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Viabilização da FIPER travada

Caixa Geral de Depósitos apresentou recurso contra plano de insolvência na véspera de terminar o prazo para a homologação

A Caixa Geral de Depósitos (CGD), uma das credoras da Fiper – Fiação de S. Pedro, entregou um recurso na véspera de terminar o prazo para homologação da proposta de viabilização apresentada, em Novembro passado, pelos empresários António Lopes e José Robalo.

Um recurso que vai «complicar muito» a reabilitação da unidade fabril, confessou José Robalo a “O Interior”, até porque a ideia era abrir a empresa ainda no primeiro trimestre deste ano com alguns trabalhadores. «Já estávamos a começar a preparar as coisas, nomeadamente a manutenção das máquinas», revela, admitindo ter ficado «surpreendido» com o recurso da instituição bancária. Isto porque o banco já tinha «recebido o dinheiro» que tinha sido aprovado na assembleia de credores de 21 de Novembro. «Lastimo muito esta atitude. É um banco estatal e deveria estar mais preocupada com a criação de emprego», critica o empresário, recordando que este recurso irá prejudicar a viabilidade da empresa. Isto porque, até que seja apreciado pelo juiz, demorará «no mínimo, seis meses ou um ano», aponta José Robalo, advertindo ainda para a possibilidade de existirem mais recursos, consoante a decisão. «São coisas que demoram anos e que poderão forçar a que a empresa nunca mais abra», lamenta.

A Caixa Geral de Depósitos – credora em cerca de 670 mil euros – foi uma das instituições que se insurgiu contra o plano de insolvência, por considerar que ficaria «altamente prejudicada» nos créditos a haver, disse na altura o representante da instituição. Isto porque, o plano, apenas a contemplava com 79,5 mil euros. Daí que tenha defendido a venda do património em hasta pública, a par do administrador judicial, Banco Português de Investimento, Banco Nacional de Crédito e a Fisip, empresa fornecedora da Fiper. Na altura, reivindicaram também que o voto dos trabalhadores não deveria ser considerado para efeitos de contagem dos votos por terem o privilégio dos créditos. Reclamação que, de resto, não foi aceite pelo juiz Pedro Gama da Silva.

O plano de insolvência da Fiper foi assim aprovado, com mais de 66 por cento dos votos, pelos ex-trabalhadores e pelos bancos Santander, Espírito Santo e Millennium BCP. A proposta contemplava o pagamento da totalidade dos créditos devidos aos 84 ex-trabalhadores (na ordem de 1,041 milhão de euros) e 15 por cento do valor da dívida de 2 milhões de euros à banca. Valores que foram, entretanto, liquidados pelos empresários António Lopes e José Robalo, através da empresa AHL, em Dezembro de 2005. Além disso, a proposta propunha ainda a reabertura da empresa num prazo de 60 dias, após o trânsito em julgado. Numa primeira fase seriam admitidos pouco mais de 20 trabalhadores, prevendo-se a admissão de mais assim que avançasse a unidade de tecelagem.

Recorde-se que a empresa Fiper encerrou para férias em Agosto e não voltou a abrir. Na origem deste encerramento parece ter estado a dificuldade de fazer face à concorrência de mercados emergentes que tornavam impraticáveis os preços da Fiper, levando à acumulação das encomendas e dos prejuízos.

Liliana Correia

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