A Rádio Cova da Beira fez 20 anos. Do programa de comemorações destaco, por razões óbvias, a inauguração de um novo edifício com estúdios, redacção, zona administrativa e anfiteatro.
Rádios locais com 20 anos há muitas, mas quantas se podem orgulhar de ter novas instalações apetrechadas com a mais recente tecnologia? Quantas podem dizer que os seus funcionários – 10 neste caso – têm os vencimentos em dia? Quantas conseguem reunir na festa de aniversário gente de todos os quadrantes políticos e de vários municípios da região? Poucas, certamente. E o mais surpreendente é que estamos a falar de uma rádio sedeada num pequeno concelho do interior, o Fundão. Rádios instaladas em cidades com bastante mais população e um tecido empresarial mais forte estão a anos-luz desta realidade, lutando pela sobrevivência.
Evidentemente, nada disto acontece por acaso. A Rádio Cova Beira é um caso de sucesso porque os seus dirigentes souberam fazer dela uma rádio de todos. Na sede de concelho ou na freguesia mais recôndita, a RCB está lá para acompanhar o pulsar da região, dando voz às forças políticas, à sociedade civil e aos cidadãos.
Cientes do importante papel de uma rádio no meio onde se insere, os dirigentes da Rádio Cova da Beira souberam escapar ao engodo em que outros caíram quando se tornaram dependentes da autarquia. O país é fértil em exemplos de órgãos de comunicação que seguiram o caminho mais fácil, fazendo da publicidade e dos subsídios camarários a sua principal fonte de receitas. Tudo corre bem até ao dia em que o poder político apresenta a factura: é aí que acaba a isenção e com ela desaparece todo o prestígio granjeado. Fazer uma estação de rádio exige muita gente, muito sacrifício e muitos anos. Para destruí-la basta o pouco tempo que duas ou três pessoas demoram a tomar meia-dúzia de opções erradas.
Dirigir uma rádio não é difícil, mas é preciso gostar do meio. É preciso saber que as instalações e os equipamentos são importantes, mas por si só nada fazem. O que é verdadeiramente fundamental numa rádio são as pessoas: as que lá trabalham e as que ouvem. Uns e outros devem ser respeitados, apoiados e acarinhados por quem tem a missão de dirigir os destinos da rádio.
Cumprido um primeiro ciclo de descoberta e um segundo de apetrechamento técnico, as rádios locais entram agora numa fase crucial: ou se afirmam no panorama regional ou são engolidas pelas grandes estações nacionais. A sobrevivência passa por uma informação local forte e por uma programação que saiba juntar a experiência dos que viveram o ciclo da descoberta aos jovens que podem trazer novas ideias e novos conceitos para as rádios locais.
Por: João Canavilhas