O Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) vai apostar nos turistas espanhóis. Além disso, está a ser avaliada a possibilidade dos cavalos Przewalski regressarem ao seu habitat natural. Duas novidades que acontecem sete anos após a classificação das gravuras rupestres como Património Mundial pela UNESCO, uma efeméride que começa a ser assinalada a partir de domingo.
Em Vila Nova de Foz Côa, muitos consideram que a opção pela barragem teria sido melhor para o desenvolvimento do concelho, mas outros já reconheceram o valor das gravuras do Côa. Para tal, contribuiu a aposta desenvolvida pela actual directora do PAVC, Alexandra Cerveira Lima, no cargo há pouco mais de um ano, que tem apostado na diversidade de actividades. Actualmente, estão a promover passeios dirigidos especialmente para as pessoas da região que nunca visitaram o Parque. «É também uma forma de aproveitar a época baixa e dar a conhecer a arte rupestre», refere Alexandra Cerveira Lima, para quem este é o caminho certo. O objectivo sempre foi cativar mais visitantes e inverter a tendência de queda dos últimos anos, «o que não tem sido fácil», confessa. Porém, tudo tem sido feito nesse sentido. Nomeadamente as visitas às gravuras em barco e durante a noite, lançadas no Verão, ou do Atelier de Arqueologia Instrumental, que tem funcionado como uma espécie de “isco” para atrair mais gente. Contudo, estas propostas estão suspensas e só deverão ser retomadas na próxima Primavera.
Em fase embrionária está já uma exposição «para levarmos a arte rupestre até Espanha», revela a directora. Uma iniciativa que vai começar pela vizinha Salamanca. O PAVC quer que venham mais espanhóis visitar as gravuras rupestres, para tal vai promover diversas acções durante o próximo ano. «É um pouco buscar a história, na altura em que o rio Côa era a fronteira», recorda Alexandra Cerveira Lima, admitindo que é preciso «criar laços com Espanha», o que será feito nos próximos dois anos. Entretanto os responsáveis do parque estão também «mais atentos» aos eventos e às feiras para divulgar o PAVC do outro lado da fronteira. Outro projecto, igualmente em fase de estudo, é a introdução no Vale do Côa de um grupo de cavalos Przewalski, a única espécie equina actual que reúne características primitivas, muitas das quais visíveis nas gravuras encontradas nesta região. Os cavalos são uma das figuras mais representadas pelo homem do Paleolítico no Vale do Côa. Aliás, o elevado número de desenhos de equídeos leva os investigadores a acreditarem que, durante o Paleolítico Superior, estes animais existiram em grande número na zona. Trata-se de animais possantes, curtos de pernas e com crina curta e erecta, características que se encontram nos Przewalski.
Przewalski regressa ao vale do Côa
«É um desejo antigo», admite Alexandra Cerveira Lima, adiantando que a introdução desta espécie tem «um duplo interesse» para o parque. Por um lado, o organismo participa na preservação de uma espécie em risco de extinção, por outro, dá aos visitantes a possibilidade de fazerem o paralelo entre as figuras desenhadas e os próprios animais. «Seria uma mais-valia, já que as pessoas poderiam observá-los “in loco”», refere. Para consolidar esta ideia, a bióloga Sónia Emídio avaliou o local durante um ano. No final, concluiu que o coberto vegetal, o clima e a topografia do Vale do Côa são favoráveis à introdução da espécie. O parque aguarda agora a visita da coordenadora internacional do projecto, que «poderá ocorrer em breve», adianta Alexandra Cerveira Lima. Caso a experiência se concretize, os cavalos andarão num regime de semi-liberdade no Parque do Côa, numa área cercada de seis a oito hectares. «O que é uma dificuldade», alerta a directora, uma vez que o parque ainda não tem competência sobre o território. Mas também porque os terrenos de que dispõe estão ocupados pelos núcleos de arte rupestre. A solução passará então pela parceria com a Associação de Transumância e Natureza, uma colectividade com sede em Miranda do Douro, que trabalha na área da conservação da natureza e que possui terrenos junto ao Parque do Côa. «Se tivermos o aval positivo da especialista e o apoio da associação, o projecto poderá ser uma realidade a médio prazo», espera Alexandra Cerveira Lima.
Arte Rupestre em festa
As gravuras rupestres foram classificadas como Património Mundial pela UNESCO há sete anos, no dia 2 de Dezembro. Para comemorar o aniversário, o Parque Arqueológico do Vale do Côa promove um conjunto de actividades, que têm início no domingo e se prolongam até à próxima sexta-feira. Assim, no dia 27, é criado um espaço para comunicar, que «é uma espécie de oficina aberta ao público», explica a directora, e que conta com a participação de vários artistas da região. Durante a semana esse atelier vai até às escolas «para que os alunos contactem com arte», com diferentes técnicas e materiais. No dia 1, a Câmara de Foz Côa apresenta um espectáculo de música, no âmbito destas comemorações. No dia seguinte realiza-se a sessão solene, marcada pela apresentação de um novo circuito a sítios do Paleolítico que deverá estar disponível ao público no final de Janeiro.
Patrícia Correia
