ter com todos os jogadores, porque estamos todos ali para o mesmo, viver o futebol.  

FRANCISCO AFONSO

Árbitro na Associação de Futebol da Guarda Idade: 16 anos Naturalidade: Freguesia de Miragaia (Porto), mas reside em Vila Nova de Foz Côa Profissão: Estudante Currículo (resumido): Atleta de competição de karaté, onde venceu várias competições nacionais e internacionais; Árbitro de futebol e futsal; Jovem Desporto 2020 – V. N. de Foz Côa; Formador da Academia Digital para pais. Filme preferido: “Velocidade Furiosa” Livro preferido: “Os Lusíadas” Hobbies:Karaté e Escutismo

Sobre o autor

Efigénia Marques

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