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Vaca do Jarmelo com futuro garantido

Raça bovina do concelho da Guarda já está certificada, o desafio é agora atingir os 300 exemplares em 2013

A vaca jarmelista já é uma raça certificada. Um estudo feito pela Direcção-Geral de Veterinária (DGV), divulgado na Guarda no último sábado, não deixa margem para dúvidas e afasta de vez os rumores de que não seria uma raça autóctone, mas sim uma subespécie da mirandesa. Tendo sido identificados cerca de 30 animais que correram risco de extinção, a ambição dos autores do estudo é conseguir ter 10 vezes mais em 2013.

O estudo foi apresentado na sede da Associação de Criadores de Ruminantes do Concelho da Guarda (Acriguarda), entidade que vai gerir o registo zootécnico da jarmelista, perante cerca de uma dezena de criadores que receberam um “prémio” monetário em forma de «reconhecimento» pelo seu esforço em tentarem preservar estas vacas. O método utilizado para a análise foi «científico e objectivo», em vez de só se ter recorrido à apreciação visual, que «pode ser ambígua», disse Fátima Sobral. Perante os resultados obtidos, a veterinária da DGV garantiu que «hoje temos a certeza que é diferente das outras vacas e que só existe aqui», destacando a «separação notória» quando comparada com a mirandesa. De resto, explicou que «a população bovina jarmelista formou um grupo distinto das restantes raças», tendo revelado características morfológicas «diferentes». No entanto, é necessário prosseguir com o trabalho efectuado, de modo a reforçar o resultado deste estudo morfológico com uma análise genética. O que ainda não é possível realizar com os perto de 30 animais estudados, que constituem «pouca população para permitir a validação dos resultados», justificou.

Já Mário Costa, igualmente da DGV, enalteceu que este é um «caso feliz que acaba bem», relembrando os muitos anos de luta e de perseverança dos produtores e dos vários presidentes de Junta de uma freguesia situada a poucos quilómetros da Guarda, que nunca desistiram de realizar a Feira Concurso dedicada à vaca jarmelista. O técnico lançou depois um desafio a todos os que encheram a sala: «O futuro é o que nós quisermos. Temos uma população diminuta e daí termos que fazer um esforço suplementar para ver se aumenta. No final de mais um Quadro Comunitário de Apoio, em 2013, gostaríamos de ter umas 200 a 300 fêmeas dispersas por 50 a 60 agricultores», realçou. Deste modo, «há que apostar na difusão do efectivo actual», através da inseminação artificial e transferência embrionária, o que permitirá obter «matéria-prima para uma fileira de produtos de qualidade», reforçou. Visivelmente satisfeito e emocionado com a certificação da raça jarmelista pelo Governo, que passou a ser a única autóctone no distrito da Guarda, ficou o presidente da Acriguarda.

António Louro afirmou ser este um «marco histórico» que coloca termo a um processo «penoso e difícil», assegurando ainda que a entidade a que preside está «devidamente preparada com os recursos humanos e técnicos para ir para a frente com este projecto». Já Rui Moreira, responsável pela Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC), salientou o facto de ter ficado «cientificamente provado» que a jarmelista é uma «raça diferente das outras». E considerou a apresentação do estudo «uma festa do querer, da vontade e da persistência, em especial de quem lida diariamente com as vacas». Por último, Vergílio Bento, vice-presidente da Câmara da Guarda, considerou a certificação da raça jarmelista um acto com um «valor simbólico de extrema importância».

Ricardo Cordeiro

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