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Voluntários retiram mais de uma tonelada de lixo na Torre

Acção do CISE no ponto mais alto da Serra da Estrela teve resultado inesperado e impressionante

Cerca de 20 pessoas responderam ao desafio do Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE), sediado em Seia, e rumaram à Torre, no sábado de manhã, para uma acção de limpeza. O resultado foi tão inesperado como impressionante. Ao fim de duas horas, os voluntários, vindos da Covilhã, Seia e Porto recuperaram qualquer coisa como 1.200 quilos de detritos.

Metade de um fogão, um sinal de trânsito, placas publicitárias, arame farpado, pedaços de trenós, bidons, uma tampa de sanita foram os objectos mais supreendentes da jornada. Já mais “habituais” parecem ser os sacos de plástico, as latas de refrigerantes, as garrafas ou os pedaços de vidro que semeiam as imediações do ponto mais alto do continente. «É desanimador ver tanto lixo, mas cá estamos a contribuir para que o aspecto da Serra seja menos sujo e desolador», refere Joana Sanches, uma estreante vinda da Covilhã que participou por ela e «pelos que vêm», porque a Estrela é «um lugar que se deve preservar, embora muitas pessoas não tenham essa sensibilidade e esse cuidado». Mas já antes a descoberta de uma lagartixa da montanha, espécie exclusiva da Serra da Estrela, tinha recordado aos participantes a especificidade da zona. «É preciso alertar as pessoas, as entidades públicas e privadas para a necessidade de manter limpo este local emblemático e dos mais visitados, que é também uma área onde ocorrem valores naturais, nomeadamente espécies de fauna e flora únicos, com estatuto de conservação prioritário. É por estes motivos que estamos a fazer esta acção», acrescenta José Conde, biólogo do CISE, um espaço de educação ambiental dependente da Câmara de Seia.

O coordenador da iniciativa não esconde que esta limpeza é uma «gota de água no oceano», já que «100 pessoas seriam poucas» para dar conta da tarefa. «A quantidade de lixo acumulada na parte superior da Serra é tão grande que necessitamos de muito mais gente», garante, adiantando que esta é a quarta acção do género levada a cabo na Serra, tendo já sido recolhidos cerca de 750 quilos de lixo só este ano. «Os visitantes têm que interiorizar que devem recolher o lixo que produzem para evitar que isto aconteça ciclicamente. É que estes resíduos sobram do Inverno, época de maior afluxo, mas, nessa altura, não é possível apercebermo-nos da quantidade deixada para trás. É depois do degelo que tudo fica à vista», lamenta. Um dos participantes, que recolheu parte de um fogão, junta-se à conversa e sugere que toda essa gente que enche a zona da Torre por causa da neve deveria regressar no Verão para ver o que deixam para trás. «Talvez deixassem de ser tão desleixados e mudassem de comportamentos», insiste. Para José Conde, as pessoas são mesmo as principais responsáveis pela poluição na Torre: «Os visitantes têm que recolher os trenós que se partem, os sacos que utilizam para deslizar na neve, porque não é possível haver um contentor em cada local da Serra, para além de ser muito difícil em certos períodos do ano recolher o lixo», diz, considerando que o sistema de recolha nem está assim tão mal.

O CISE organiza esta acção há dois anos e os seus responsáveis tencionam não desistir «até não haver lixo na Serra para podermos proporcionar um espaço de melhor qualidade a quem nos visita e aos residentes», indica o biólogo. Ao fim da manhã, os detritos foram transportados para a Estação de Transferência de Seia onde foram pesados e separados para reciclagem.

Luis Martins

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