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«Uma UBI mais forte significa uma região mais forte e mais desenvolvida»

João Queiroz, novo reitor da Universidade da Beira Interior, assume que a grande marca do seu mandato, em termos de ensino, será a passagem do modelo que vigora actualmente em Medicina aos outros cursos

P – Em relação ao financiamento do ensino superior, já defendeu que o actual modelo deve ser repensado. Que alternativa sugere?

R – De uma maneira geral acho que deve haver maior diversificação das fontes de financiamento das universidades. Sou muito a favor da existência de contratos-programa com o Governo para determinadas tarefas e acho que deveria financiar um pouco mais as universidades desta forma. Por outro lado, temos que diversificar as receitas da universidade, quer através de novos contratos de ensino ou de novos contratos de investigação com empresas ou projectos europeus, de forma a obtermos um número significativamente maior de fontes de financiamento.

P – Recorrer ao mecenato poderá ser uma hipótese?

R – É uma hipótese, mas não há muito essa tradição. Neste caso, penso que projectos comuns entre a universidade ou algumas faculdades com empresas com objectivos comuns parece-me bastante mais adequado e real.

P – Da maneira como está actualmente, o ensino superior em Portugal é viável por muito mais tempo com o financiamento que o Estado está a conceder?

R – Provavelmente ainda não é a altura ideal para poder dizer preto no branco se é ou se não é. Agora, é um facto que as dificuldades para fazer face às despesas que tem são enormes na universidade.

P – Como classifica esta situação de haver menos verbas para o ensino superior?

R – Como já disse, não conheço a situação concreta da universidade neste momento, mas parece-me que tem que haver diversas fontes de financiamento. Tem que haver verbas de base de funcionamento das universidades e isso tem de ser repensado até do ponto de vista político. Tem que haver verbas para as universidades funcionarem bem e normalmente e essas têm de ser dadas pelo Governo. Depois será necessária uma série de outros contratos-programa alternativos e parcerias com o mundo exterior que permitam à universidade ter um poder financeiro bastante maior.

P – Esta realidade é compatível com a ideia de que a competitividade e a qualificação dos portugueses é essencial para o futuro do país, como José Sócrates defende?

R – Acho que as universidades têm desafios cada vez maiores e um deles é, de facto, a competitividade a nível regional, nacional e até internacional, quer ao nível do ensino, quer ao nível da investigação. Parece-me que no mundo global em que vivemos, quanto maior capacidade instalada de competitividade a nível internacional conseguirmos ter, maior é a nossa capacidade para enfrentar os desafios da melhor forma. Portanto, não é provavelmente a altura ideal para termos um sub-financiamento das universidades, que me parece ser uma realidade. É antes altura para repensar essa forma de financiamento e para termos formas de ir buscar outros financiamentos.

P – É possível fazer mais com menos dinheiro?

R – É possível fazer mais, mas com menos dinheiro acho que já não o é. Viver com menos dinheiro do que aquele com que as universidades vivem não me parece possível, mas parece-me possível fazer bastante mais.

P – Passar a UBI a fundação poderá ser uma hipótese para o futuro?

R – Num futuro próximo não. Não me parece que a conjuntura, as circunstâncias actuais, a região onde se insere e o número de alunos e de projectos permitam, a curto prazo, que a UBI passe a fundação.

P – O seu mandato vai ficar marcado pelo alargamento do modelo de gestão e funcionamento do curso implantado na Faculdade de Medicina?

R – O meu mandato vai ficar fundamentalmente marcado na questão da gestão e da formação pelo novo regime jurídico. Há uma nova forma de funcionamento das unidades orgânicas e entre o reitor, as várias unidades orgânicas e as várias faculdades com o resto da universidade. O meu relacionamento com todas as faculdades vai ser feito de igual forma. Aquilo que gostaria que acontecesse é que algumas das boas práticas – e porque referiu a Faculdade de Medicina – que ali foram reconhecidas a nível nacional, e até internacional, sejam aplicadas a toda a universidade.

P – Qual será a sua primeira medida enquanto reitor?

R – Há várias. Têm a ver com as novas unidades orgânicas, com a nomeação do administrador e a organização da nova equipa reitoral. Queria que a primeira grande medida com reflexos a médio e longo prazo fosse a implementação de uma cultura de qualidade, não só no ensino e na investigação, mas também nas pessoas. Importante vai ser também a criação de um gabinete de qualidade.

P – Já tem ideia de que equipa o irá acompanhar?

R – Tenho a noção do perfil das pessoas que queria que me acompanhassem e de quais são os pelouros, ou seja, as tarefas, que vou atribuir. Estou a falar com algumas pessoas e vou continuar a fazê-lo, mas seguramente que os pelouros dos vice-reitores ou dos pró-reitores que nomear terão a ver com os tópicos que abordei no meu programa de acção e também durante a audição pública. Isto é, o ensino, a investigação, que é extremamente importante, a qualidade ou a internacionalização.

