Arquivo

Utilizador-pagador também na Saúde

Manuel Antunes acha que quem pode trocar de carro de quatro em quatro anos, também pode pagar parte dos tratamentos

O cirurgião Manuel Antunes sugeriu, na Guarda, a introdução do sistema do utilizador-pagador no Serviço Nacional de Saúde. O médico defendeu o fim da gratuitidade do SNS durante a última conferência do ciclo “Saúde Sem Fronteiras”, promovido no último ano pelo Centro de Estudos Ibéricos (CEI) e as Universidades de Coimbra e Salamanca, dedicada à “Gestão da Saúde e da Doença”.

«Quem não hesita em trocar de carro de quatro em quatro anos ou comprar um telemóvel de última geração para oferecer aos filhos pode e deve pagar uma parte dos tratamentos», considerou, alegando que os utentes «não dão valor àquilo que não pagam e cujos custos desconhecem». Admitindo excepções para quem não possa «de todo» pagar, Manuel Antunes acha que se deve estabelecer um «contributo razoável» para a maioria dos cidadãos. «É ridículo que, no século XXI, as pessoas paguem 3 euros por uma consulta, isso é o preço de um café num restaurante mais sofisticado. Por que não pagarem 10 euros? Não virá daí nenhum mal ao mundo», sustentou. O professor, responsável pela unidade de cirurgia cardiotoráxica dos Hospitais Universitários de Coimbra, estranhou por outro lado que muita gente «abomine» o facto das taxas moderadoras poderem ser financiadoras. E garante que se todos pagarem o «preço certo» da saúde se combaterá o desperdício e haverá mais qualidade. “Será dinheiro adicional para aplicar no aumento da quantidade dos serviços, para que não haja listas de espera, e da qualidade, para que os tratamentos sejam adequados», disse, acreditando que os portugueses estão preparados para pagar.

«Naturalmente que aceitarão desde que lhes seja bem explicado e que vejam que é no seu próprio interesse», afiança.

Manuel Antunes disse ainda que é a «desconfiança» que está a marcar o relacionamento entre paciente e médico. «Os doentes são cada vez mais conhecedores de aspectos técnicos da doença e já se apercebem quando as coisas não correram bem ou podiam ter sido mais bem feitas», considerou. Mas também que os cidadãos «não se sabem comportar na saúde e na doença», pois, como sabem que são o centro do sistema, aproveitam-se disso. «Devem tomar cuidado na sua própria saúde, nomeadamente na adopção de estilos de saúde responsáveis e adequados, de modo a não ter que cair na doença. E quando atingirem essa segunda fase, têm a obrigação de não só respeitarem as obrigações que lhes são dadas, porque, de uma maneira geral, os profissionais de saúde não têm outros interesses que não sejam a melhoria dos doentes», sustentou. O especialista defendeu igualmente o alargamento das visitas hospitalares. No final, Vergílio Bento, coordenador do CEI, anunciou que as intervenções dos 24 especialistas que participaram neste ciclo vão ser futuramente publicadas.

Luis Martins

Sobre o autor

Leave a Reply