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Votar Competência e Estabilidade – o desafio

Crónica Política

Encontramo-nos mais uma vez em vésperas de eleições legislativas a ponderar qual a atitude a tomar, de cujo resultado irá depender muito do nosso futuro colectivo. É verdade que a política dos últimos governos tem sido caracterizada por sucessivas crises, tanto a nível económico como social, agravadas por fenómenos que não controlamos, como a globalização das economias e as crises políticas internacionais, face às quais a nossa capacidade de reacção como país pequeno é muito limitada e impõe, para que se obtenha alguma eficácia, a existência de governos estáveis e determinados.

Curiosamente, e como factor positivo, existe hoje um apreciável consenso entre os maiores partidos políticos quanto às principais medidas a tomar, tais como o aumento da eficácia da cobrança fiscal, as reformas da administração pública, da justiça e da educação, o maior estímulo ao investimento produtivo, tanto público como privado, ou seja, salvaguardando pequenas nuances e estilos pessoais, as grandes linhas programáticas são muito semelhantes.

Assim parece-me que a grande razão para determinar a nossa atitude eleitoral deverá privilegiar o binómio competência/estabilidade.

Tradicionalmente, os grandes partidos, PS e PSD, têm sido os principais intérpretes da governação do nosso país, repetindo políticas e governantes, bem como promessas e erros, a par das sucessivas desculpas.

É hoje bem visível que qualquer dos dois grandes partidos ou não tem suficiente coesão interna, ou apresenta propostas governativas cuja implementação se propõem entregar a políticos que já revelaram a sua incapacidade em governos anteriores. Estas duas circunstâncias, no caso de haver um partido com maioria absoluta, levarão a que ao fim de algum tempo estejamos de novo mergulhados em novas crises políticas, ou assistamos ao longo de quatro anos ao avolumar dos problemas.

O exemplo deste último Governo, no que se refere à participação de um pequeno partido, o CDS/PP, penso ter sido para muitos uma revelação, na medida em que, ao invés de ser um agente perturbador da estabilidade e capacidade governativa, como muitos vaticinavam, mostrou ser capaz de assumir uma postura de Estado, colocando como primeira preocupação os interesses nacionais, bem como exerceu com reconhecida competência as pastas que lhe foram atribuídas.

Ficou também demonstrado que pese embora seja o partido colocado mais à direita no espectro partidário, tal não obstou a que se preocupasse com o desenvolvimento de políticas sociais, bem como na promoção de medidas de justiça fiscal que desagradaram aos grandes interesses económicos e que encontram, de forma encapotada, nos governos de esquerda os seus maiores defensores. É por isso que, não raras vezes, tenho ouvido dizer a alguns empresários que é com os governos de esquerda que se ganha dinheiro.

O reforço do peso eleitoral do CDS/PP parece-me ser a opção certa de quem pretenda uma maior eficácia governativa, num desejável quadro de ausências de maiorias absolutas, em que as máquinas e os interesses instalados nos grandes partidos vão com o tempo amolecendo a vontade e determinação dos líderes, levando-os a esquecer as promessas e objectivos eleitorais.

Por: Álvaro Estêvão

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