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Uma Questão de Atitude

Quando se vê a triste figura da nossa selecção contra a Alemanha (e logo a Alemanha!) tem de haver, como em todas as derrotas, a procura de uma explicação. Como ninguém gosta de assumir responsabilidades próprias o primeiro alvo é sempre o árbitro e o segundo, na mesma linha de raciocínio, o treinador. Logo a seguir vêm os jogadores, a sorte, na sua versão mais ingrata, e depois os imponderáveis, o destino e o ridículo penteado do Raúl Meireles.

Mas há também a nossa culpa colectiva: a forma como valorizamos a esperteza em detrimento da inteligência, os truques em vez da precisão e do rigor, a procura dos atalhos que nos poupem ao trabalho quotidiano, duro e repetitivo, ou a forma como tentamos obter através de um golpe de sorte, caído do céu, a solução para os nossos problemas. Não é só no futebol que nos atiramos ao chão a tentar o penálti: somos um país com demasiadas baixas fraudulentas, testemunhas falsas, políticos aldrabões, caloteiros. Há poucos, como o Ronaldo, que aceitem ir jogar (ou trabalhar) doentes, que continuem a dar o seu melhor em qualquer circunstância ou que se não desculpem com os outros quando algo corre mal. Ficámos gordos, dependentes e alcoólicos, perdemos-nos em inúmeros outros vícios e a tendência é só para piorar. Os nossos níveis de literacia são vergonhosos, a nossa produtividade é baixa e tudo é inversamente proporcional aos direitos que nos atribuímos.

Se pensarmos bem no assunto, só uma nação que deixou de se respeitar se atreve a apresentar Cavaco como presidente, Passos Coelho como primeiro-ministro ou Seguro como líder da oposição. E se pensarmos ainda melhor ainda vamos concluir que nem merecemos a selecção de futebol que temos e que esta, mesmo com os erros crassos que cometeu contra a Alemanha, como a estúpida expulsão do Pepe e as falhas de concentração que estiveram por detrás dos golos, ainda vale mais do que seria de esperar. Mas mesmo isto vamos perder, já que os clubes não investem em jogadores portugueses e o país está a fazer tudo para perder os seus jovens.

Por: António Ferreira

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