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Vem aí o “enterro da PLIE”?

Crítica construtiva

Quase sempre em nome de um subjectivo “interesse público”, as autarquias promovem a realização de obras que devem satisfazer as necessidades básicas dos seus munícipes. São, no entanto, comuns os casos em que essas obras se prolongam no tempo sem que sejam criadas as estruturas alternativas, gerando mais confusão e problemas do que a própria ausência do referido empreendimento. Noutros casos ficam prontos, mas a sua disponibilidade é adiada no tempo. Umas vezes porque não se pensou nos equipamentos ou no pessoal que tal obra necessitava, outras porque não foram feitos os respectivos acessos ou outras infra-estruturas de apoio. Aquilo que deveria ser um bom equipamento passou a ser mais um “cancro”. Assim, temos assistido nos últimos anos à proliferação, que nem cogumelos, de piscinas municipais, pavilhões desportivos, museus em meio rural, etc, etc.

Na realidade nem sempre é o interesse público que está por detrás desta actividade empreendedora do Poder Local. São antes os interesses privados a exercer o seu (legítimo) direito de investimento e iniciativa empresarial. O desenvolvimento económico e social do País precisa e passa pelo dinamismo que estes empresários demonstrarem. Mas o que realmente nos provoca alguns amargos de boca é pensar que os interesses públicos nem sempre são devidamente acautelados.

Queremos acreditar que os autarcas são pessoas de bem, mas também esperamos que sejam capazes de distinguir o que é o desenvolvimento local harmonioso, daquele outro que passa pela cedência às tentações dos grupos privados, que têm no lucro a única perspectiva do problema.

A Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial da Guarda (PLIE) está também ela a caminhar a passos largos para se transformar num enorme elefante branco. Os atrasos sucessivos retiraram-lhe a oportunidade e os empresários privados deixaram de nela ter interesse. As sucessivas confusões administrativas, legais e burocráticas e a ânsia de protagonismo (ou de lucro?) de uns quantos agravaram o estado de saúde do “doente”. A crise actual veio dar-lhe a machadada final: das 51 empresas interessadas que em 2005 eram referidas pelo então presidente da autarquia, foram recentemente e num autêntico acto de desespero, anunciadas apenas 3! Aquilo que deveria ser um projecto empresarial liderado pelos privados, ainda que apoiado (e bem) pelos poderes públicos, está em vias de se transformar num banal parque industrial público onde as ervas daninhas irão florescer. Uma herança pesada e moribunda, que o actual elenco autárquico ainda tentou salvar, fazendo aquilo que outros deveriam ter feito há anos, mesmo que à custa de mais endividamento que alguém terá que pagar: tarde de mais. Se o TMG este Carnaval “matou o galo”, no próximo ano fará o “enterro da PLIE”. Oxalá estejamos enganados.

Por: Constantino Rei

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