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“Vender” cultura em tempos de crise

Os desafios recentes juntam-se aos de sempre, mostrando que, assim como o tempo, a cultura também não para. O INTERIOR falou com museus da região, antecipando o Dia Internacional dos Museus (sábado)

Um dos espaços que procura vida nova é o Museu da Guarda, que integra a Rede Museus no Centro da Direção Regional de Cultura do Centro (DRCC) e se tem “reinventado” na união entre as diferentes instituições. «O museu está a ser reorganizado, queremos chegar mais ao público», defende Artur Côrte-Real, diretor de Serviços dos Bens Culturais na DRCC. «Os museus têm de ser espaços vivos e não mortos, que foi o que encontrámos na Guarda», reitera. Para o responsável, a Rede de Museus é uma mais-valia, pois aproveita recursos materiais e humanos. «Queremos oferecer exposições atrativas e identitárias, como a dos barcos da Nazaré», informa. Artur Côrte-Real mostra-se otimista e garante «condições favoráveis» como preços mais baixos e horários alargados. Já Aida Rechena, diretora do museu desde setembro, destaca o protocolo com o Conservatório de Música da Guarda: «É bom para a promoção de ambas as partes, pelo que gostaríamos de continuar a parceria», adianta. O espaço recebeu 5.113 visitantes em 2012, menos do que um ano antes (6.966 visitantes), mas a diretora confia na estratégia desenvolvida para o Museu. Não obstante, caso as visitas fiquem abaixo do pretendido, «serão estudadas novas estratégias em conjunto com a DRCC».

Também o Museu do Côa (Vila Nova de Foz Côa) está a regressar à normalidade depois do Governo ter voltado atrás na extinção da Fundação Côa Parque. «Entre agosto e março, altura em que soubemos da continuidade, ficou tudo parado em termos de novas atividades», refere Fernando Real, presidente da Fundação, acrescentando que «criou instabilidade na equipa».

Inaugurado há dois anos, o Museu do Côa (inclui os núcleos de gravuras) somou 32.629 visitantes o ano passado, verificando-se uma quebra na ordem dos 30 por cento face a 2011 (46.397 visitantes). Segundo Fernando Real, a descida está relacionada com a crise, o fim da «curiosidade inicial» e a introdução de portagens nas ex-SCUT. «As pessoas privilegiam os bens de primeira necessidade, os museus ficam para segundo plano. Dependemos da evolução da economia», justifca. As apostas são a captação dos turistas que visitam o Douro, bem como ações com municípios adjacentes.

No Museu do Brinquedo e no da Eletricidade, em Seia, «as expetativas mantêm-se altas, até porque a região ajuda», diz Madalena Cunhal, diretora destes equipamentos. «As atividades estão sempre a decorrer e temos exposições temporárias e itinerantes», adianta. Após uma diminuição residual de visitas ao longo de 2012 – com o Museu do Brinquedo a ter cerca de 12 mil visitantes (menos 750 que em 2011) e o Museu da Eletricidade cerca de 5 mil (menos 800) –, os primeiros meses de 2013 foram positivos. «Queríamos manter o número de visitas mas conseguimos aumentar, sobretudo na Páscoa», salienta.

Já o Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta afirma-se como um «grande foco de atração a Gouveia pela qualidade das obras expostas, o que contribui para a notoriedade do espaço» graças a mestres como Vieira da Silva ou Júlio Resende, afirma o Gabinete de Comunicação da Câmara de Gouveia. As visitas aumentaram quatro por cento em 2012, ano em que 30 por cento dos 5.220 visitantes correspondem a grupos escolares. As ações regulares com escolas «são essenciais para a formação e desenvolvimento pessoal dos jovens que nos visitam», defende a autarquia.

A aposta no Museu do Queijo, em Peraboa (Covilhã), tem divulgado o nome da freguesia «além-fronteiras», considera José Curto, presidente da Junta, que enaltece o trabalho desenvolvido. A caminho dos 13 mil visitantes desde a abertura, há dois anos, o projeto tem «ultrapassado as expetativas», acrescenta. «Não temos quebra de visitas, vem aqui gente de todo o país e do estrangeiro, na maioria espanhóis e brasileiros», refere. Com atividades planeadas até agosto, o destaque vai para as parcerias estabelecidas com quintas pedagógicas.

A diferença é uma das imagens de marca do Museu Arqueológico do Fundão. Com cerca de 15 mil visitantes desde que abriu, em 2005, o espaço integra uma equipa de arqueologia que faz trabalho de campo. «As pessoas podem participar nas escavações ou assistir», indica o diretor João Rosa, realçando que «o museu vai sendo renovado com a ajuda de voluntários, sobretudo alunos». Quanto à crise, esse é um “posto” a que os museus estão habituados: «Os museólogos são exímios a gerir recursos. Nós não compartimos serviços e é assim que temos sobrevivido», afirma o diretor. Otimista, o responsável mostra-se satisfeito com os projetos da instituição, que já valeram alguns prémios nacionais.

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Agenda

Dia Internacional dos Museus é no sábado

Covilhã

O Museu de Lanifícios da UBI inspira-se no lema “Museus (memória+criatividade)” e acolhe várias atividades, como a aberta da mostra “Do desenho ao tecido: a arte do debuxo nos lanifícios”.

Gouveia

Os interessados podem visitar o Museu da Miniatura Automóvel e o Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta gratuitamente.

Guarda

O Museu da Guarda promove a tertúlia “Olhares sobre o Sagrado”, a partir das 15 horas.

A Câmara Municipal organiza uma visita guiada ao Museu de Tecelagem dos Meios.

Seia

O Museu do Pão oferece pão a todos os seus visitantes.

Vila Nova de Foz Côa

O Museu do Côa inaugura uma exposição sobre produtos típicos do Vale do Côa.

Sara Quelhas Ameaça de extinção da Fundação Côa Parque condicionou atividade do Museu do Côa

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