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“Vista de Aldeia” é novidade no Museu Abel Manta

Município de Gouveia adquiriu recentemente num leilão quadro datado de 1915 do grande mestre da pintura moderna portuguesa

O pequeno quadro “Vista de Aldeia” é o mais recente elemento da colecção de pintura de Abel Manta do Museu Municipal homónimo em Gouveia e para assinalar o acontecimento é, por si só, o centro das atenções numa pequena exposição. Porque não é todos os dias que a instituição adquire um exemplar da obra do grande mestre da pintura moderna portuguesa. Ladeado de fotografias da época, o óleo está patente ao público até ao final do mês, juntamente com a boina e a paleta usada pelo artista, bem como diversa documentação autárquica para fazer o enquadramento da época (1915) em que o jovem artista gouveense pintou uma cena do quotidiano de aldeia.

A pintura foi recentemente comprada pelo município num leilão de arte em Lisboa, mas o seu preço é um dado que a autarquia se recusa a divulgar. «O importante não será quanto se gastou na aquisição, mas sim a obra estar disponível para que todos possam vê-la», insiste Rogério Figueiredo, vereador com o pelouro da Cultura, para quem este foi um investimento concretizado com «muito prazer, porque temos que enriquecer cada vez mais, e na medida do possível, o espólio do museu, que não tinha nenhum quadro daquele período». “Vista de Aldeia com Figuras” é uma pintura a óleo sobre madeira de início de carreira e data do ano em que Abel Manta terminou os estudos na Escola de Belas Artes de Lisboa, sob a orientação de Luciano Freire e Ernesto Condeixa (desenho) e Carlos Reis (pintura), com o patrocínio da Condessa de Vinhó e Almedina, D. Luísa Guimarães Guedes, esposa de António Homem Figueiredo Abreu Castelo Branco, 2.º Conde de Caria. É um quadro influenciado pelas paisagens bucólicas das aldeias serranas, mas dominado sobretudo pela técnica clássica da Escola de Belas Artes, pelo que o jovem pintor ainda tinha muito caminho a percorrer para afirmar um estilo próprio.

É também o tempo de uma menção honrosa da Sociedade Nacional de Belas Artes pelo seu auto-retrato (1914), de “A Menina da Havanesa” e de um regresso à terra natal antes de partir para Paris, e para as mais recentes correntes estéticas, finda a I Grande Guerra. O que acontece em 1919, ano em que Abel Manta apanha o comboio para a modernidade e a posteridade tornando-se poucos anos depois num dos mais emblemáticos representantes da nova pintura portuguesa. Tempos e reconhecimento que ainda não chegaram quando pinta “Vista de Aldeia com Figuras”, um quadro de serena tranquilidade onde casas fechadas sobre si e ruas estreitas com pouca claridade contrastam, em primeiro plano, com uma casa térrea iluminada pelo sol. Uma figura de mulher junto à porta entreaberta e, em segundo plano, disfarçada na penumbra, uma criança sentada num degrau são as únicas vival’almas representadas. Antes de ser comprada pelo município, a pintura pertenceu a D. Isabel Pizarro de Sampaio e Mello, tendo estado na sua família desde 1910, altura em que o seu avô a adquiriu. Actualmente com 21 originais de Abel Manta, o Museu Municipal de Gouveia apenas é proprietário de três quadros – “Jóia” (1919), “Vista de Gouveia” (1925) e “Vista de Aldeia com Figuras” (1915) – já que os restantes, da colecção de João Abel Manta, estão em depósito. Contudo, «sempre que surgirem oportunidades e possibilidades como esta é evidente que o município vai empenhar-se, porque significa um enriquecimento e um investimento na cultura», promete Rogério Figueiredo, que gostaria de ter no museu gouveense peças representativas da evolução da obra de Abel Manta.

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