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Vivo España

Observatório de Ornitorrincos

Terminou o Mundial de futebol e os espanhóis ganharam a taça. Depois do basquetebol, da fórmula 1 e da pelota basca só lhes faltava mesmo serem os melhores do mundo no jogo da bola com os pés. A Espanha ganhou todos os jogos a eliminar por 1-0. Só não conseguiram ganhar aos suíços no jogo de aquecimento e a José Sócrates no jogo da bolsa.

O primeiro-ministro trata a economia como os espanhóis tratam a bola – com os pés e em passes curtos para confundir o adversário. E tal como fez a selecção “roja”, as movimentações de Sócrates deixam os alemães completamente à toa. Num assomo nacionalista, ameaça agora mesmo afastar os alemães do nosso caminho usando uma técnica semelhante à de Carles Puyol – uma valente cabeçada. Sócrates e Puyol partilharam também outra atitude. Entraram em campo a jurar amor eterno à entidade supranacional que representam, Europa e Espanha (respectivamente), e acabaram em campo a festejar agarrados à bandeira da nação que os acolhe (Portugal e Catalunha, também respectivamente).

Sócrates, o senhor que fez tudo para redigir o Tratado “porreiro, pá” a tempo de lhe chamarem “de Lisboa” (ao tratado, não a Sócrates), é nestes dias um fervoroso opositor das regras comunitárias que descobriu agora serem “neo-liberais”. Seria como Joseph Blatter dizer que o cartão amarelo mostrado a Iniesta por ter tirado a camisola depois de marcar o golo do título era uma admoestação baseada numa regra estúpida.

A minha posição sobre a vitória das selecções espanholas e sobre o veto às acções espanholas é igual: sou contra. Que não se aflijam os leitores que por aqui andem com este calor, não vou sequer tentar explicar porquê, mas tem mais ou menos a ver com isto: qualquer coisa que ganhem os espanhóis no desporto, qualquer coisa que faça Sócrates na economia, eu oponho-me.

O Mundial terminou e o Uruguai ficou em quarto lugar. Para quem saiba pouco de geografia ou ainda tenha o zunido das vuvuzelas a vaguear-lhe pelo cérebro, recordo que o Uruguai é um país sul-americano do tamanho de uma fazenda do nordeste brasileiro e com tantos habitantes como os subúrbios de Lisboa. No jogo para o terceiro lugar, o Uruguai, que só por acaso não é uma província do Brasil ou da Argentina, jogou contra a Alemanha, o único país do mundo que ao longo da história já anexou mais países do que estrangeiros para a selecção de futebol. Ganhou a Alemanha, por duas razões: porque Muller voltou a jogar e porque é hábito.

Para meu enorme regozijo, a Itália e a França foram eliminadas logo no início da prova. A Itália porque continua a jogar aquele futebol medíocre do “empate em empate até à vitória na final”. A França porque continua a ser a França, apesar de Carla Bruni.

Quem mais gostei de ver durante o Mundial foi a bela selecção do Paraguai nas bancadas, com Larissa Riquelme ao ataque e dois extremos lançados em profundidade.

Agora que terminou, resta a memória dos “Viva!” dos adeptos e da “Vivo!” de Sócrates.

E a selecção portuguesa? Ora essa, perguntem ao Queiroz.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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