Aos vários processos de luta, os trabalhadores, sejam enfermeiros, estivadores, motoristas ou de outras profissões, lutam pela defesa dos seus elementares direitos, estes adquiridos pelas gerações passadas e atuais, constituindo um legado para o presente e futuro. Os que apregoam o pragmatismo disfuncional no mundo do trabalho sejam eles mesmos as cobaias deste capitalismo selvagem, o que assistimos é o contrário, esses senhores servem o capital e são bem remunerados, os chamados fazedores de opinião.
A realidade é bem diferente e exige a solidariedade de todos.
Os enfermeiros lutam pela dignidade profissional na base de uma remuneração justa face às suas qualificações e sobretudo às suas responsabilidades perante os utentes. Quando lutam pela defesa das dotações seguras, estas prendem-se com a segurança dos cuidados às populações.
Há muitas instituições privadas que não salvaguardam os rácios mínimos de segurança nos cuidados de saúde aos seus utentes. Os modelos são transversais a outros processos em curso, não podemos e nem devemos esquecer a luta travada na agência noticiosa Lusa, com o governo a por fim ao contrato de serviço público e a anunciar um corte de 31% no seu orçamento. Esta situação deveria ser motivo de apreensão de todos os que se preocupam com a qualidade e a pluralidade da informação que é veiculada nos órgãos de comunicação social. Mais há também o processo de privatização da RTP e a extinção das suas delegações regionais.
Em ambos os casos estão em causa postos de trabalho, mas sobretudo um serviço público que é necessário preservar, em particular nas zonas do país mais distantes da capital e onde o “negócio” noticioso é menos apelativo para os grandes grupos que dominam a comunicação social e determinam os conteúdos em função dos seus interesses económicos.
Sem um serviço noticioso público e descentralizado, com a preocupação de cobertura total do país, o interior sofrerá mais um empurrão para o isolamento e para a desertificação, apenas sendo notícia aquando da visita de um qualquer ministro, secretário de Estado ou presidente e ainda assim como mera paisagem de enquadramento para alguns figurinos de apoio aos figurões.
A luta dos trabalhadores e das populações muitas vezes não passa no “crivo” e branqueiam a opinião pública dando a sensação que por cá não se passa nada.
A notícia com origem nas aldeias, vilas e cidades do interior deixará de ter visibilidade nacional acentuando-se as diferenças entre o litoral sobrepovoado e o interior subpovoado.
Todos nos iremos ressentir com a centralização, em Lisboa e no Porto, do serviço prestado pela Lusa. Dos agentes económicos às autarquias locais, dos agentes desportivos aos fazedores de cultura.
Mas porquê esta súbita fúria governativa sobre a agência Lusa? As razões de ordem financeira estão afastadas considerando que apresenta resultados positivos há vários anos e que nos últimos dois até se deu ao luxo de distribuir dividendos.
Muitos vislumbram que por detrás destas decisões estará o afastamento de dezenas de trabalhadores e o encerramento de delegações com vista a um melhor controlo e manipulação dos conteúdos a serem distribuídos. É nosso dever lutar pela defesa dos correspondentes no interior, na defesa da delegação da RTP na Guarda. A RTP está a contactar jornalistas delegados-correspondentes, especialmente da rádio pública, em capitais de distrito, visando o encerramento das delegações. Não basta referir que passam por cá, temos que os ter cá, como as rádios e jornais locais. A asfixia tem um processo. No privado proliferam os despedimentos: “Público”, grupo Media Capital, “Altitude”, “Rádio Star”, entre outros. A redução de efetivos, a precariedade profissional e o desinvestimento leva à degradação e conduz a um caminho de definhamento ou mesma da sobrevivência das empresas. Muitas vezes discutimos a falta de um caminho de investigação jornalística, pois importa expor as razões do referido desinvestimento em meios e recursos humanos. As consequências são uma efetiva perda de rigor, de qualidade e de fiabilidade, que terá como consequência, numa espiral recessiva de cidadania, a desinformação da sociedade, a falta de exigência cívica e um enfraquecimento da democracia.
No fundo é apenas mais um passo na intensa ofensiva ideológica levada a cabo pelo governo com a conivência da “troika”, tendo em vista o desmantelamento do regime democrático nascido da revolução de Abril.
Estas medidas inserem-se no mesmo pacote de todas as outras que visam diminuir a qualidade da democracia até ao ponto de a tornar irrelevante. O medo está instalado, este foi instigado de forma subtil. Depois admiram-se que MEDO seja um estado de vivência. Temos que lutar contra o MEDO, não de forma abstrata mas concreta, lutando contra as suas causas.
Por: Honorato Robalo
* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP