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Urgências

Menos que Zero

Com base no parecer da Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgências, o Ministério da Saúde preparava-se para encerrar 15 serviços de urgência, quando a contestação popular se iniciou. Manifestações, buzinões e cortes de estrada, passaram a dominar os serviços informativos.

Desconheço o parecer da Comissão, embora suponha que a sua proposta esteja tecnicamente correcta. O problema é que estes senhores produzem os seus relatórios na perspectiva de quem está comodamente instalado no Terreiro do Paço, esquecendo que o Estado tem responsabilidades no combate às assimetrias regionais.

Com a população em protesto nas ruas, o Governo deve ter percebido que a solução da Comissão podia ser tecnicamente boa, mas eleitoralmente má, e toca a recuar, chamando os autarcas para uma reunião. E foi assim que o Hospital do Fundão, só para referir a situação mais próxima, manteve as urgências, sendo apenas reduzido o seu período de funcionamento. Em compensação, o hospital vai receber novas viaturas de transporte de doentes e aumentar o número de camas num dos seus serviços de referência nacional, os cuidados paliativos.

Parece-me uma situação muito equilibrada e, supondo que no resto do país terão sido propostas soluções idênticas, deixa todas as partes satisfeitas.

O mais patético de tudo isto foi a reacção de alguns políticos da oposição: “o Governo recuou”, diziam em tom crítico. Quer dizer, se o Ministério mantém as opções iniciais é porque não dialoga, se aceita as sugestões é porque recua. Não há pachorra para oposições estilo Zapatista.

O bom funcionamento das democracias passa por oposições fortes, mas Oposição não significa estar sempre contra: se as opções do Governo estão correctas, é preciso ter a coragem de dizer isso mesmo. Pobre das democracias onde o Governo menospreza sistematicamente a Oposição ou onde a Oposição apenas critica o Governo.

Por: João Canavilhas

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