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Zona Deprimida

Quebra-Cabeças

Há uns anos, a Guarda foi colocada num estudo universitário entre as cidades com maior qualidade de vida do país. Os métodos e critérios de análise do estudo eram discutíveis, assim como, ou por isso, o rigor científico das suas conclusões. Sendo rigoroso ou não, parecia haver contudo um dado verificável, o de não ter começado qualquer fluxo migratório significativo com destino à nossa cidade. Entretanto, tinha havido eleições autárquicas e o estudo tinha servido na campanha eleitoral como caução científica do bom trabalho desenvolvido até aí.

Vieram depois os dados dos censos de 2001, demonstrando que, contrariamente à opinião das “Cassandras” de serviço, e contrariamente ao sucedido com a generalidade dos concelhos do interior, o da Guarda tinha aumentado de população. Se havia alguma perda nas freguesias rurais, esta era mais do que compensada nas freguesias urbanas.

Mais uma vez, os dados assim apresentados, ainda por cima em bruto, não permitiam retirar facilmente conclusões tão auspiciosas para a cidade e para o concelho. A população flutuante, por exemplo a dos estudantes do IPG, era contabilizada como residente. A sobrevivência do concelho, por outro lado, parecia dever-se sobretudo ao colapso dos concelhos vizinhos e a haver algum fluxo migratório era daí que ele provinha. Ou então não, e havia legítimas e saudáveis razões para rejubilar.

Passados dois anos, mesmo tendo em conta a crise económica que se generalizou pelo mundo fora, e também em Portugal, parece haver razões para optimismo: as inaugurações sucedem-se a bom ritmo, incluindo a esperada e importantíssima A23, outras aguardam pelo momento mais oportuno, como por exemplo as próximas eleições autárquicas.

Parece haver razões para optimismo? Parecia. É que a Câmara Municipal da Guarda reclama agora, contra estatísticas e estudos universitários que antes aplaudiu, que vivemos num Concelho deprimido, por isso merecedor de ajudas especiais, indispensáveis a sítios com baixa qualidade de vida. Sítios de onde a população foge para paragens mais aprazíveis, como por exemplo para a cidade da Guarda.

Apenas para que conste: de acordo com a Resolução do Conselho de Ministros nº 42/2003 de 26 de Março de 2003, área deprimida é aquela que esteja em declínio económico efectivo e potencial, que necessita de discriminação positiva. Afinal, começamos a ficar todos de acordo.

Por: António Ferreira

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