Arquivo

Vestígios Ocultos

Nos Cantos do Património

Quando visitamos áreas históricas, vilas ou cidades, para além de possuirmos interesse pela sua história, observamos os seus monumentos, de maior ou menor esplendor, mas que cativam a nossa atenção.

Alguns povoados, principalmente aqueles que se encontram em pontos elevados, ou por outros motivos, com o passar do tempo acabaram por ser abandonados. Nestes sítios ainda é possível observarmos vestígios históricos diversos, destacando-se os sistemas defensivos. Noutros houve uma manutenção da população, embora em número cada vez mais reduzido, o que levou a que não fossem efectuadas profundas alterações nas muralhas e nas habitações. Mantém-se a traça do núcleo, com as suas características.

Outros casos, porém, ao longo dos anos tornaram-se grandes núcleos urbanos, com elevado crescimento, levando à criação de arrabaldes, por vezes desde a Idade Média Plena, criando-se novos espaços centrais. Nestes casos diversos são os vestígios que se encontram ocultos por entre o casario.

Um dos melhores exemplos diz respeito ao sistema defensivo da cidade da Guarda. Embora à primeira vista não tenhamos essa percepção, uma boa parte do traçado encontra-se intacto, ocultado pelas habitações que nela encostaram, denotando-lhe uma nova funcionalidade, a de servir de parede de fundo das habitações, facilitando o esforço de construção. De facto, a construção de arrabaldes, bairros construídos no exterior das muralhas, implicam também uma nova mentalidade, isto é, a muralha perde o seu significado simbólico de protecção (contra ataques de tropas inimigas), divino (espaço sagrado) e funcional, passando as habitações a cobrir diversos panos de muralha, por vezes na sua totalidade.

Com as remodelações destas habitações, é frequente descobrirem-se panos de muralha, que permitem não só confirmar a sua presença, mas também diversas ilações sobre técnicas construtivas medievais, cronologia da construção dos sistemas defensivos, entre outras.

No caso do Centro Histórico da Guarda embora possa existir uma pequena torre já nos finais do século XI, princípios o século XII, o grande projecto de construção de uma cintura de muralhas tem início após a outorgação do seu foral, prolongando-se por todo o século XIII.

Tratando-se de um património que é de todos nós, cabe-nos velar pela sua preservação e manutenção, para que as gerações vindouras possam também elas admirar grandes obras construtivas com 800 anos de História.

Por: Vítor Pereira

Sobre o autor

Leave a Reply