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Utopia ou ingenuidade?…

Entrementes

Tenho para mim, contrariamente à opinião expressa pelo agora primeiro magistrado da nação em tempos idos, que, parafraseando o chavão jornalístico, “ler jornais é saber mais”. Apesar deste meu convencimento, durante os últimos dias não os li. Nem ouvi nem vi noticiários. Estou portanto a leste de tudo o que se passou neste jardim em tempo de primavera. Tal não me impede, todavia, de querer saber. Imagino-me já a olhar para a mesinha de cabeceira e a escolher, de entre a resma de periódicos empilhados a esmo, qual o primeiro a ler. Imagino que, voltando a tempos de meninice, o escolherei recorrendo ao “um-do-li-tá (…) quem está livre, livre está!…”.

Eis então os títulos que me imagino a ler e que convosco, pacientes leitores, partilho:

Corrupção é levada ao banco dos réus em processos sumaríssimos que julgam em tempo recorde e punem sem olhar à cor do sangue ou outras;

Governo assina documento de honra e compromete-se a defender o país da colonização económica e cultural dos tubarões que nos apoquentam (e nos apoucam) estes dias;

Futuro dos portugueses está garantido através da criação de centenas de milhares de postos de emprego;

Presidente da República afirma perentoriamente que não é um jarrão em cima da mesa e assume-se interventivo na defesa dos mais necessitados;

Dinossauros autárquicos definitivamente impedidos de se eternizarem no poder;

Autarca modelo de Oeiras assume agora também a postura de recluso modelo na Carregueira exigindo ser tratado como um entre iguais;

Ministro da Educação faz inversão de marcha e retoma as ideias humanistas de um ensino público de qualidade garantido a todos e em todos os recantos do território;

Primeiro-ministro anuncia medidas de discriminação positiva para o interior, nomeadamente o fim das portagens nas ex-SCUT e a redução dos custos com o gás natural e a electricidade;

Ministro da Saúde garante que nem um doente será deficientemente acompanhado devido a dificuldades financeiras que condicionem a realização de exames de disgnóstico apropriados a cada caso;

Vítor Gaspar anuncia ter recebido um convite do estrangeiro para dirigir uma multinacional de não-sei-quê, convite esse que aceitou sem pestanejar sequer;

Álvaro Santos Pereira segue-lhe os passos e emigra para um país de sossego maior que este e onde a sua sapiente ciência seja reconhecida;

Paulo Portas espirra e provoca surto de gripe no Governo que anuncia retiro para um regime de quarentena, digamos, estratégica;

António José Seguro mostra, preto no branco, as ideias que, ele e os seus, têm para tirar o País do pântano (parece que a primeira é a aquisição de uma draga de forma a proceder ao seu arroteio…);

Benfica enche de felicidade António Mexia e vence no Porto garantindo o título nacional e, portanto, a amenização dos dias conturbados do país.

Bem, fiquemos por aqui que os desejos são já muitos e, a avaliar por este último, se o grau de concretização for semelhante, estamos conversados…

Por: Norberto Gonçalves

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