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Vereador do PS alerta para risco de «falência técnica» da Câmara da Covilhã

Novo empréstimo de 1,25 milhões de euros pode agravar dívida de 76 milhões de euros da autarquia, receia Miguel Nascimento

A maioria social-democrata na Câmara da Covilhã aprovou na última reunião do executivo a abertura do concurso para a contracção de um empréstimo bancário de 1,25 milhões de euros, apesar da oposição do único vereador socialista, que teme a «falência técnica» da autarquia a médio prazo dada a dívida actual de 76 milhões de euros. «Ao contrário do que muitas pessoas pensam, as Câmaras vão à falência técnica», alertou Miguel Nascimento, face ao 14º empréstimo proposto pela maioria laranja desde 1998.

«Não quero que a Câmara da Covilhã chegue a uma situação de falência em que para comprar um prego seja preciso autorização da administração central», exemplifica o vereador socialista. Pelas suas contas, «quem estiver na Câmara entre 2008 e 2014 não vai fazer outra coisa que não seja pagar este endividamento», avisa, estimando que o endividamento do município poderá «ultrapassar os 16 milhões de contos» com a dívida dos Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento (SMAS), montante agravado pela contracção deste empréstimo e «de outros» que poderão vir ainda a ser efectuados, segundo disse aos jornalistas no final da sessão. É que a Câmara apresenta hoje uma dívida de 15 milhões de contos enquanto que em 1998, «depois de uma gestão socialista», a dívida era «de 3,4 milhões de contos», recorda. E para comprovar a «evolução galopante» da dívida, Miguel Nascimento faz uma comparação com a população do concelho: «Em 1997 cada covilhanense devia 63 contos, em 2002 esse número subiu para 240 contos e em 2003 já é de 282 contos. Há um crescimento nominal de 347,6 por cento», garante. Para o único vereador da oposição. «isto não significa que a Câmara está para fechar portas como uma empresa, mas vai certamente reflectir-se nos próximos anos», já que o período de carência de muitos empréstimos está agora a terminar.

A situação é tão preocupante, segundo Nascimento, que nem a venda do património conseguirá saldar a dívida da Câmara, pois «não haverá tão depressa nenhuma retoma económica». De realçar que no relatório de actividades e conta de gerência de 2003 «apenas representou 0,9 por cento do estipulado no orçamento», especifica. Para o socialista, é preciso «ponderação» e «estabelecer prioridades de investimento», uma vez que, apesar da autarquia apresentar todos os anos o maior plano de actividades da Beira Interior, a taxa de execução é, na prática, «das mais baixas do distrito», sublinha, aludindo ao orçamento de 101 milhões de euros para 2003. «Esta é a taxa de execução mais baixa desta maioria desde 1998, onde apresenta 28,5 por cento de execução das grandes opções do plano e 36,92 em relação ao orçamento da despesa», exemplifica. Mas para a autarquia as coisas são diferentes. A dívida situa-se apenas nos 45 milhões de euros e 2003 é considerado o segundo melhor ano em termos de investimento. Já o empréstimo é um «direito legal» permitido pela Direcção-Geral das Autarquias Locais aos municípios que não se encontram em situação complicada, explica Carlos Pinto. É mais um recurso para investir em «várias obras», diz o autarca sem, no entanto, precisar quais. Uma obra que Miguel Nascimento reconhece de resto, alertando que o chumbo não quer dizer que o PS está contra o investimento, mas apenas «preocupado com a situação financeira extremamente grave» a que chegou a Câmara da Covilhã.

Liliana Correia

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