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Voltar a Abril…

Editorial

1. O Estado não tem dinheiro para continuar a alimentar o “monstro”. Portugal endividou-se continuamente. Se em 2005 a dívida pública era de 100 mil milhões, agora já atingiu os 190 mil milhões de euros (em apenas seis anos quase duplicou; e nos primeiros dois meses de 2012 cresceu 5,8 mil milhões), ou seja, os governantes portugueses conduziram o país a um precipício de que, mesmo com o resgate internacional, será muito difícil sair. O buraco é gigantesco e continua a crescer.

2. A partir de 2014 as câmaras municipais terão menos funcionários e menos dirigentes. O Governo prometeu reduzir em 30 por cento os lugares de chefia nas autarquias até 2013, havendo mesmo um conjunto de 36 autarquias que terão de cortar, pelo menos, metade das chefias, entre elas encontramos as câmaras da Guarda e do Sabugal. Por outro lado, mais de um terço dos municípios que mais terão de reduzir nos cargos de chefia estão em rutura financeira ou com endividamento excessivo, como é, também, o caso da câmara da Guarda. A questão é saber como é que todas estas câmaras contrataram, promoveram ou nomearam tantas chefias. Num país onde a maioria dos trabalhadores aufere um salário abaixo dos 850 euros e muitos vivem com o salário mínimo, para que foi necessário assalariar e pagar a preço de ouro tanta gente?

3. A responsabilidade da situação a que chegámos é, em primeiro lugar, do anterior Governo, e do primeiro-ministro que durante seis anos conduziu Portugal ao abismo. Mas se José Sócrates é o primeiro e principal responsável, não é, nem poderia ser, o único. De Cavaco Silva a Vitor Constâncio, passando, obviamente, pelos partidos da oposição (o chamado “arco da governação”), com destaque para o PSD, todo o sistema político-partidário em que assenta a nossa frágil Democracia é corresponsável pelo desastre governativo que nos fez desaguar nas mais perigosas águas da nossa história contemporânea. Todos podemos ter culpas pela situação a que se chegou (a dívida externa portuguesa chegou ao valor estratosférico de 400 mil milhões de euros, ultrapassando os 230 por cento do PIB), mas é o Estado o grande culpado pela dependência a que chegámos, pela irresponsabilidade governativa, pelas opções erradas, pelos investimentos megalómanos e inconsequentes, pelos projetos sem sentido, pelo despesismo bacoco. E, estranhamente, a administração pública que gastou mal tanto dinheiro, continua a ter os mesmos protagonistas, os mesmo rostos e os mesmos partidos. Aqueles que durante os últimos dez anos conduziram Portugal à falência são os mesmos que ocupam as cadeiras do poder. Sócrates fugiu, como já Barroso tinha fugido, mas as cadeiras, dos diversos poderes, continuam a ser ocupadas por quem fez parte do festim, por quem ajudou a atirar as canas, por quem continua a dançar mesmo que a orquestra já se tenha calado. Os governantes até podem ter rostos diferentes, mas o hálito que se respira na administração pública continua a ser o mesmo, são os mesmos diretores, os mesmos coordenadores, os mesmos presidentes de câmara, os mesmos vereadores, os mesmos técnicos superiores, os mesmos jogos de poder, as mesmas cunhas, são os mesmos a aprovar candidaturas (subsídios) da treta de empreendedores de coisa nenhuma. É a mesma tralha que manda e desmanda, que promove e aprova… só uma limpeza geral podia salvar-nos!

Foi para isto que se fez o 25 de Abril? Perguntam os mais jovens, abatidos, na vã esperança de um emprego, num país empobrecido, pessimista, de novo a pensar no fado. Abril ficou lá trás, bolorento e empoeirado pelos “direitos adquiridos”, que são direitos apenas de alguns, uns poucos, que sacaram tudo o que puderam, e nada deixaram para as gerações vindouras. Agora sim, agora sabemos o quanto o Zeca tinha razão, mas agora, mais do que nunca sabemos que eles comem tudo e não deixam nada!

PS: Como contributo para as comemorações do 25 de Abril, voltamos a publicar o relatório militar de Augusto Valente que comandava o RI 12 em Abril de 1974, na Guarda, publicado em 2000, e um trabalho sobre o ativista antifascista guardense Cândido Pimenta, que editámos em 2001.

Luis Baptista-Martins

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