Cara a Cara

«A arbitragem é sem dúvida uma escola de vida, já me ensinou muito»

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Escrito por Sofia Caramelo

P – Vai integrar a elite da arbitragem portuguesa. Como encara este desafio?
R – É uma nova experiência que vai ser muito mais desafiante. Vai continuar a requerer o trabalho que sempre fiz até agora, mas vai ser certamente uma experiência nova, uma experiência na elite. É algo que já desejava e que, acima de tudo, vai ser bom também para a Associação de Futebol da Guarda, para os árbitros da Guarda e para nos revermos todos nesta chegada ao topo da arbitragem nacional. Comecei há alguns anos, em 2006, quando tirei o curso de árbitros, já são quase 18 anos de atividade e neste momento cheguei à elite.

P – A arbitragem é sempre muito criticada. O que o levou a escolher esta vertente do desporto?
R – Tirei um curso de arbitragem a convite de um familiar meu, que na altura também era árbitro. Eu sempre gostei de futebol e após o convite decidi fazer essa formação de árbitros. É sem dúvida uma tarefa muito desafiante, por vezes ingrata, mas a verdade é que também já me proporcionou experiências que provavelmente nunca teria vivido se não fosse árbitro. E mais do que isso, também fez com que conhecesse pessoas com quem já partilhei inúmeras coisas. A arbitragem é sem dúvida uma escola de vida. Já me ensinou muito para além daquilo que é o mundo da arbitragem.

P – Vindo de uma associação do interior e pouco influente, acha que será mais difícil manter-se na categoria principal?
R – As dificuldades, apesar de serem diferentes, não são menores. Não acredito que seja mais difícil. Aliás, é possível ser árbitro do interior e chegar ao patamar mais alto do futebol português. E acho que todos os meus colegas e os jovens com quem eu falo devem retirar este exemplo para acreditar que não há limitações sendo árbitro no interior. Chegar ao topo do futebol requer esforço, dedicação e muito empenho e as dificuldades penso que vão ser as mesmas de árbitros de outras regiões do país. É um quadro muito restrito e de certeza que estando junto dos melhores a competitividade vai ser melhor. Este trabalho não se faz sozinho, tenho todo um grupo de pessoas que acreditam em mim, que trabalham comigo, que me ajudam e que certamente me vão ajudar a conseguir ficar no topo.

P – Conseguir as insígnias da UEFA e da FIFA é o próximo objetivo?
R – O próximo objetivo mais imediato deve ser preparar a próxima época porque vai ser muito mais exigente. Acho que é necessário preparar-me fisicamente e mentalmente para este patamar antes de pensar nesses passos. Não é um objetivo posto de lado, mas não é o objetivo imediato. Sendo esta a minha primeira época na primeira categoria, acho que, acima de tudo, quero mostrar que na região da Guarda e do interior há muito valor e qualidade. E depois tenho a certeza que as oportunidades de trabalho irão aparecer e com trabalho eu vou agarrá-las.

P – Qual foi a situação mais complicada que já viveu, como árbitro?
R – Há dois tipos de situações que marcam e que, no fundo, são iguais: as descidas de divisão, que são experiências que nos marcam como árbitros, porque os nossos percursos não são sempre a subir e os jogos não correm sempre bem. As descidas também nos tornam aquilo que somos hoje, fazem-nos evoluir e melhorar. Penso que as experiências menos positivas que tive ao longo da carreira de arbitragem resumem-se mesmo a isso, ao desgosto de às vezes ter uma época menos conseguida, em que não obtivemos o resultado que queríamos.

P – E a mais gratificante?
R – É chegar ao final do jogo e saber que fomos – eu e a minha equipa – parte integrante do jogo. Nós não somos nunca o centro do jogo, mas somos parte integrante e é sempre bom sentir que fizemos o nosso trabalho e que houve justiça no jogo. Acima de tudo, o que me deixa mais feliz é chegar ao final dos jogos e ter a sensação de que fiz parte deste espetáculo, que contribuí com a minha parte e sinto-me feliz por fazer parte integrante do desporto do futebol.

P – Como está a arbitragem no distrito da Guarda? Quais são as principais dificuldades?
R – Penso que temos um quadro de árbitros com muita qualidade, muito jovem, e que, com tempo, trabalho e dedicação de certeza que serão capazes de atingir os mesmos patamares que eu. A dificuldade continua a ser a captação de novos árbitros, essa continua a tendência das regiões do interior, mas apesar disso acredito que na arbitragem da Guarda tem sido possível recrutar bons jovens, com bons valores. Além disso, no interior também temos excelentes condições no que toca às instalações desportivas, temos relativa facilidade de acesso às mesmas e acho que a Associação de Futebol da Guarda também nos dá sempre as melhores condições possíveis e isso tudo junto faz com que haja esperança no futuro da arbitragem distrital. E eu estou convencido que o futuro vai continuar a produzir novos e bons árbitros.

Perfil:

Sérgio Guelho

Árbitro da Associação de Futebol da Guarda recém-promovido à categoria principal

Idade: 32 anos

Profissão: Informático na Coficab

Naturalidade: Guarda

Currículo (resumido): Mestrado em Ensino de Educação Física; Curso técnico superior de desenvolvimento de aplicações informáticas

Livro preferido: “A peregrinação do rapaz sem cor”, de Haruki Murakami

Filme preferido: “O rapaz do pijama às riscas”, Mark Herman

Hobbies: BTT e ver televisão

Sobre o autor

Sofia Caramelo

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