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UMO 2ª parte

Coisas…

Na sequência de toda a propaganda feita à volta da Unidade Móvel de Oftalmologia (UMO), procurei satisfazer a minha curiosidade relativamente a alguma polémica que tem rodeado a iniciativa, junto de quem achei estar mais bem colocado para me esclarecer: os meus colegas oftalmologistas. Confesso que fiquei preocupado.

Como quer o coordenador da unidade, quer o director do serviço se encontravam de férias quando a viatura saiu pela 1ª vez para a rua, nenhum deles foi capaz de me explicar a orgânica ou os critérios da sua utilização. Quando confrontados com as notícias dos jornais e as explicações fornecidas pelos responsáveis do hospital acerca das vantagens da utilização de uma unidade deste tipo, todos se mostraram alheados do facto, encolhendo os ombros e exprimindo uma distância que me levou a questioná-los sobre diversos aspectos da coisa. Eu explico.

Segundo as palavras do director clínico do hospital, a viatura da UMO permite diagnosticar certo tipo de doenças oftalmológicas em pessoas idosas que, sem tratamento, levariam irreversivelmente à cegueira. Pergunta-se: por que razão, então, na foto publicada no jornal “Nova Guarda”, a acompanhar a notícia, se podia ver claramente a Dra. Ana Manso a ser observada pela técnica de serviço? Mais dúvidas: o conceito da expressão “diagnóstico médico” não implica uma prerrogativa (e responsabilidade) exclusiva dos médicos? Como pode ele ser então aplicado a uma técnica que não é médica? E ainda: se a lista de espera para patologia dessa natureza no serviço de oftalmologia ultrapassa os 9 meses (maioritariamente constituída por doentes enviados pelos seus médicos de família), que expectativas poderão ter estes doentes “rastreados” pela técnica, de ser observados e tratados por um médico especialista em tempo útil? Mais: sendo cirúrgica a solução na maioria dos casos e tendo o serviço de oftalmologia uma lista de espera de mais de 1 ano para este tipo de cirurgia, como se resolverá o problema do enorme aumento de doentes que o rastreio móvel não vai deixar de implicar?

Confesso a minha desilusão ao não obter respostas para nenhuma destas dúvidas nas conversas que mantive com os meus colegas oftalmologistas. Nenhum deles faz a mínima ideia de que forma serão integrados no serviço estes novos doentes, com “diagnósticos optométricos” e não médicos e que, por esse motivo, terão de ser novamente avaliados tornando inútil o trabalho feito na UMO. Pergunta-se: irão estes doentes para o fim da lista de espera? E constituirá isso motivo para notícia de jornal com entrevista à senhora directora?

Como de burro tenho pouco e de catarata ainda não padeço, consegui perceber a natureza da inauguração da UMO em pleno Agosto. Juntando a isto o anúncio de mais uma série de grandes feitos por parte da senhora presidente do conselho de administração, a já referida foto da “idosa” Dra. Ana Manso a ver espreitada a sua catarata e a sua gloriosa vitória nas eleições para a distrital do partido, foi fácil somar dois e dois.

Eu, sinceramente, não tenho nada contra o facto de que tentem deitar-me areia para os olhos. A única coisa que me irrita é que não me avisem antes.

Por: António Matos Godinho

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