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Veiga Simão, o homem que democratizou o ensino em Portugal

Nascido na Guarda em 1929, o antigo ministro da Educação, da Indústria e Energia e da Defesa faleceu no passado sábado, em Lisboa, mas fica para a história por ter estabelecido, antes do 25 de abril, o direito à educação

Veiga Simão, antigo ministro da Educação e da Defesa, morreu no passado sábado em Lisboa vítima de doença prolongada. Nascido na Guarda em 1929 no seio de uma família oriunda de Prados (Celorico da Beira), o “pai” da reforma do ensino em Portugal tinha 85 anos.

José Veiga Simão licenciou-se em Ciências Físico-Químicas na Universidade de Coimbra, onde foi professor catedrático, e doutorou-se em Física Nuclear pela Universidade de Cambridge em 1957. Seis anos depois foi nomeado reitor da Universidade de Lourenço de Marques (atual Maputo), em Moçambique, cargo que desempenhou até 1970. Durante o governo de Marcello Caetano defendeu «a democratização do ensino» ao assumir a pasta da Educação Nacional, cargo que ocupou até ao 25 de abril de 1974. Nessa legislatura criou a Universidade de Aveiro (1973) e, sobretudo, implementou uma vasta reforma que permitiu lançar as bases para a generalização e democratização do ensino, estabelecendo o direito à educação, a igualdade de oportunidade e o acesso pelo mérito. Por outro lado, alargou a escolaridade obrigatória e gratuita para oito anos. Veiga Simão foi ainda embaixador de Portugal nas Nações Unidas (1974-1975) e, após a “Revolução dos Cravos”, foi eleito deputado pela Guarda e ministro da Indústria e Energia (1983) e da Defesa Nacional (1997).

Presidiu ainda ao Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial. Foi condecorado, entre outras, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1986), Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública (1991) e Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (1992). Visionário, em outubro de 2004, já defendia a constituição de um consórcio entre a UBI, o IPG e o Politécnico de Castelo Branco. A ideia foi lançada durante o VII Congresso Nacional de Estudantes de Economia e Gestão, realizado na UBI: «A Universidade da Beira Interior e os Politécnicos da Guarda e de Castelo Branco deveriam formar aquilo a que se chama de consórcios ou entidades federadas com uma certa personalidade jurídica para não haver duplicação de cursos, nem desperdício de dinheiro», defendeu.

Na altura, Veiga Simão coordenava o grupo de trabalho nomeado pelo Governo para reestruturar a rede de ensino superior em Portugal e disse acreditar que esta articulação entre as três instituições deveria ter sido uma aposta há vários anos para que «atingissem dimensões críticas de pessoal qualificado, investigação e desenvolvimento que lhes permitissem ter uma voz mais forte não só a nível nacional, mas europeu. Não sei porque ainda não fizeram isto», interrogou-se também. «O problema não é de integração, mas de articulação para evitar a multiplicação de cursos e racionalizar os custos», referiu ainda.

Luis Martins «A UBI e os Politécnicos da Guarda e de Castelo Branco deveriam formar aquilo a que se chama de consórcios ou entidades federadas», disse Veiga Simão em 2004

Comentários dos nossos leitores
José Pina zepina@ci.uc.pt
Comentário:
Foi ele que levou o ensino aos deserdados da sociedade. Depois muitos o copiaram, não pelos alunos, mas pelos votos que representavam! O ensino superior na Beira interior sofrerá do bairrismo e vistas curtas caraterísticas da Guarda
 

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