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Zona da Estação em estudo

A Guarda vai ter gare de comboio de alta velocidade na ligação Aveiro/Salamanca, a construir até 2015

Todas as incertezas e receios quanto a uma paragem do futuro TGV na zona da Guarda desvaneceram-se na semana passada com as declarações de um alto responsável da REFER e da Rede de Alta Velocidade (RAVE). Luís Miguel Silva anunciou que a região sempre esteve na rota da alta velocidade e que há duas localizações possíveis. Trata-se da zona de Pinhel ou as imediações da actual estação ferroviária da cidade, embora esta última seja apontada como a ideal dada a proximidade às auto-estradas A23 e A25 e a possibilidade de ligações às linhas da Beira Baixa e Beira Alta.

E para que não restem dúvidas, o administrador garante que esta opção sempre foi «ponto assente», a par da estação de Viseu, desde a Cimeira da Figueira da Foz, em Novembro de 2003. Em entrevista ao site kaminhos.com, Luís Miguel Silva adianta que a REFER vai estudar a viabilidade do aproveitamento da Linha da Beira Alta, como acontece na ligação Lisboa/Porto, mas não descarta a construção de um novo traçado onde for necessário. Nesse sentido, «é extremamente importante perceber que é na zona da Guarda que deve existir um ponto de entrada nesta via ferroviária», sustentou, esclarecendo que a localização ideal está dependente de uma «solução técnica que se aproxime da actual estação da cidade para termos ali a conjunção não só das duas auto-estradas, que estão nas proximidades, mas também tirar partido da rede convencional através de uma solução integrada de transportes». Aquele responsável adiantou ainda que haverá comboios directos entre Porto e Madrid e outras composições que irão parar nas estações intermédias. Contudo, essa será uma questão a «optimizar em termos de exploração ferroviária». Com estas condicionantes quem pode perder o comboio é o município de Pinhel.

Segundo o administrador, se se optasse pelas proximidades da “cidade falcão” «não só não teríamos procura suficiente para justificar uma deslocalização do traçado, como estaríamos a afastar-nos de um ponto natural de confluência [a Guarda] que representa a A23, A25 e as linhas da Beira Baixa e da Beira Alta». Declarações que já motivaram a discordância da Câmara de Pinhel, que entende dever ser ouvida sobre esta matéria. O presidente António Ruas considera mesmo que o argumento da falta de passageiros «não colhe» por causa da estação de Cerejo, na Linha da Beira Alta, e porque as auto-estradas «não estão assim tão distantes». Por isso, quer conhecer melhor os argumentos da REFER para preferir a Guarda a Pinhel. «Não tenho nada a obstar se as alterações forem de ordem técnica. Mas se houver motivos políticos pelo meio, discordarei veementemente», avisa desde já, congratulando-se, no entanto, por o TGV parar no distrito. Na vizinha Guarda, Maria do Carmo Borges ficou «tranquila» e «satisfeita» com a primeira «posição oficial» da RAVE e da REFER sobre a futura estação guardense. «É lógico que aproveitem a posição geo-estratégica da cidade. Outra opção não faria sentido», argumenta, lembrando que a cidade está na encruzilhada daqueles «importantes» eixos rodoviários e ferroviários. «Ainda bem que continua a haver gente inteligente e que pensa nas coisas de uma forma séria», sublinhou a autarca.

Aproveitar a Linha da Beira Alta

A confirmação de que a Guarda pode vir a ter uma estação de TGV pôs fim a muita controvérsia surgida sobretudo quando Viseu foi escolhida para gare intermédia, em Junho de 2004. É que a cidade não integrava a lista das estações da futura ligação Aveiro/Salamanca no estudo preliminar aprovado em Conselho de Ministros. O que motivou de imediato uma moção de protesto da autarquia. Maria do Carmo Borges e Fernando Ruas trocaram depois alguns “mimos”. Para a guardense, a escolha de Viseu não fazia «tecnicamente sentido», tendo acusado o Governo de «teimar em servir clientelas e agradar» ao presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP). Na resposta, o edil sustentou que era Viseu «e não a Guarda» que vinha em «todos» os mapas do projecto. Já o Movimento Cívico do Distrito da Guarda promoveu um debate onde Arménio Matias, presidente da Associação para o Desenvolvimento dos Transportes Ferroviários (ADFER) e antigo administrador da CP, sugeriu a construção de uma estação entre Celorico da Beira e Vila Franca das Naves (Trancoso).

Entretanto, sabe-se que a RAVE conta lançar este ano os estudos para a ligação Aveiro/Salamanca, uma via mista de mercadorias e passageiros, estando previsto utilizar troços da actual linha da Beira Alta para reduzir o investimento. É que tem uma extensão total de 201,8 quilómetros, 194,5 dos quais em via dupla e 7,3 quilómetros em via única. Segundo o presidente da RAVE, Braancamp Sobral, o troço Aveiro/Viseu será o primeiro a avançar, seguindo-se depois, faseadamente, para a fronteira. Os primeiros dados de um estudo preliminar sobre a futura rede de Transportes de Alta Velocidade (TAV), divulgado em Junho passado pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Habitação, revela que o troço Aveiro/Vilar Formoso, a construir até 2015, terá uma procura de 1,8 milhões de passageiros e deverá custar 2.100 milhões de euros.

Luis Martins

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