P – Teve três adversários nas eleições. Pondera convidar algum para fazer parte da sua equipa?

R – Isso não me parece lógico. Parece-me lógico ouvi-los, já ouvi um deles e tenciono ouvir os restantes porque todas as opiniões são válidas. Os quatro projectos tinham alguns pontos comuns, mas os objectivos e medidas de acção eram ligeiramente diferentes.

P – O que pretende fazer para conseguir uma maior internacionalização?

R – A primeira medida será criar um gabinete internacional de apoio à internacionalização da UBI, que vai ser coordenado por um professor com experiência e terá enfoque especial no ensino e na investigação. Queremos fortalecer os nossos pontos fortes e tentar cooperar internacionalmente com outras instituições de forma a melhorar os pontos onde somos menos fortes. Vamos definir uma estratégia para a internacionalização e, nesse sentido, haverá um debate interno para falar dessa matéria. Temos uma série de objectivos estratégicos para serem definidos e depois há um plano de acção a delinear para alcançar esses objectivos.

P – Na sua apresentação disse que havia um grupo reduzido de professores a fazer investigação na UBI. Isso quer dizer que têm pouco tempo para fazer investigação por causa das aulas ou não estão muito para aí sensibilizados?

R – O que disse foi que o corpo docente com doutoramento na UBI é relativamente interessante, mas, por uma ou outra razão, alguns deles ainda não conseguiram mostrar de uma forma objectiva a investigação que têm vindo a desenvolver. De facto, os números em termos de investigação e de publicações internacionalmente reconhecidas não são muito favoráveis na UBI. Contudo, há um número de professores que têm um impacto relativamente grande em publicações científicas e de investigação lá fora, mas há outro grupo que ainda não chegou a essa fase. O que queremos fazer, além de um levantamento da situação de todos os professores em termos de investigação na UBI, é criar dois prémios. Um de mérito para aqueles que já publicam e que demonstraram qualidade e outro de incentivo à investigação, que pretende dar oportunidade aqueles que ainda não a tiveram, mas que são bons e não temos nada para pensar o contrário. Ou seja, criar uma forma de os financiar para eles terem a possibilidade de arrancarem e serem competitivos a nível nacional e internacional.

P – Santos Silva tem afirmado que a UBI está consolidada em termos de qualidade de ensino. Qual é a etapa que se inicia com João Queiroz na Reitoria?

R – Em termos de ensino, penso que o grande emblema será a passagem do modelo que está neste momento em vigor no curso de Medicina, em termos pedagógicos e de ensino centrado no aluno, para outras áreas na universidade.

P – Quais são as áreas de futuro da UBI?

R – Neste momento, a UBI tem que consolidar as áreas que existem e vamos apostar nessa consolidação. Não temos margem para crescer muito mais. A curto prazo não vamos crescer e vamos consolidar todas as áreas que estão neste momento em vigor na universidade.

P – Em termos de infraestruturas, acha necessária a construção de outra residência de estudantes junto à Faculdade de Medicina?

R – Neste momento não tenho dados para poder dizer isso. A única coisa que posso afirmar é que na UBI o número de bolseiros é relativamente elevado e as necessidades são bastante grandes em termos do apoio social. É um assunto a estudar.

P – O que acha de uma ligação mais intensa aos Politécnicos da região?

R – É uma pergunta difícil de responder directamente. Obviamente que não fecho as portas a uma possibilidade de cooperação ou a uma ligação mais intensa. Penso que temos de equacionar até em termos de economia de escala que há determinadas áreas em que uma cooperação poderia ser extremamente importante para a universidade, mas também para os Politécnicos. Portanto, nos casos em que isso acontecer, parece-me positivo, até porque sou bastante defensor da integração, por exemplo, na área da Saúde na integração dos vários hospitais no mesmo Centro Hospitalar. Enquanto presidente da Faculdade de Ciências da Saúde defendi essa posição, até porque me parecia que era a melhor forma de prestar melhores cuidados de saúde às populações. No caso do ensino superior, penso que há algumas acções que se podem concretizar no sentido de todos saírem beneficiados. Mas não é uma prioridade neste momento.

P – Nesse sentido, admite a hipótese de integração dos Politécnicos da Guarda e de Castelo Branco na UBI com forma de reunirem mais meios e de serem mais concorrenciais, ou é uma possibilidade totalmente fora de contexto?

R – Neste momento, nem digo que admito a hipótese nem que está completamente fora de contexto. Acho que uma possibilidade como essa tem que ter uma vontade política muito grande e só depois disso é que será uma hipótese a avaliar.

P – O que é que a Guarda pode ganhar com João Queiroz na Reitoria?

R – Espero que não ganhe a Guarda, mas toda a região da Beira Interior, porque uma UBI mais forte significa uma região mais forte e mais desenvolvida e, portanto, não seria só a Guarda a ganhar. Seria também Castelo Branco e a Covilhã. Assim, se a UBI conseguir ser mais forte acho que todos ficamos a ganhar.

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        mais forte e mais desenvolvida»

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