Cara a Cara

«A candidatura da Covilhã a Cidade Criativa da UNESCO em design faz muito sentido»

Escrito por Jornal O INTERIOR

Entrevista a Rui Miguel, Presidente do Conselho Estratégico da candidatura da Covilhã a Cidade Criativa UNESCO em Design

P – Como surgiu a oportunidade de presidir ao Conselho Estratégico da candidatura da Covilhã a Cidade Criativa UNESCO em Design?
R – A candidatura é uma iniciativa da Câmara da Covilhã, cujo presidente convidou um conjunto de personalidades para integrar o seu Conselho Estratégico (CE), no qual tive a honra de ser incluído. A eleição do presidente do CE foi feita por votação secreta e online entre os pares. Sinto-me muito lisonjeado por ter sido escolhido pelos meus colegas conselheiros.

P – No que consiste a candidatura da Covilhã a Cidade Criativa da UNESCO em Design?
R – A melhor forma de lhe responder é citar um trecho da intervenção do prof. Francisco Paiva, diretor executivo da candidatura, na reunião do CE do passado dia 8 de fevereiro: «Uma Cidade Criativa da rede UNESCO tem essencialmente de promover o desenvolvimento urbano sustentável e inclusivo, a partir de um compromisso com a criatividade e a cultura, aferido pelos 17 objetivos da Agenda 2030 da ONU. Desiderato que implica fomentar o talento das pessoas que vivem nessa cidade e criar políticas de atração e fixação de outros habitantes; devendo envolver os criadores na “reinvenção” da cidade e na melhoria da qualidade de vida dos habitantes. A Rede de Cidades Criativas da UNESCO (…) conta com 246 cidades, em 172 países, (…), de entre as quais apenas 40 são Cidades do Design. (…). Juntam-se a estes objetivos gerais condições específicas: 1) Ter uma indústria de Design; 2) Possuir uma paisagem cultural e construída influenciada pelo Design; 3) Ter escolas e centros de investigação em Design; 4) Ter grupos de criadores e designers com atividade no local e internacional; 5) Acolher feiras e eventos dedicados ao Design; 6) Integrar os designers, arquitetos e urbanistas na construção da cidade, tirando partido dos materiais locais e das condições naturais; e 7) Ter indústrias criativas de Design».

P – Quais os pontos fulcrais em que se assenta a candidatura?
R – Não me compete a mim, nem me parece oportuno e “estratégico”, revelar neste momento os pontos fulcrais da candidatura. Os seus responsáveis estão a desenvolver criativamente e fundamentadamente as soluções para preencher os requisitos exigidos.

P – Quais as estratégias que a Covilhã pretende implementar para conseguir o título a que está a concorrer?
R – Em primeiro lugar, fazer uma candidatura séria, o que é garantido pelo trabalho que a vereação da Cultura e a Comissão Executiva têm vindo a desenvolver. Depois, a capacidade de agregar um conjunto de personalidades com percurso profissional ou intervenção social relevantes no domínio temático da candidatura. Finalmente, perceber como potenciar o que a Covilhã e sua região têm de mais relevante no âmbito da candidatura.

P – Quais são os fatores que tornam a Covilhã uma cidade distinta das suas concorrentes?
R – A candidatura da Covilhã faz muito sentido, pois a sua história social e económica tem sido marcada pela indústria de lanifícios, a qual veio a potenciar a indústria de confeção na região. As épocas de prosperidade e de depressão da cidade e região têm estado associadas aos ciclos desta indústria. Há bem mais de meio século que a indústria de lanifícios utiliza o design no seu funcionamento, embora sem ter essa consciência, numa altura em que a intervenção do design na sociedade não tinha ainda a intensidade e abrangência que tem hoje. É que design é muito mais do que o aspeto estético. É um mediador entre a sociedade, o mercado e a economia, as artes e a cultura, e a ciência e a tecnologia. É claro que a evolução da sociedade exigiu que o pensamento contemporâneo em design introduzisse no projeto o respeito pelo ser humano e o meio ambiente, mas também aqui esta indústria tem evoluído. Desde sempre procurou integrar a recuperação dos desperdícios, antes por razões económicas, hoje também, criativamente, por razões de marketing associadas ao respeito pelas pessoas e pelo planeta. Por outro lado, esta importância da mediação responsabiliza o design pela valorização de um conjunto rico de símbolos associados aos lanifícios e à montanha, também ela ligada à lã e à Covilhã. Estes símbolos evidenciam a forma como a cidade e o mundo rural têm sido vivenciados: as fábricas dentro da malha urbana a marcar o dia-a-dia das pessoas, as profissões, a cultura associativa, o urbanismo e os bairros, a arquitetura, etc.

P – De que forma o título de Cidade Criativa UNESCO em Design pode ser bom para a cidade?
R – O título permitirá à Covilhã ter um selo de qualidade, quer para usufruto da população residente, quer para atração turística. Permitirá ainda a majoração nas candidaturas a projetos, nomeadamente na área das indústrias criativas. A dinâmica da candidatura, a implementação do Plano de Ação e a concretização de projetos financiados conduzirão ao aumento da consciencialização da importância do design na vida das pessoas, no funcionamento das empresas e das instituições; ao aprofundamento da relação da cidade com a UBI tendo o design como tema no ensino, investigação e interação com a comunidade; à produção cultural e artística; ao fomento de “start-ups”; à interação do design com a arquitetura e o urbanismo. Em suma, permitirá acrescentar qualidade à vivência da Covilhã e região, à sua atratividade turística e à relação com outras cidades e regiões, nomeadamente internacionais.

 

RUI MIGUEL

Presidente do Conselho Estratégico da candidatura da Covilhã a Cidade Criativa UNESCO em Design

Idade: 64 anos

Naturalidade: Covilhã

Profissão: Professor associado da UBI

Currículo: Doutoramento (2000) e licenciatura (1985) em Engenharia Têxtil pela UBI; Foi engenheiro têxtil na indústria de lanifícios; É investigador da Unidade de Investigação FibEnTech – Materiais Fibrosos e Tecnologias Ambientais da UBI e do CIAUD – Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa; Tem sido desde 2000 o principal responsável pela criação e desenvolvimento dos cursos de Design de Moda da UBI; Presidente do Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis, membro do Senado, do Conselho de Faculdade e do Conselho Científico da Faculdade de Engenharia da UBI; Membro do Conselho Consultivo da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP); Membro da Comissão de Avaliação Externa para a área do design de moda da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES); Foi deputado da Assembleia Municipal da Covilhã

Livro preferido: “Uma Sequela Inconveniente: Verdade ao Poder”, de Al Gore

Filme preferido: “A Lista de Schindler”, de Steven Spielberg

Hobbies: Convívio familiar

Sobre o autor

Jornal O INTERIOR

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