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Vista de um ponto!

A Guarda necessita, urgentemente de investimentos. É confrangedor o estado de apatia a que a cidade chegou. Percebemos que se tem vindo a distanciar dos padrões de desenvolvimento que outras cidades deixam entender e que perdeu o estatuto de pólo aglutinador de pessoas e gerador de dinâmicas económicas.

Toda esta situação tem raízes profundas e longínquas, assentes num modelo económico onde o planeamento e a visão estratégica nunca existiram, ou a terem existido, fracassaram rotundamente.

A natureza monolítica da economia da Guarda, refém exclusiva do dinamismo da indústria da construção civil, correu os riscos que todo o modelo com estas características corre. A construção civil entrou em declínio, com a acentuada crise que estamos a viver e, consequentemente, a Guarda entrou em colapso. Por arrastamento, atrás da construção civil foram todas as actividades subsidiárias.

A apologia da localização estratégica da Guarda, usada para compor discursos, apenas tem servido para pôr a nu as nossas falhas, em termos de gestão e rentabilização de potencialidades. E das duas uma, ou se trata de uma quimera, ou apenas evidencia debilidades, na exacta medida do seu desperdício.

No presente, são cada vez menos aqueles que vêem a Guarda como uma boa oportunidade de investimento. Isto resulta numa certa medida da crise que vivemos, mas também da ausência de uma política local consistente e planeada de captação de actividades que projectem esta cidade como um local atractivo para se instalarem empresas e onde a oferta de oportunidades seja efectiva e concorrencial com a das cidades nossas vizinhas.

Se até aqui ouvíamos, com frequência, referir exemplos de abandono de inúmeros projectos de investimento na nossa cidade, por falta de espaços físicos com aptidão industrial, essa deixou de ser, definitivamente, uma razão aparentemente justificável para que continuemos a ser preteridos pelos investidores.

Mas, outras razões, menos justificadas e mais danosas, podem emergir a partir de agora.

Estando em curso o processo de alienação dos lotes da Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial, parece-me que o seu sucesso tem ficado muito aquém daquilo que todos poderíamos desejar, prolongando no tempo a rentabilização daquele investimento. E, desta forma, jamais ele será estruturante para a cidade ou para a região.

Parece-me ter chegado o momento de se partir para um modelo “agressivo” de promoção da Plataforma que torne atractivo o investimento e que garanta a sua rápida ocupação, tornando-a um pólo gerador de riqueza para todos.

Considerando as actuais dificuldades na obtenção de crédito para o investimento, era fundamental que a forma de alienação fosse além da simples venda dos lotes, mediante um valor estabelecido por metro quadrado.

Seria importante, prever alienações que, mediante um clausulado que acautelasse o interesse do desenvolvimento da própria infraestrutura, permitissem um pagamento faseado no tempo, 10/15 anos, durante o qual as empresas poderiam ir amortizando os custos dos terrenos necessários à sua instalação, diluindo os encargos iniciais, que são sempre muito avultados.

Um outro modelo, poderia ser aquele que contemplasse que as instalações industriais e logísticas construídas, não tendo sido o terreno adquirido pelas empresas, passassem a constituir património da própria sociedade gestora, ficando as empresas obrigadas, após um mesmo prazo de 10/15 anos, a pagar uma renda pela sua ocupação, que seria calculada ao preço do momento da cedência dos lotes, com as respectivas actualizações para a data prevista no respectivo contrato. Poderiam ainda, esses contratos, conter uma cláusula de preferência, caso o locatário entendesse ter interesse na sua aquisição, findo o prazo contratual.

Penso que, para além das aqui sugeridas, haverá muitas outras soluções igualmente interessantes do ponto de vista da captação de investimentos. Mas, acima de tudo, importa que nos consciencializemos da realidade e que se tomem medidas que sejam diferenciadoras pela positiva, ou a retoma que todos desejamos, jamais acontecerá na Guarda.

Henrique Monteiro, Guarda

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